“Trabalho de madrugada porque não dou conta de tudo em casa”, a nova normalidade massacra as mulheres

“Nos meus chats de pais do colégio no WhatsApp, ainda não vi até agora dois pais [homens] comentarem entre si: ‘Vem cá, vai ter casals [curso de férias, em catalão]? Quem vai se matricular?’ Que coisa, né, porque entre as mães não se fala de outra coisa.” Paula é autônoma, tem duas filhas menores de 10 anos e já trabalhava em casa antes da pandemia. Seu marido, assalariado, passou ao teletrabalho desde março, e juntos procuram dividir “meio a meio” a educação e os cuidados com as meninas, assim como as tarefas de manutenção do lar. Ela, entretanto, se sente oprimida por duzentas outras tarefas mentais de controle e administração de seu núcleo familiar. Dinâmicas que já vinham herdadas de muito antes do confinamento. “Aqui tentamos dividir [as tarefas], mas sempre noto a carga mental. Tenho que lembrar o que é preciso fazer para a aula, as senhas do Zoom do teatro de uma das minhas filhas, marcar hora para a revisão no posto de saúde, ligar para o contador etc.. Isto é muito difícil de mudar”, esclarece.

Cristina é assalariada, trabalha no setor da comunicação e também teletrabalha desde março com seu marido e seu bebê de um ano e três meses. Na maioria das noites, depois de pô-la para dormir, decide terminar as tarefas profissionais pendentes. “Eu me pego trabalhando de madrugada porque não dou conta de tudo. De dia minha filha é muito exigente e exige cuidados. Meu marido e eu tentamos nos alternar, mas percebi que de noite encontro mais calma para acabar tranquila o que ficou pendente”, conta. Seu horário noturno não a exime da reunião telemática diária de sua empresa às nove da manhã. Se somarmos horas, quanto dura a jornada profissional de Cristina?

O confinamento e a nova normalidade deixam as mulheres esgotadas, estressadas e dedicando mais horas à manutenção e cuidados que seus pares masculinos. “Os dados mostram que as mulheres estão arcando com a maior parte da carga das tarefas domésticas durante o confinamento”, diz Libertad González, professora de Economia e Empresa da Universidade Pompeu Fabra (UPF), de Barcelona, e membro do Centro de Estudos de Gênero (CEDG). González e Lídia Farré, professora da Econometria, Estatística e Economia Aplicada da Universidade de Barcelona (UB), coordenaram um estudo dividido em duas rodadas que deve provar que o confinamento e a dita nova normalidade não igualaram a balança no lar.

Limpam, cuidam, educam… e se estressam mais
A primeira fase do estudo, intitulado Quem se encarrega das tarefas domésticas no lar?, transcorreu em abril, quando foi feita uma pesquisa online com 7.091 pessoas, membros de famílias com filhos, principalmente na Catalunha. Em maio, com o afrouxamento da quarentena, passou-se à segunda etapa da pesquisa, com apoio da empresa de opinião pública Ipsos e das pesquisadoras Yarine Fawaz e Jennifer Graves, com observações sobre outras 5.000 pessoas, distribuídas por todas as regiões espanholas. “Apesar de um pequeno aumento na participação dos homens, elas continuam sendo as principais responsáveis pela limpeza da casa, comida, roupa lavada e cuidado com os filhos”, diz González. “Dado o importante volume de trabalho gerado pelo fechamento dos centros educacionais, e que muitas mulheres têm empregos que permitem o teletrabalho, o aumento da carga foi muito importante”, observa, ao comentar as consequências mais chamativas de seu estudo. Com cinco blocos sobre as tarefas domésticas (limpeza, compras, roupa, comida e cuidado com os filhos, tanto lazer como educação), a investigação conclui que a única atividade em que o homem é o principal responsável foi fazer as compras. “Antes do confinamento, as compras já eram a atividade mais dividida entre homens e mulheres, embora elas fossem as responsáveis na maioria dos lares. Entretanto, durante o confinamento esta é a única atividade que passa a ser desempenhada majoritariamente pelos homens. Observamos isto claramente em nossas duas amostras”, diz a pesquisadora. Embora a participação masculina suba ligeiramente em todas as tarefas, as espanholas continuam sendo responsáveis por lavar a roupa (39 pontos mais que os homens), limpar a casa (29 pontos a mais) e cuidar da educação das crianças (24 pontos a mais).

