A Invisibilidade Social da Mulher Negra

Por *Roseli de Oliveira Barbosa

No Julho das Pretas, mês em que se comemora o dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha é fundamental refletirmos a respeito das nossas lutas e resistência, enquanto mulher negra, frente às estruturas de poder que dificultam a nossa ascensão e ocupação dos espaços essenciais para a transformação social da nossa realidade.

Não podemos falar sobre os desafios contemporâneos enfrentados pelas mulheres negras, dissociados do processo de formação da sociedade brasileira,a qual se deu em um contexto de desumanização e exploração da população negra por meio da mão de obra escrava e mesmo após a suposta “libertação” a partir da assinatura da Lei Áurea, os nossos direitos seguiram sendo negados quando a nós não foi dada nenhuma possibilidade que permitisse construir uma realidade justa e igualitária a partir daquele momento.

A pirâmide social brasileira é em tese formada pelo homem branco, seguido da mulher branca, o homem negro e na base encontra-se a mulher negra. Ao observar essa realidade é perceptível que nós mulheres negras somos o grupo que mais sofre os impactos sociais ocasionados por uma estrutura de poder que é patriarcal, elitista, machista,misógina, racista e que atua na perspectiva de manter em curso as desigualdades sociais, de gênero e principalmente a desigualdade racial.

Ao longo da história as mulheres alcançaram através das suas lutas, importantes conquistas de direitos. Entretanto, vale lembrar que a abrangência desses direitos nem sempre englobaram todas as mulheres de forma unanime, sobretudo, em razão do marcador racial e de classe ainda presente na sociedade. O debate que envolve as demandas referentes às mulheres precisa ocorrer a partir de uma perspectiva interseccional que leve em consideração as especificidades peculiares de cada grupo de mulheres. Isso possibilita, por exemplo, que ao criar políticas públicas de atenção à mulher, sejam levadas em consideração as necessidades relacionadas às mulheres negras, que na maioria das vezes são diferentes das necessidades que envolvem as mulheres não negras.

No Brasil, ainda somos um grupo minoritário ocupando espaços na esfera política, se isso ocorre quem está discutindo as nossas pautas? Quais são os projetos que estão sendo criados a fim de atender as nossas necessidades? Alguém está falando por nós e certamente esse alguém não conhece as nossas dores porque nunca as sentiu. As mulheres negras precisam falar por si, precisamos ter espaços garantidos para romper o silenciamento a qual fomos submetidas historicamente, só assim poderemos relatar as nossas dores, expressar as nossas necessidades e exercer a nossa cidadania. Resistir ainda é a arma principal frente às estruturas promissoras das desigualdades e violações dos direitos das mulheres negras.


* Assistente Social

As escritoras que tiveram de usar pseudônimos masculinos – e agora serão lidas com seus nomes verdadeiros

O romance Middlemarch: um estudo da vida provinciana, lançado em 1874 pelo escritor George Eliot, é considerado hoje uma das melhores obras da literatura inglesa. A escritora Virginia Woolf chegou a chamá-lo de “um dos poucos livros ingleses feitos para gente grande”.

Na França, no mesmo século 19, George Sand também deixava sua marca na literatura. Ele foi descrito pelo autor russo Fiódor Dostoiévski como ocupante do “primeiro lugar nas fileiras dos escritores novos”. Recentemente, o governo francês debateu enterrar seus restos mortais no Pantheón, ao lado de nomes como Victor Hugo e Voltaire.

Curiosamente, ambos os Georges, o britânico e o francês, eram mulheres, que usaram pseudônimos masculinos para publicar.
George Eliot era Mary Ann Evans, que assinou artigos com seu próprio nome em um jornal. Ao se aventurar pelo mundo da ficção, no entanto, ela adotou a identidade masculina e chegou a escrever um ensaio chamado Silly Novels by Lady Novelists (Romances bobos de mulheres romancistas, em tradução livre), criticando os romances escritos por mulheres, para se distanciar de outras autoras de sua época e para que seu trabalho fosse levado a sério.

George Sand era a francesa Amantine Dupin, uma das autoras mais prolíficas de sua época. Ela escrevia contos de amor e de diferenças de classe, criticando as normas sociais. E também escreveu textos políticos e peças, que encenava em um teatro particular.

“Naquela época, uma mulher que tinha atividade intelectual estava cometendo uma transgressão enorme”, disse à BBC Brasil Sandra Vasconcelos, professora titular de Literatura Inglesa e Comparada da Universidade de São Paulo (USP).

“As que ousavam publicar usando seus próprios nomes recebiam muitas críticas, porque estavam extrapolando o papel designado para elas. A maioria acaba usando pseudônimo porque não quer se expor publicamente.”

Agora, um projeto brasileiro da empresa HP e e de uma agência de publicidade quer estimular a leitura dessas e de outras autoras com novas capas, que mostram seus nomes reais.

“Queríamos reimprimir a História, que, por diversos motivos, não trataram bem essas autoras”, disse à BBC Brasil Keka Morelle, a diretora de criação do projeto OriginalWriters (Escritoras originais, em tradução livre).

Os livros das autoras do século 19 e do início do século 20, principalmente europeias, já estavam disponíveis no site Gutenberg Project – um projeto que oferece, gratuitamente, mais de 50 mil obras de domínio público.

Mas a empresa decidiu fazer novas capas, que possibilitassem aos leitores conhecer a identidade real de suas autoras. Segundo Marcelo Rosa, produtor de conteúdo do projeto, o plano ainda inclui a tradução dessas obras para sua publicação em português – atualmente, elas estão em seus idiomas originais.

Há, ainda, a busca por brasileiras que tenham feito o mesmo e que possam ter seus livros disponibilizados gratuitamente.

‘Escrito por uma dama’
Durante os séculos 18 e 19, diz Vasconcelos, cristalizou-se o papel da mulher como primordialmente mãe e esposa dentro da família burguesa.

“A esposa era a responsável pelo mundo doméstico, da porta da casa para dentro. Muitas delas não tinham sequer acesso à educação formal. E toda mulher que tinha algum tipo de ambição para além disso era um ponto fora da curva.”

Mulheres que desejavam se tornar escritoras de romances publicavam com pseudônimos ou mesmo anonimamente, a partir do século 18. A mais famosa delas é a inglesa Jane Austen. A capa de seu primeiro romance, Orgulho e Preconceito, diz apenas: “Um romance. Em três partes. Escrito por uma dama.”