Tomar conta também causa mais ansiedade. O projeto Conciliação familiar em tempo de confinamento pela covid-19 (Family reconciliation in times of confinement, na denominação em inglês), coordenado por Cristina Benlloch e Empar Aguado, professoras do Departamento de Sociologia e Antropologia Social da Universidade de Valência, e pela cientista política e jurista Anna Aguado, indica que as mulheres com filhos menores que trabalham à distância sofrem a maior parte do estresse do confinamento. O estudo, baseado em pesquisa telefônicas e online com mulheres, foi publicado inicialmente no site The Conversation e revela que as mães “sentem que estão o dia todo trabalhando”, que o acompanhamento escolar dos filhos costuma ficar a cargo delas ―o que virou “um elemento de ansiedade e estresse agregado”― e que uma nova estratégia frente a esta situação está sendo “o recurso de teletrabalhar durante a madrugada, seja adiando a hora de ir para cama ou levantando antes que o resto da família”.

O falso efeito do cesto de roupa suja
As espanholas não estão sozinhas. Estudos semelhantes sobre a distribuição de tarefas domésticas e do homeschooling desenvolvidos nos EUA e Argentina durante o confinamento indicam resultados em sintonia com os vistos na Espanha: os homens participam mais por estarem mais conscientes que nunca do trabalho que dá administrar uma casa, mas o peso e o estresse continuam recaindo de forma mais acusada sobre as mulheres. Simbolicamente deveria ser o efeito do cesto cheio, algo que Brigid Schulte, autora de Overwhelmed (2014) e diretora do programa sobre trabalho, igualdade de gênero e política social no think thank New America, Better Life Lab, explicou recentemente ao jornalista Terry Gross no podcast Fresh Air. Schulte está investigando as “grotescas” desigualdades de gênero durante o confinamento nos EUA, através de entrevistas telefônicas e pesquisas do seu think thank. Parte do trabalho da sua equipe se centrou em entrevistar maridos e parceiros de mulheres que trabalham no setor sanitário e que tiveram que se isolar dos demais familiares para evitar possíveis contágios. Homens que assumiram totalmente os cuidados da casa pela reviravolta dos acontecimentos. Entre os detalhes mais íntimos, por assim dizer, um elemento aparecia de forma recorrente nas conversas com estes homens: o efeito do cesto de roupa suja e como ela se tornara significativa para os homens que assumiram as tarefas domésticas. “Muitos me disseram entre risos que antes achavam que a roupa dobrada ia parar magicamente em suas gavetas, nem pensavam nesse trabalho invisibilizado, não contavam com isso, e que agora ao guardá-la estão conscientes de que suas mulheres eram as que sempre faziam isso e que, também, o cesto se enche o tempo todo”.

Esse despertar masculino ajudará a mudar os padrões da divisão de trabalho nos lares? O gesto de lavar e guardar a roupa será capaz de eliminar as desigualdades? Não, se as políticas sociais públicas não intervierem para conciliar o teletrabalho com a conciliação entre família e trabalho. Como diz a pesquisadora Caroline Criado Pérez: “Existe uma tautologia sobre a mulher trabalhadora: não existe a mulher que não trabalha, só mulheres não remuneradas”. O trabalho dentro do lar permanece, de forma interessada, invisibilizado nos planos institucionais, sendo considerado um espaço de lazer pessoal, porque os cuidados são computados como uma questão de afeto (cuido de você porque te amo) e, assim, distanciados do imaginário do intercâmbio mercantil. Uma estratégia que serviu para cimentar os excessos do sistema capitalista. Em janeiro deste ano, um relatório da Oxfam confirmou isso: se pagássemos o trabalho de cuidados que mulheres e meninas realizam gratuitamente em todo o planeta, suporia o triplo de todo o gasto mundial em tecnologia (12,5 bilhões de horas diárias, o equivalente a 10,8 trilhões de dólares anuais).