Austen, na verdade, não publicou nenhum romance assinado em vida. Os seus livros seguintes eram creditados à “mesma autora” dos anteriores.

Mas, no século 19, mesmo publicar anonimamente ficou menos comum.

“Escrever se tornou profissão e os romances se tornaram mais respeitados como gênero. A partir daí, ficou mais difícil para as mulheres terem autoridade cultural para assinar livros de ficção”, disse à BBC Brasil Sue Lanser, professora de Inglês, Literatura Comparada e Estudos sobre Mulheres, Gênero e Sexualidade da Universidade Brandeis, nos Estados Unidos.

“A história ocidental é principalmente de autoridade masculina. Por isso as mulheres começaram a usar nomes ambíguos ou diretamente masculinos. Elas estavam tentando se autorizar.”

Foi o que fizeram as irmãs britânicas Charlotte, Emily and Anne Brontë (Emily é autora de O Morro dos Ventos Uivantes e Charlotte, do romance Jane Eyre), que publicaram seus livros como Currer, Ellis e Acton Bell.

A prática continuou com força até o início do século 20 – mesmo quando as escritoras em questão eram mulheres intelectuais, de famílias da alta classe e bem conectadas, como a francesa Amantine Dupin.

Entre seus amigos famosos, estavam os escritores Gustave Flaubert (autor de Madame Bovary) e Honoré de Balzac (autor de A Comédia Humana), ambos seus admiradores e defensores. Mesmo assim, ela permaneceu como George Sand no mundo literário.

O escritor russo Ivan Turgenev chegou a dizer: “que homem corajoso ela foi, e que boa mulher”. Na vida social, Dupin causava polêmica em Paris por usar roupas masculinas, fumar em público e ter casos amorosos frequentes – coisas proibidas a uma mulher da época.
No Brasil, muitas escritoras também usaram o recurso do pseudônimo ou do livro anônimo pelos mesmos motivos, segundo a professora de literatura brasileira da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Constância Lima Duarte.

“Claro que o círculo mais próximo (da escritora) sabia do que se tratava. Mas elas faziam isso para se proteger da opinião pública. Os homens também chegaram a fazer isso, mas por motivos mais subjetivos”, disse à BBC Brasil.

A maioria destas escritoras, no entanto, apenas começa a ser descoberta, segundo Duarte. Uma delas é Maria Firmina dos Reis, autora do romance Úrsula (1859), considerado por alguns historiadores como o primeiro romance abolicionista da literatura brasileira. Sua assinatura, no entanto, dizia apenas “uma maranhense”.

Em 1887, na Bahia, o livro As Mulheres: Um protesto por uma mãe denuncia o “diminuto mercado de trabalho que era reservado às mulheres, a absurda diferença salarial entre homens e mulheres e a valorização excessiva das funções reservadas aos homens”, explica a pesquisadora.

“É um livro importantíssimo, mas ela se escondeu tão bem que ninguém descobriu depois quem teria sido essa escritora.”

Libertação das restrições sociais
De acordo com Lanser, a “sensação de liberdade” também era um fator que levava escritoras a publicar com pseudônimos.

“Havia muitas restrições e expectativas sociais em relação às mulheres – sobre a maneira como elas deveriam escrever e os assuntos sobre os quais elas poderiam falar. E também era muito comum que críticos e leitores presumissem que seus livros eram sempre autobiográficos”, explica.

“Por isso, se houvesse qualquer elemento sexual questionável nos romances, ou considerado pouco apropriado para uma dama da sociedade, elas seriam julgadas. O pseudônimo era também uma maneira de proteger a vida pessoal.”

Mas segundo a pesquisadora, o fenômeno não desapareceu completamente. Já no início do século 20, a franco-britânica Violet Paget manteve seus escritos – que iam desde livros sobre viagem e música até contos sobrenaturais, críticas de arte, ensaios sobre liberalismo e romances – sob o pseudônimo de Vernon Lee, talvez também para evitar comentários sobre sua homossexualidade.

E nos anos 1990, a escritora britânica J.K. Rowling escondeu seu primeiro nome, Joanne, por sugestão da empresa que publicou sua obra. Em entrevistas concedidas depois do sucesso mundial de sua série de livros Harry Potter, ela disse ter ouvido de seu editor que o uso dos primeiros nomes abreviados, que deixavam a assinatura mais ambígua, facilitaria que os livros fossem lidos por meninos.

Para escapar das expectativas em torno de seu primeiro romance policial, Rowling também escolheu um pseudônimo masculino, Robert Galbraith. Não demorou muito, no entanto, para que ela fosse descoberta. O livro havia vendido pouco, mas recebeu críticas tão positivas que levantou suspeitas de que não fosse um romance de estreia de um novo autor.

Depois da revelação, uma primeira edição assinada da obra chegou a ser vendida por mais de R$ 13 mil.

Foi o contrário do que aconteceu George Eliot, ou Mary Ann Evans, nos anos 1860. A pesquisadora Sue Lanser conta que, quando sua identidade de mulher foi revelada, após a publicação de seu primeiro romance, um jornal de crítica literária revisou a crítica que havia feito do livro. A primeira era elogiosa. A segunda, bastante negativa.

“Isso ainda é comum no mundo acadêmico, nas ciências. Há um viés a favor da autoridade masculina no conhecimento. É um viés que às vezes é implícito, inconsciente. Achamos que isso mudou, mas, na verdade, não mudou tanto assim”, afirma Lanser.

Em 2015, a escritora americana Catherine Nichols fez a experiência de enviar um manuscrito seu para agentes literários sob um pseudônimo masculino e surpreendeu-se com o número de respostas que teve. Quando mandou o mesmo material usando seu nome, dias antes, teve duas respostas positivas em 50 tentativas. Com o nome masculino e o mesmo material, teve 17 de 50.

Levantamentos da organização americana VIDA – Women in Literary Arts mostram que livros escritos por mulheres ainda são menos revisados por críticos em revistas literárias do que os escritos por homens. E ensaios escritos por mulheres são menos publicados nestas revistas especializadas.

‘Literatura para homens’ x ‘Literatura para mulheres’
Além disso, o fenômeno da segmentação de mercado entre “literatura para mulheres” e “literatura para homens” também é algo recente e contribui para que escritoras que querem ultrapassar a expectativa de público para seus livros mudem seus nomes, como no caso de J.K. Rowling e Harry Potter.

“Quando o romance de ficção surge, os homens também liam. Tanto que grande parte dos comentários sobre os romances feitos nos jornais era feito por homens. E alguns dos maiores romances com protagonistas mulheres são de escritores homens. Não havia essa diferença, todos liam tudo”, relembra Sandra Vasconcelos.

“Hoje, os editores interferem bastante na vida dos livros e dos autores tomando decisões que têm essa suposta segmentação de mercado como justificativa.”

Lanser também concorda que o fenômeno é moderno. “Agora existe uma dicotomia maior em termos de gênero e práticas de leitura. Desde que Jane Austen, por exemplo, se tornou popular, só nos últimos 20 anos é que os homens pararam de lê-la e não querem mais ter aulas sobre ela”, afirma.

“Pesquisadores ainda leem, mas o estudante universitário médio não lê e diz que é ‘chick lit’ (literatura de mulherzinha, em tradução livre, uma gíria depreciativa). Muitos colegas meus têm a mesma experiência. Uma das maiores autoras da língua inglesa foi reduzida na mente das pessoas a uma ‘autora de romances’, mas ela está falando da sociedade, e escreve até mais sobre dinheiro do que sobre amor, se você olhar bem.”

Além disso, diz Lanser, é “absurdo” que se considere, no século 21, que histórias sobre mulheres, especialmente se têm algum tipo de história de amor no enredo, sejam automaticamente consideradas “literatura menor” e “só para mulheres”.

‘Não podemos mudar a história’
Mas se o projeto da HP diz ter a intenção de “reimprimir a História” dessas escritoras usando seus próprios nomes, a pesquisadora americana alerta que é preciso tomar cuidado com a ideia.

“Nem todas essas mulheres queriam apenas se proteger com o pseudônimo. Algumas estavam tentando habitar outras identidades. Talvez Mary Ann Evans ou Violet Paget se sentissem, de fato, George Eliot e Vernon Lee quando escreviam”, afirma.

Lanser diz que acha boa a ideia de tornar os livros e as identidades de suas autoras conhecidos a um público novo, mas que é importante manter os nomes com os quais elas publicaram suas obras originalmente.

“Mesmo que algumas delas tivessem tentando se esconder, precisamos também mostrar o nosso passado, não podemos mudá-lo. Não dá pra mudar a História e transformá-la em algo que gostaríamos que fosse.”

“Acho que mostrar os dois nomes é também uma forma de honrar a trajetória dessas mulheres.”

Originalmente publicado em www.bbc.com

Marcas da violência obstétrica atingem majoritariamente as mulheres negras

Licyane Almeida havia acabado de sair de uma consulta médica. Estava triste porque com 37 semanas de gravidez, hipertensa e em meio à pandemia de Covid-19, o novo coronavírus, não havia conseguido um atestado médico para repousar no fim da gravidez. Chorando, ela gravou um vídeo e nunca imaginou que teria a dimensão que ganhou.

O Alma Preta optou por não mostrar as imagens de uma mulher que acabou de passar por uma violência para que ela não seja ainda mais exposta nessa condição. Em vez disso, a reportagem traz a imagem da família da gestante: sua mãe, seu filho e a Emanuelly, que está a caminho, no ensaio fotográfico que ela ganhou (ver mais a baixo).

Até chegar ao momento das fotos com a família, a demonstradora de cosméticos do Rio de Janeiro teve que passar por muitas situações difíceis. A verdade é que ela não tinha que passar, mas esse tipo de situação, caracterizada como violência obstétrica é rotina no Brasil. Segundo o estudo “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, realizado pela Fundação Perseu Abramo, uma em cada quatro mulheres já foi vítima.

Neste caso, trabalhar de segunda a sábado, em pé durante horas e se deslocar de transporte público por mais algumas horas, nas últimas semanas de gravidez e com complicações como hipertensão estava bastante difícil para Licyane. Ela conta que já havia passado por situações desagradáveis com o médico no pré-natal.

Quando relatou uma crise de pressão, o médico disse que não receitaria remédio porque a pressão estava normal durante a consulta. “Passei mal a segunda vez e fui para a maternidade. A médica de lá foi quem deu a receita de remédio para hipertensão”, comenta.

A médica da maternidade insistiu que Licyane deveria ser tratada no local em função do risco. “Quando tive consulta, mostrei a receita e ele disse que não era preciso ter atendimento na maternidade porque eu já estava sendo medicada. No mesmo dia eu passei mal e fui para a maternidade novamente. Relatei para a médica o que havia acontecido e ela fez uma carta de próprio punho ao pré-natal para ele entender a necessidade do meu tratamento”, lembra a gestante, afirmando que ainda assim, o médico não a encaminhou para o tratamento na maternidade.

Nesse período, Licyane teve um problema de pele e não sabia o que era. Ela passou mal, relatou e foi atendida na maternidade. O remédio não estava fazendo efeito e pediram que ela solicitasse do médico um encaminhamento para uma dermatologista. O obstetra disse que não daria porque ela estava medicada, alegando que, às vezes, a pele demorar a reagir. Ela saiu da consulta e ficou chorando. Um rapaz do guichê de atendimento do posto a viu chorando, perguntou a razão, pediu a ficha de atendimento dela e a levou para a dermatologista que resolveu atendê-la, mesmo sem o encaminhamento. Ela foi medicada e os problemas na pele melhoraram. Foi a dermatologista quem viu que o remédio receitado na maternidade para a hipertensão era distribuído gratuitamente no posto onde ela estava fazendo o pré-natal. Licyane estava comprando o medicamento porque o médico não deu a requisição para a retirada.

O dia da última consulta, que resultou no vídeo que viralizou nas redes sociais, foi o pior para ela. A gestante havia apresentado sintomas de Covid-19 e estava de repouso. Como o atestado ia acabar e ela estava com dores, a hipertensão e os incômodos do fim de gravidez, solicitou outro atestado. “Ele sempre teve falas racistas, mas nesse dia percebi que ele estava sendo racista de verdade. Ele ria e debochava de mim falando: se olha, se enxerga, você aguenta! Só está fazendo dramazinho, mas a dor que está sentindo é normal. Nem papel de atestado eu tenho. Eu nem sou obrigado a dar”, relembra Licyane.

Neste dia, ela pediu que ele receitasse de novo os remédios que ela estava tomando para controle da hipertensão e para a pele. “Foi quando ele pediu as receitas, ou seja, eu estou tomando remédios e o meu obstetra sequer havia anotado essas informações. Eu tinha tentado mostrar, mas ele não quis ver”, explica.