Num momento em que sisudas análises (masculinas) se perguntam se agora, com esse negócio do coronavírus, poderemos resolver de uma vez por todas o dilema da eficiência do teletrabalho versus a presencialidade no escritório, irrita, mas não surpreende, comprovar como a conjugação das dinâmicas da conciliação com nossa produtividade e flexibilidade trabalhistas permanecem excluídas da equação desse pensamento teórico. Tampouco surpreende, precisamente, que sejam líderes com perspectiva de gênero, como Jacinda Ardern, que estejam propondo isso na hora de conjugar o futuro que nos aguarda, agora que pusemos o lar no centro de tudo. Porque nem tudo se resolverá, milagrosamente, cuidando da roupa suja.

Publicado em https://brasil.elpais.com/

Reabertura da economia sem aula presencial pode elevar desigualdade

As mulheres representam quase nove em cada dez trabalhadores —ocupados ou buscando emprego— que vivem completamente sozinhos com seus filhos menores de 14 anos no país.

Entre os quase 2 milhões de brasileiros nessa situação, 1,76 milhão pertence ao sexo feminino e 233 mil ao masculino.

As negras estão sobrerepresentadas nesse universo de mulheres vulneráveis, que mais dependem do retorno das aulas presenciais nas escolas do país para desempenhar uma atividade remunerada.

Embora sejam 54% da força de trabalho feminina, as pretas e pardas equivalem a 64%, ou quase 1,1 milhão, das profissionais que são “mães solo”.

Os dados são parte de pesquisa das economistas Cecilia Machado, Luciana Rabelo e Maria Clara Varella, da EPGE, escola ligada à FGV.

O estudo analisou o impacto da retomada econômica sobre domicílios de diferentes configurações, que têm em comum a presença de crianças. O trabalho mostra que 44% da força de trabalho —que inclui profissionais ocupados ou buscando emprego— está em residências com menores de 14 anos.
“Esse número já mostra a relevância da educação para qualquer análise dos efeitos da reabertura”, diz Cecilia, que também é colunista da Folha.

Recortes do percentual de domicílios com crianças e trabalhadores evidenciam que as mulheres —especialmente as negras— serão as mais afetadas se atividades econômicas suspensas pela pandemia forem retomadas e as escolas permanecerem fechadas.

“Qualquer plano de reabertura sem o retorno da escola presencial tende a ampliar as desigualdades de gênero e de raça, que já são elevadas no Brasil”, afirma a economista.

Em São Paulo, o governo estadual tem liberado, gradualmente, a volta de alguns segmentos econômicos, mas anunciou que as escolas reabrirão, na melhor das hipóteses, em setembro.

O plano prevê que o retorno da educação presencial dependerá de um controle uniforme da contaminação pela Covid-19 e começará com um avanço gradual no nível de ocupação das salas de aula.

Em entrevista publicada pela Folha, o secretário estadual da Educação, Rossieli Soares, disse que “acorda e dorme pensando em quantas mães têm que trabalhar e não têm com quem deixar os filhos”.
Ele não mencionou, porém, o que pode ser feito a respeito delas a curto prazo.

O estudo mostra que a vulnerabilidade das mulheres trabalhadoras com crianças em casa aparece em diversas situações familiares.

Entre os 107 milhões na força de trabalho, 7,2% estão em domicílios com menores de 14 anos chefiados por mulheres sozinhas (que não são parte de um casal). Nesse recorte, pode haver outros trabalhadores na residência, mas a principal responsável pela renda é uma mulher, seja ela mãe, avó, tia ou irmã mais velha.

Em domicílios com essa mesma configuração, onde o chefe, no entanto, é um homem sozinho, a fatia da força de trabalho cai para 1,2%.

“Em qualquer recorte que inclua domicílios com crianças sem a presença de ambos os pais, há mais mulheres como as principais responsáveis pela renda do que homens”, afirma Cecilia.

Essas trabalhadoras —normalmente da baixa renda— têm alta dependência das escolas para exercer suas atividades remuneradas.

Com cinco filhos, de 6, 8, 11, 12 e 15 anos, a diarista Flávia Cristina Moreira dos Santos, que é mãe sozinha, define sua situação como desesperadora. “As famílias de alta renda têm, ao menos, como distrair as crianças. Aqui em casa, não tem videogame, a TV queimou, e só tenho um celular.”
Para cuidar dos filhos, Flávia conta com a ajuda de seus avós, ele com 86 e ela com 84 anos. Sua renda informal vem de bicos com faxinas e eventos. Com a pandemia, a demanda por esses serviços caiu.

“Mas, com eles fora da escola, correndo o dia todo, é mais difícil sair de casa também.”

Nesse período, sua principal fonte de recursos tem sido o benefício emergencial de R$ 1.200 do governo federal.

“Fez uma diferença enorme, é bem mais do que o que eu recebo do Bolsa Família.”

Para especialistas em desigualdade, embora seja compreensível a preocupação prioritária com a saúde, o plano de reabertura da economia deveria estar mais bem integrado à política de volta às aulas.

“A educação é parte da economia, tanto porque os pais precisam trabalhar quanto porque as crianças serão trabalhadoras no futuro”, diz Cecilia.

A preocupação dos pesquisadores com um possível aumento das desigualdades no mercado de trabalho data do início da pandemia.

Na primeira semana de abril, o NBER (National Bureau of Economic Research) publicou um estudo chamado “The impact of Covid-19 on Gender Equality” que alertava para um provável aumento da disparidade de gênero e foi tema de reportagem da Folha.
Com base em dados dos EUA, os autores ressaltavam que o aumento da participação laboral feminina nas últimas décadas não eliminou o desequilíbrio de gênero na distribuição do tempo direcionado a tarefas domésticas.

Eles previam que, por isso, a necessidade de mais horas dedicadas aos filhos durante a pandemia —com escolas fechadas e avós impossibilitados de ajudar com as crianças— tendia a recair mais sobre as mulheres do que os homens

Como as trabalhadoras casadas com crianças, em média, fazem jornadas mais curtas e têm salários mais baixos do que seus maridos, elas respondem por uma menor parcela da renda familiar.

Os autores do artigo argumentaram que esse contexto aumentava o risco de que as mulheres precisassem deixar de trabalhar caso a suspensão das aulas presenciais se estendesse por muito tempo. Eles alertaram, ainda, para a vulnerabilidade enorme das mães sozinhas.

São os mesmos temores que especialistas têm demonstrado em relação ao Brasil.

O estudo da FGV mostra que em 35,5% dos domicílios brasileiros com crianças menores de 14 anos em que os pais são casados ambos trabalham em horário integral.

Mas em 16,4% dessas residências os pais se dedicam totalmente a seus empregos, enquanto as mães trabalham em período parcial. A situação inversa representa apenas 3,2% dos casos.

“Já existe um desequilíbrio grande de gênero no mercado, que tende a aumentar de forma perversa nesse contexto de escolas fechadas”, diz a economista Regina Madalozzo, pesquisadora do Insper.

Para Regina, mesmo em residências onde há uma divisão mais equânime das tarefas domésticas, as mulheres tendem a assumir uma parcela maior dos cuidados com os filhos na pandemia.