A demonstradora tem a vida marcada pela violência obstétrica. Além da hipertensão ter interrompido duas gestações e o filho mais velho ter nascido aos sete meses, uma irmã dela morreu durante o parto. “Minha irmã tinha sonhos, mas foi maltratada no momento do seu parto e morreu. Muitos médicos acham que como a gente é negra, a gente é parideira, que a nossa raça aguenta mais. Quando veem que não é o primeiro filho, aí que maltratam mesmo”, desabafa.

Depois que o vídeo foi postado em uma rede social, várias pessoas se mobilizaram. Uma campanha foi feita, por meio de perfis com grande alcance, como o do engenheiro civil Levi Kaique. “Como era um vídeo dela chorando, a gente achou melhor criar uma nova campanha. Explicando o caso e não a expondo tanto naquela situação de vulnerabilidade”, comenta Kaique.

“Eu fiquei indignado porque ela estava claramente mal, sabe? É uma mulher grávida com pressão alta e durante uma pandemia tendo que ir trabalhar mesmo assim, tendo que apelar para internet para ter um direito básico. Tudo isso por conta do racismo”, acrescenta.

Com o dinheiro arrecadado, Licyane conseguiu providenciar fraldas e outros objetos para a bebê. Ela ainda ganhou ensaio de fotografia e muita ajuda, mas o melhor mesmo foi poder contar com uma médica que a atenda de maneira respeitosa. “Muitas coisas boas aconteceram depois daquele vídeo. Consegui uma médica maravilhosa. Pediu exames que o outro médico nem havia pedido. Ela disse que trataria de mim até depois do parto. Dá até felicidade de ir para a consulta, coisa que antes eu não tinha. Deus realmente me surpreendeu”, conta Licyane, à espera de Emanuelly que deve nascer entre o fim de julho e começo de agosto

Violência obstétrica e o viés racial

As violências, sejam físicas, psicológicas ou morais, sofridas pelas mulheres durante o período da gestação, parto, puerpério e também em casos de aborto são definidas como violência obstétrica. Emanuelle Góes, doutora em Saúde Pública e pesquisadora do Centro de Integração de Dados da Fundação Oswaldo Cruz (CIdacs/Fiocruz), na Bahia, afirma que o racismo faz com que a violência obstétrica aconteça de forma mais profunda em mulheres negras, pois é uma intersecção do racismo com o sexismo.

Dados da campanha SUS Sem Racismo, do Ministério da Saúde, de 2014, mostraram que 60% das vítimas de mortalidade materna no país são negras. “As negras são vistas como as que suportam mais dor. As que resistem. Isso faz com que haja uma negligência na atuação profissional, na tomada de decisão em relação à mulher. Muitas vezes, questões que precisam da atuação profissional, seja com médico, enfermeiro ou outro profissional, não ocorre por conta da leitura racista que ocorre com o corpo negro feminino”, explica Emanuelle.

“Boa parte dos estudos mostram impactos diferenciados em relação à violência obstétrica. As negras recebem menos consultas, menos remédio para dor quando necessário, enquanto há uma discussão de excesso de medicalização para as mulheres brancas. As negras experimentam a ausência da intervenção profissional”, complementa a pesquisadora.

O Painel de Monitoramento da Mortalidade Materna, da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, mostra que a situação ao longo dos anos piorou ainda mais. Em 2019, o pais teve o registro de 1.025 óbitos maternos por causas obstétricas diretas, entre mulheres de 10 a 49 anos. Destas, 681 eram negras (563 pardas e 118 pretas), o que representa 66,4% do total.

Houve a morte ainda de 298 brancas, 18 indígenas, uma amarela e 27 óbitos sem informação racial. “As mulheres brancas estão mais expostas às cesáreas, as negras estão expostas a outros tipos de violência que podem levar até mesmo à morte materna”, diz Emanuelle.

Ginecologia e racismo

A história mostra como o racismo pode ter influenciado na Ginecologia. Considerado como o “Pai da Ginecologia”, James Marion Sims foi pioneiro ao realizar a técnica cirúrgica da fístula vesicovaginal. Por seu trabalho, ele teve seu nome nos anais da Medicina e chegou a ter uma estátua, no Central Park, em Nova York.

No entanto, há alguns anos veio à tona que Sims realizava os procedimentos cirúrgicos em mulheres negras escravizadas e sem uso de anestesia. Sua estátua foi retirada em 2018 e deve ser substituída pela da artista Vinnie Bagwell.

Matéria do portal almapreta.com

De cárcere privado a falta de pagamentos, o drama das domésticas na pandemia

A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) revelou um lado ainda mais obscuro e vergonhoso de parte da população brasileira que trata suas trabalhadoras domésticas como seres descartáveis, que estão em suas residências apenas para servir.

Este é o triste retrato da situação de boa parte das 7,2 milhões de trabalhadoras domésticas, em sua maioria negra, com filhos para criar e baixa escolaridade. É a terceira maior categoria de trabalhadores do Brasil, e mais de 73% vivem na informalidade.

Desde o início da pandemia, em março deste ano, aumentaram em cerca de 60% as denúncias de abusos e falta de pagamentos nos 13 sindicatos estaduais que compõem a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad).

A reclamação mais comum é a dispensa dessas trabalhadoras sem o devido recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), da contribuição ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) s outras verbas rescisórias. Mas há denúncias até de cárcere privado.

“Tivemos de resgatar junto com a polícia uma trabalhadora que conseguiu nos ligar e denunciar o patrão que fechou a porta com a chave e disse que ela tinha de passar a quarentena trancada, para não pegar transporte público. Isto é cárcere privado”, denuncia a secretária de Formação Sindical da Fenatrad e presidenta do sindicato de Nova Iguaçu (RJ), Cleide Pereira Pinto.

De acordo com ela, muitas têm filhos e não podem simplesmente abandoná-los para cuidar dos patrões.

Outra denúncia comum é de patrões que simplesmente mandam as domésticas procurarem o governo, quando querem reduzir a jornada e salário ou quando querem suspender os contratos de trabalho, como prevê a Medida Provisória (MP) nº 936, transformada na Lei 14.020/2020, depois de ser aprovada pelo Congresso Nacional.

“A MP 936 é clara. Quem tem de pedir ao governo a redução de jornada ou a suspensão dos contratos são os patrões e para isso eles têm de estar com a documentação, o e-social em dia, mas como muitos não estão dentro da lei simplesmente dizem: “procure o governo pra resolver”, relata Cleide.

A dirigente diz ainda que é comum os próprios patrões ligarem no sindicato perguntando o que têm de fazer pro governo pagar a empregada, achando que eles não têm de arcar com nenhum custo.

“Outro dia ligou um aqui perguntando sobre redução de salário, achando que poderia pagar menos sem reduzir a jornada. Os patrões, já em tempos normais, gostam de burlar a lei e a pandemia só reforçou essa prática”, afirma Cleide.

A presidenta da Fenatrad, Luiza Batista Pereira, que atua no sindicato de Pernambuco, relata situações parecidas. Segundo ela, as mais prejudicadas são as trabalhadoras sem carteira assinada que são demitidas e os patrões alegam suspensão do contrato, mas sem direito algum.

“A gente entende que tem muito patrão também com salário reduzido e trabalhando em casa e que o primeiro corte no orçamento é o serviço doméstico, mas eles não podem se aproveitar da situação e tratar as trabalhadoras desta forma, mandar embora sem direito algum”, diz Luiza.

Outra preocupação das dirigentes sindicais é a volta ao trabalho que muitas foram obrigadas a aceitar mesmo com o perigo de contágio.

Em maio de 2015, depois de dois anos de luta, o Senado aprovou por unanimidade o projeto de lei que regulamenta os direitos garantidos às trabalhadoras domésticas por meio da Proposta de Emenda Constitucional 72 (PEC), que estabelece a igualdade entre as categorias

Apesar dos direitos garantidos pela PEC, a pandemia contribuiu para aprofundar a crise econômica, aumentar a taxa de desemprego de trabalhadoras com carteira, sem carteira e diaristas e, com isso, a exploração do trabalho das domésticas vem aumentando, avalia a presidente da Fenatrad.

“A oferta da mão de obra está muito alta, e neste período possibilita que empregadores, que já não respeitam nossos direitos, a se aproveitarem da situação, lamenta Luiza.

Medo de perder o emprego afeta saúde das trabalhadoras domésticas

De cada 100 patrões que suspendem contratos ou reduzem salários, 90 não fazem direito por má fé e pura exploração e, apesar de toda a situação humilhante, a trabalhadora doméstica tem medo de denunciar e perder o emprego acredita Cleide.

“Já tem o stress da pandemia, a trabalhadora sabe que muitas colegas foram pra casa de parentes porque não puderam mais arcar com o aluguel, têm filhos pequenos. Essa trabalhadora acaba deprimida e exausta e poucas têm coragem pra denunciar”, conta a secretária de Formação da Fenatrad

Trabalho doméstico não é essencial na pandemia

As trabalhadoras domésticas lutam agora para a aprovação de uma lei que não considere o trabalho doméstico como essencial na pandemia. Algumas cidades e estados decidiram colocar a função como essencial, o que coloca a saúde e a vida dessas trabalhadoras em risco devido ao contágio da Covid-19.

Nesta semana, a presidente da Fenadrat, Luiza Pereira ,junto com a deputada Benedita da Silva (PT/RJ) e Sâmia Bonfim (PSOL/SP) se reuniram com o presidente da CâmaraRodrigo Maia (DEM/RJ), para pedir que o Projeto de Lei 2477/20, entre na pauta de votação da Casa

O PL de autoria de Sâmia Bonfim, coloca o trabalho doméstico como serviço não essencial durante a pandemia da Covid-19. O emprego doméstico não é considerado atividade essencial em âmbito nacional, pois não foi listado na lei federal criada no início da pandemia, nem consta nos dois decretos do presidente Jair Bolsonaro feitos posteriormente para ampliar a lista aprovada pelo Congresso.

As trabalhadoras domésticas também pediram a Rodrigo Maia, que a deputada Benedita da Silva seja a relatora do projeto de lei.

“A lei é cheia de brechas e como muitos empregadores não respeitam a lei e não assinam a carteira de trabalho, as trabalhadoras domésticas não podem ser enquadradas na Medida Provisória nº 936. Por isso, ou são demitidas ou obrigadas a permanecer no emprego, mesmo com a determinação de distanciamento social”, diz Luiza Batista.

Campanha “Cuida de quem te cuida”

A campanha Cuida de quem te cuida da Fenadrat orienta que os empregadores liberem as trabalhadoras de seus serviços, mantendo os salários enquanto durar a pandemia. Exceto nos casos das trabalhadoras que são cuidadoras de idosos e pessoas com deficiências. Assim como para domésticas que trabalham nas casas de profissionais de saúde. Para estas, a orientação é que os empregadores disponibilizem os transportes por aplicativos para que se desloquem de suas residências ao serviço e vice-versa.

Sobre a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas

A Fenatrad é formada por 22 sindicatos e mais uma Associação. Ela representa uma categoria formada por, aproximadamente, 7,2 milhões de trabalhadores e trabalhadoras domésticas.

As organizações filiadas à federação estão presentes em 13 Estados brasileiros: Acre, Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Paraíba, Paraná, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Sergipe.

Originalmente publicado em cut.org.br

TamoJuntas lança edital para 1ª edição de Revista

A organização TamoJuntas torna pública as inscrições para submissão de textos no edital 01/2020, referente ao lançamento da primeira edição da revista eletrônica “Revista TamoJuntas”, com tema “A Cultura do Estupro: violência sexual contra mulheres e meninas e contra população LGBTQIA+”

Esta iniciativa contempla apenas mulheres cis e trans na escrita das suas experiências e/ou pesquisas ou divulgação das suas produções artísticas que educam, denunciam e expressam as inquietações sobre a temática abordada.
Nesta primeira edição, os trabalhos devem se enquadrar de acordo com os gêneros textuais indicados no edital nº01/2020, e enviados até o dia 31 deste mês, data de encerramento da seleção. As inscrições são gratuitas.

Sobre a escolha do tema – A escolha do tema foi devido ao crime que aconteceu no Brasil em maio de 2016, na cidade do Rio de Janeiro, quando uma adolescente foi estuprada por 33 homens e teve sua violação publicada nas redes sociais. A vítima em questão sofreu julgamento social, além de violência institucional do delegado que acompanhava o caso e questionou a existência do crime, na tentativa de culpabilizar a adolescente. Com grande repercussão nos movimentos sociais, o delegado foi afastado do caso para garantir o acolhimento e a proteção da adolescente. Com esse caso, a TamoJuntas tornou-se conhecida nacionalmente como coletivo feminista de advogadas que faz o acolhimento de mulheres em situação de violência e, assim, expandiu sua atuação para todas as regiões do Brasil.