“É uma questão cultural, que tem mudado, mas essas mudanças ainda são lentas.”

Entre as famílias de renda mais alta, ela acredita que uma parte das mulheres reduzirá suas jornadas ou até sairá —ainda que temporariamente— do mercado. Estudos mostram que essas interrupções geram efeitos duradouros em aspectos como salário e progressão na carreira.

Nas famílias menos favorecidas, as mães que precisam trabalhar vão, segundo Regina, buscar esquemas alternativos de cuidados para os filhos que, do ponto de vista da saúde pública, também podem ser ruins.

“Muitas mães, vivendo sozinhas ou com outro adulto que precise trabalhar, vão apelar para esquemas como uma vizinha que possa cuidar de seus filhos. Isso também tende a ter efeito negativo sobre a circulação do vírus.”

Soares disse na entrevista à Folha que o governo se preocupa com a situação econômica dos trabalhadores, mas que, neste momento, é a área da Saúde que estabelece prazos para a reabertura.

Especialistas dizem entender a preocupação prioritária com a saúde neste momento, mas ressaltam que, dada a longa duração da crise sanitária, é preciso pensar em políticas públicas e empresariais que evitem um aumento significativo das desigualdades.

Para Regina, é importante manter um auxílio emergencial para mães ou pais sozinhos com filhos pequenos que estejam impossibilitadas de trabalhar —na segunda (30), o governo anunciou que pagará mais R$ 1.200.

Subsídios para empresas que ofereçam esquema flexível e garantia de emprego aos trabalhadores —principalmente as mulheres— são outra solução citada por especialistas.

Cecilia menciona que políticas públicas em prol da saúde mental das famílias —incluindo extensão de licenças-maternidade— estão sendo adotadas em alguns países e poderiam ser consideradas no Brasil.

Outra medida seria a abertura antecipada de creches e escolas apenas para crianças cujos responsáveis não tenham com quem deixá-las.

“Se estamos com um Orçamento de guerra, precisamos discutir que parte será destinada a políticas que garantam que não sairemos da crise com um desigualdade de gênero maior que a que já tínhamos antes dela”, afirma Cecilia.

Foto da matéria: Marcelo Rocha/Folhapress
Originalmente publicado em https://www1.folha.uol.com.br/

Mulheres são as mais atingidas diante da crise econômica intensificada pela pandemia do coronavírus.

As mulheres ocupam hoje cargos em que a mão de obra é mais barata e com menor necessidade de instrução, assim, estão sendo as primeiras e as mais atingidas diante da crise econômica intensificada pela pandemia do coronavírus. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc) 7 milhões de mulheres perderam seus empregos na última quinzena de março, período de início da quarentena.
Comparado aos homens no mesmo período, o desemprego entre as mulheres é 40% maior (dois milhões a mais). Número que chama atenção, já que o primeiro trimestre mostrava que essa diferença era já de 25%.
A situação da mulher no mercado de trabalho, que já vinha piorando a cada ano com a crise capitalista, principalmente após o golpe em 2016 e a destruição da legislação trabalhista que aumentou o desemprego e o número mulheres trabalhadoras na informalidade; chegou ao ponto agora de haver uma maioria das mulheres fora da força de trabalho no país.
O desemprego e a falta de renda criam condições para que as mulheres sejam ainda mais oprimidas nos seus lares e dependentes economicamente de seus esposos ou famílias, como consequência já estamos vendo com o aumento da violência doméstica. Além disso, o desemprego atinge mais violentamente a estrutura familiar de lares chefiados por mulheres, já que quando as mesmas perdem o emprego e a renda toda a família entra em situação de vulnerabilidade econômica e também social.
A tendência é esse número de desemprego entre as mulheres aumentar ainda mais, já que muitas cidades estão fazendo a reabertura econômica, porém creches e escolas não estão sendo reabertas e as trabalhadoras não terão onde deixar seus filhos.
Os reflexos da crise economia e da pandemia são devastadores para as mulheres, especialmente as mais pobres. Um verdadeiro retrocesso no mundo todo, onde as mulheres estão sendo empurradas de volta ao lar e as tarefas domésticas, impossibilitando-as de gerar a sua própria renda e manter o sustento do lar. Situação essa que é agravada ainda mais no Brasil, sob o governo fascista de Bolsonaro que tem como principal marca o ataque aos trabalhadores.