Sobre a publicação – A revista eletrônica TamoJuntas é um periódico semestral que visa a publicação de artigos, relatos de experiência, resenhas, crônicas, cordel, poesias e entrevistas de autoras brasileiras e estrangeiras; aceitando produções acadêmicas e/ou livres, visando ampliar a participação de mulheres na composição do material.

Para submissão, as autoras precisam enviar o trabalho e a ficha de inscrição devidamente preenchida, no e-mail revistaeletronica@tamojuntas.org.br

Abaixo os anexos para o processo de seletivo:

– Retificação do Edital nº01/2020Aviso de RETIFICAÇÃO do Edital Nº 01_2020 Revista TamoJuntas

– Edital 01/2020 EDITAL Nº01_2020_Revista_Eletronica_TamoJuntas

– Formulário de inscrição FORMULÁRIO DE SUBMISSÃO DE TEXTOS

– Template Padrão Tamplate Padrao TamoJuntas

Dúvidas entrar em contato pelo e-mail revistaeletronica@tamojuntas.org.br

Uma mulher negra de 51 anos foi vítima de mais um episódio de violência policial em São Paulo.

O governador João Doria (PSDB) disse que as cenas da violência policial contra uma mulher em Parelheiros, no extremo da Zona Sul de São Paulo, “causam repulsa” e que é “inaceitável a conduta de alguns policiais”. As imagens divulgadas pelo Fantástico neste domingo (12) mostram um policial militar pisando no pescoço de uma mulher negra de 51 anos para imobilizá-la.

“Os policiais militares que agrediram uma mulher em Parelheiros, na Capital de SP, já foram afastados e responderão a inquérito. As cenas exibidas no Fantástico causam repulsa. Inaceitável a conduta de violência desnecessária de alguns policiais. Não honram a qualidade da PM de SP”, afirmou em um post publicado em suas redes sociais.

Os dois PMs ficarão afastados durante a apuração do caso. A Secretaria da Segurança Pública diz que não compactua com esse tipo de comportamento.

Viúva, com cinco filhos e dois netos, ela é uma comerciante que vive de um pequeno bar. E foi no trabalho dela que a mulher se tornou vítima desse episódio de violência policial.

O vídeo mostra os policiais militares abordando um grupo de pessoas em uma tarde de sábado, no dia 30 de maio. Na ocasião os bares e restaurantes estavam proibidos de abrir na capital paulista. A comerciante estava com estabelecimento aberto, um cliente parou o carro com o som alto na frente do bar, o que incomodou a vizinhança que acionou a polícia.

“Ele me bateu e quanto mais eu me debatia mais ele apertava a botina no meu pescoço”, disse a vítima que não quis se identificar com medo dos PMs voltarem.

A mulher conta que pediu que o motorista abaixasse o som e quando saiu viu uma viatura parada e um policial agredindo seu amigo. “Aí eu pedi para o policial não bater mais nele que ele já estava desfalecido, deitado no chão e o policial sobre o rosto dele”.

Nas imagens é possível ver o policial apontando a arma para outro homem, que tira a camisa e ergue os braços. Atrás dele um homem de blusa azul grita para mostrar que está gravando com o celular e o policial recua e vai dar apoio ao colega.

A comerciante está ao lado e pede para soltar o amigo. “Eu pedi para o policial pra parar e ele me empurrou na grade do bar, me deu três socos, me deu uma rasteira para me derrubar, ele quebrou minha tíbia”. Os vídeos não mostram essa parte da ação, apenas o momento seguinte.

“Ele ficou pisando no meu pescoço com meu rosto encostado no chão”, disse a vítima. Em seguida, a mulher é arrastada algemada pelo asfalto até a calçada. Ela conta que desmaiou quatro vezes durante a ação.

Os PMs alegam que foram agredidos primeiro e tiveram que reagir contra a comerciante a amigos dela.

No boletim de ocorrência registrada pelos PMs na delegacia, eles dizem que a mulher usou uma barra de ferro para agredi-los na cabeça e os ameaçado com um rodo. Ela nega.

O BO foi registrado como desacato, lesão corporal, desobediência e resistência contra a comerciante. Ela foi levado para o hospital com ferimentos e perna quebrada. Após atendimento, ficou presa um dia na delegacia. Um dia após ser solta passou por uma cirurgia na perna e levou 16 pontos.

Matéria da https://g1.globo.com/

Câmara aprova texto que estende auxílio emergencial em dobro a mulheres vítimas de violência

A Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta-feira (9) o projeto que estende o pagamento do auxílio emergencial em dobro (R$ 1,2 mil por mês) a mulheres vítimas de violência doméstica.

O auxílio foi criado em razão da pandemia do novo coronavírus e, pela legislação em vigor, só é pago em dobro no caso de mães chefes de família.

Com a aprovação desta quinta-feira, a proposta segue para o Senado.

A proposta aprovada

O texto reforça uma série de medidas protetivas, como a determinação para que, verificada a existência de risco à integridade física da vítima, o agressor deverá ser imediatamente afastado da convivência com a ofendida.

Se isso não for possível, o projeto prevê alternativas para assegurar segurança à vítima e seus dependentes, como o acolhimento imediato em centros de atendimento ou em casas-abrigos para mulheres.

Também poderão ser adotadas outras medidas excepcionais, como o aluguel de casas ou quartos de hotéis para garantir o atendimento às vítimas em situações emergenciais.

O parecer inicial da relatora previa o pagamento de um aluguel social para as vítimas de violência doméstica, mas, como não havia previsão de despesa orçamentária e do impacto que teria nas contas públicas, acabou sendo retirado do texto.

A retirada desse tema foi o que viabilizou a votação do restante do projeto. Isso porque, segundo o líder do governo na Câmara, Vitor Hugo (PSL-GO), a extensão do auxílio emergencial à mulher vítima de violência representará “poucos milhões de reais por mês” a mais do que já é gasto com o pagamento do benefício.

Proteção das mulheres durante a pandemia

A Câmara também aprovou nesta quinta-feira um projeto que detalha as medidas que devem ser tomadas para garantir a proteção e o acolhimento das mulheres vítimas de violência doméstica durante a pandemia. O texto precisa passar pelo Senado.

A proposta estabelece que as mulheres e os dependentes deverão ser acolhidos e isolados pelo período de 15 dias em local sigiloso, seguro e apropriado antes de serem encaminhados ao abrigo.

Também especifica que ficam dispensados de licitação as obras, serviços, compras e locações de imóveis para abrigá-los.

O texto prevê ainda que seja assegurado o transporte da casa da vítima ao novo local de abrigo em veículos do poder público e, preferencialmente, operados por motoristas mulheres.

Pela proposta, poderão ser utilizados os recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública, durante a pandemia, para garantir o funcionamento dos abrigos ou dos equipamentos provisórios onde as mulheres e seus dependentes aguardarão a quarentena.

Publicação do Portal G1

Estudo liga prefeitas mulheres a menos mortes de crianças

Prefeitas mulheres costumam se sair melhor do que prefeitos homens no combate à mortalidade na primeira infância, independentemente do espectro político, aponta um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros e publicado nesta terça-feira (07/07) na revista científica americana Health Affairs.

A pesquisa analisou dados de 3.167 dos 5.565 municípios brasileiros – foram descartados todos os que apresentavam consideráveis falhas nos registros. Nessa amostragem, a mortalidade de crianças de até cinco anos caiu de 25,1 para 13,6 por mil nascidos vivos entre 2000 e 2015. No mesmo período, destaca o estudo, o percentual de prefeitas mulheres saltou de 4,5% para 9,7%.

“A eleição de uma prefeita foi associada a uma redução na taxa de mortalidade em crianças menores de cinco anos de 0,027 ponto percentual”, comenta a nutricionista Ana Clara Duran, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e uma das autoras do estudo. À DW Brasil, a nutricionista apontou que uma redução semelhante também foi observada quando a proporção de deputadas estaduais e federais aumentou.

“Estes achados se mantiveram mesmo após ajuste para o partido político da eleita, ou seja, o efeito é independente do espectro político”, ressaltou Duran. “A representatividade da mulher amplia a implementação de projetos sociais e o acesso à saúde pública.” O estudo envolveu cinco pesquisadores, da Unicamp, da Universidade Federal da Bahia, da Universidad de Los Andes (Colômbia) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Os pesquisadores utilizaram uma série de variáveis para cruzar e filtrar os dados. Eles perceberam que no caso de prefeituras comandadas por mulheres, a cobertura de programas sociais é mais abrangente do que nas cidades chefiadas por homens. O Bolsa Família, por exemplo, tem uma abrangência 2,5% maior nessas cidades. O Estratégia Saúde da Família, do Ministério da Saúde, tem uma cobertura 1,9% maior nessas localidades do que nos municípios sob gestão masculina.

Segundo Duran, para analisar essa relação entre o “empoderamento político das mulheres” e os óbitos infantis, os pesquisadores fizeram um banco de dados cruzando os registros disponíveis e ajustando-os com as variáveis entendidas como importantes. Os pesquisadores não abriram os dados completos da pesquisa para a reportagem.

“Fomos educadas para cuidar de idosos, crianças e doentes”

Prefeita de São Paulo entre 2001 e 2004, Marta Suplicy acredita que mulheres têm, culturalmente, uma sensibilidade maior para questões de saúde pública.

“Não à toa, pois por gerações fomos educadas para cuidar de idosos, crianças e doentes. O que custou caro, pois ficamos alijadas do poder. Quem consegue chegar lá e manter essas características ditas ‘femininas’ certamente tem comportamento diferenciado”, avalia a ex-prefeita à DW Brasil.

No ano 2000, a mortalidade infantil em São Paulo era de 18,4 por mil nascidos vivos. Dados de 2006 mostram um declínio para 12,9 pontos. Em 2017, ano do último levantamento disponibilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram 11,2 mortos por mil nascidos.

O IBGE computa como mortalidade infantil os óbitos ocorridos no primeiro ano de vida da criança – padrão convencional em todo o mundo. No estudo divulgado nesta terça, foi utilizado o critério de mortalidade até os cinco anos de idade, o que está alinhado com os parâmetros do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Suplicy elenca programas sociais de sua gestão, principalmente os focados na saúde da mulher, e a municipalização dos serviços de saúde, como fatores que contribuíram para esse quadro.

O Painel de Monitoramento da Mortalidade Infantil e Fetal, do Sistema de Informações sobre a Mortalidade (SIM), do Governo Federal, registra 1.544 mortes em São Paulo no ano de 2005. Em 2000 foram 2.411. O levantamento também considera apenas os óbitos ocorridos no primeiro ano de vida.

De norte a sul

Micarla de Sousa, que foi prefeita de Natal entre 2009 e 2012, destaca, de sua gestão, programas em que a criança recebia merenda também para levar para casa e serviços de atendimento de saúde, em mutirão, nas escolas infantis. “Acredito que conseguimos melhorar o nível de saúde das crianças, principalmente nas creches”, comenta.

O coeficiente de mortalidade infantil do município caiu de 16,5 por mil nascidos vivos para 12,4 de 2008 para 2009, segundo o IBGE. O cenário continuou melhorando e, em 2011, a cidade teve um índice de 10,1 – que segue sendo o melhor resultado da série histórica disponibilizado pelo IBGE, já que os últimos dados, de 2017, foram de 13,3.

De acordo com o SIM, foram 136 registros de morte infantil no município em 2008. O número caiu ano a ano, respectivamente para 104, 93 e 81 óbitos, voltando a aumentar em 2012 – 120 mortes.

“Conheci várias mulheres gestoras na minha época, e todas tinham o mesmo tipo de perfil: voltado para a área social, para a área de gestão entre educação, saúde e assistência social”, diz Sousa. “Mulheres têm um olhar mais focado nessa área de cuidar de gente.”

Sandra Kennedy, que foi prefeita entre 2009 e 2012 e hoje é vereadora em Registro, no interior paulista, prefere se lembrar de outra mulher para falar de sua gestão: a médica sanitarista Maria Cecilia Dellatorre, secretária de Saúde de sua gestão. “Foi sob o trabalho dela que logramos êxito nos cuidados de saúde, ampliando acesso fundamentalmente”, comenta Kennedy, à DW Brasil. “Há um preconceito histórico que dificulta uma mulher na política. Isso está arraigado e hoje muito mais explícito.”

Dados do IBGE também mostram redução da mortalidade infantil no município em sua gestão. Em 2008, foram 14,5 óbitos por mil nascidos vivos. Em 2012, último ano de Kennedy à frente da prefeitura, o índice estava em 10,5. O ano de 2010, com 7,3 mortes por mil nascidos vivos é o segundo melhor da série histórica – só foi superado pelos dados de 2017, quando o índice foi de 6,3 óbitos por mil.

Matéria publicada em www.dw.com

Feminicídio aumenta 150% na Bahia; mulheres negras são maioria entre as vítimas

Nesta semana, a Secretaria de Segurança Pública do estado da Bahia (SSP/BA) divulgou que durante o mês de maio houve um aumento de 150% nas ocorrências de feminicídio, comparado ao mesmo período do ano anterior. Em maio de 2019, foram contabilizados seis assassinatos de mulheres, em 2020 os casos subiram para quinze, sendo que em todos as vítimas queriam o termino da relação.

Embora o número de crimes tenha aumentado, os registros de violência doméstica reduziram. Autoridades acreditam que as subnotificações estejam ligadas à pandemia do coronavírus. Confinadas em casa com seus agressores, as vítimas não conseguem buscar socorro.

De acordo com o Atlas da Violência, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a Bahia é o segundo estado brasileiro no ranking de violência contra mulher, atrás apenas do Espirito Santo. No estado, o índice de homicídios entre as mulheres autodeclaradas pretas ou pardas (que compõe o grupo de negras) é de 5,9; entre as mulheres não negras a taxa é de 3,4.

A Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA aproveitou a divulgação dos dados para reforçar a luta pelo registro de crimes de violência doméstica e familiar na Delegacia Digital da SSP/BA. Atualmente as vítimas precisam procurar uma delegacia especializada ou ter contato com agentes da polícia, o que dificulta a denúncia.

Através de nota publicada em seu site, Lívia Almeida, coordenadora da Especializada de Direitos Humanos da DPE/BA, a possibilidade de registros de violência não deve mais ser adiada, sendo possível o registro de forma segura para ambas as partes.

“A Defensoria da Bahia é uma das principais portas para atendimento dessas mulheres. Estamos fazendo o atendimento sem a necessidade de registro de ocorrência em prol das mulheres, evitando o risco de contaminação e a revitimização, mas também em prol das profissionais de segurança pública, que tiveram seu quadro reduzido em Salvador. No entanto, a possibilidade de registros de violência doméstica pela Delegacia Digital é necessária e não pode mais ser adiada. O feminicídio é a última etapa do ciclo da violência, mas, antes dele, essa mulher já passou por todos os outros, desde a violência moral e psicológica a violência física”, afirma a defensora pública Lívia Almeida, coordenadora da Especializada de Direitos Humanos da DPE/BA.

Onde buscar ajuda

Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM)
Contato: (71) 3235-4268
Núcleo de Defesa da Mulher da Defensoria Pública (Nudem)
Contato: (71) 3324-1587
Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher – (Gedem)
Contato: (71) 3321-1949
Delegacias de Atendimento à Mulher (DEAM)
Contato: (71) 3116-7000/7001/7002/7003/7004 (Engenho Velho)/ (71) 3117-8203 (Periperi)
Coordenadoria Estadual das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar
Contato: (71) 3372-1867/1895
Defensoria Pública da Bahia – O contato pode ser feito por telefone (129 ou 0800 071 3121, para todo estado) e de forma virtual (agendamento on-line pelo site da Defensoria; pelo aplicativo Defensoria Bahia, apenas para sistemas Android). A página Defensoria Bahia, no Facebook, também disponibiliza atendimento – basta enviar uma mensagem e selecionar a opção 2 para ser direcionado ao Nudem.

Publicado em Noticias Preta

Organização TamoJuntas lança edital para publicação da sua primeira Revista Eletrônica

A organização TamoJuntas torna pública as inscrições para submissão de textos no edital 01/2020, referente ao lançamento da primeira edição da revista eletrônica “Revista TamoJuntas”, com tema “A Cultura do Estupro: violência sexual contra mulheres e meninas e contra população LGBTQIA+”

Esta iniciativa contempla apenas mulheres cis e trans na escrita das suas experiências e/ou pesquisas ou divulgação das suas produções artísticas que educam, denunciam e expressam as inquietações sobre a temática abordada.
Nesta primeira edição, os trabalhos devem se enquadrar de acordo com os gêneros textuais indicados no edital nº01/2020, e enviados até o dia 31 deste mês, data de encerramento da seleção. As inscrições são gratuitas.

Sobre a escolha do tema – A escolha do tema foi devido ao crime que aconteceu no Brasil em maio de 2016, na cidade do Rio de Janeiro, quando uma adolescente foi estuprada por 33 homens e teve sua violação publicada nas redes sociais. A vítima em questão sofreu julgamento social, além de violência institucional do delegado que acompanhava o caso e questionou a existência do crime, na tentativa de culpabilizar a adolescente. Com grande repercussão nos movimentos sociais, o delegado foi afastado do caso para garantir o acolhimento e a proteção da adolescente. Com esse caso, a TamoJuntas tornou-se conhecida nacionalmente como coletivo feminista de advogadas que faz o acolhimento de mulheres em situação de violência e, assim, expandiu sua atuação para todas as regiões do Brasil.

Sobre a publicação – A revista eletrônica TamoJuntas é um periódico semestral que visa a publicação de artigos, relatos de experiência, resenhas, crônicas, cordel, poesias e entrevistas de autoras brasileiras e estrangeiras; aceitando produções acadêmicas e/ou livres, visando ampliar a participação de mulheres na composição do material.

Para submissão, as autoras precisam enviar o trabalho e a ficha de inscrição devidamente preenchida, no e-mail revistaeletronica@tamojuntas.org.br

Abaixo os anexos para o processo de seletivo:

– Retificação do Edital nº01/2020Aviso de RETIFICAÇÃO do Edital Nº 01_2020 Revista TamoJuntas

– Edital 01/2020 EDITAL Nº01_2020_Revista_Eletronica_TamoJuntas

– Formulário de inscrição FORMULÁRIO DE SUBMISSÃO DE TEXTOS

– Template Padrão Tamplate Padrao TamoJuntas

Dúvidas entrar em contato pelo e-mail revistaeletronica@tamojuntas.org.br

Previous Next
Close
Test Caption
Test Description goes like this