Publicado em Justiça de saia

Pandemia da Covid-19 afeta mais as mulheres, afirmam pesquisadoras da UFPB

A pandemia de Covid-19 afeta mais as mulheres, grupo social mais vulnerável ao desemprego e pelo aumento da violência doméstica, segundo pesquisadoras da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). As integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas em Economia Política e Trabalho (Gepet) discutirão o assunto durante live nesta sexta-feira (22), a partir das 18h30, através do perfil do coletivo no Instagram.

De acordo com a professora Cláudia Costa Gomes, o intuito da ação é colaborar com o debate sobre a condição das mulheres na conjuntura causada pela pandemia, analisando as suas condições de trabalho em meio à crise e à violência sofrida por elas.

As debatedoras serão as pesquisadoras Leidiane Oliveira, professora do Departamento de Serviço Social da UFPB, e Emanuelle Galdino, técnica da Gerência Operacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, da Secretaria da Mulher e da Diversidade Humana da Paraíba.

Entre os principais dados que serão debatidos durante a transmissão ao vivo, estão as jornadas de trabalho extensas, marcadas pela divisão sexual do trabalho, e a inserção das mulheres no trabalho enquanto profissional de saúde.

As pesquisadoras analisarão dados do relatório “Mulheres no centro da luta contra a crise Covid-19”, divulgado no final de março pela ONU Mulheres, entidade da Organização das Nações Unidas para igualdade de gênero e empoderamento. Dados nacionais e regionais, como os da Secretaria de Segurança e da Defesa Social da Paraíba, também fundamentarão o debate.

A professora Leidiane Oliveira ressalta que, segundo os dados da ONU Mulheres e do Conselho Federal de Enfermagem, no Brasil, 85% dos trabalhadores de enfermagem são mulheres. Elas também são 45,6% da categoria dos médicos.

Além disso, 85% dos cuidadores de idosos são mulheres. “As mulheres também são maioria no trabalho informal, desprotegidas de direitos trabalhistas e impossibilitadas de ficar em quarentena pela necessidade de continuar trabalhando”.

Com as escolas com atividades presenciais suspensas, as mulheres estão tendo que se dedicar mais às crianças, aumentando, assim, a jornada de trabalho, que já era intensa. “Geralmente, são elas quem assumem o trabalho de casa e, por vezes, o trabalho de fora, o que soma a chamada dupla jornada, que agora praticamente se tornou uma tripla jornada em função dessas novas demandas no âmbito familiar”, diz a professora Leidiane.

A pesquisadora destaca, ainda, que, conforme dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, as ligações para a Central de Atendimento à Mulher pelo Ligue 180, relativas à violência doméstica, estão aumentando durante a pandemia.

Em abril, foi registrado o aumento de 35% no número de denúncias de violência contra as mulheres. Emanuelle Galdino vai discutir dados da Paraíba sobre violência doméstica e feminicídio.

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Reportagem: Aline Lins | Edição: Pedro Paz
Publicado em: www.UFPB.br

Aumenta procura por divórcio durante a pandemia

A procura por divórcio tem aumentado durante o período de isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19. Segundo a advogada da área de Família e Sucessões, Débora Guelman, o convívio intenso em virtude da quarentena tem sobrecarregado física e emocionalmente as famílias brasileiras.

“Esse isolamento social forçado pela pandemia aumenta o convívio entre os casais e justamente esse aumento do convívio gera conflitos. Por conta disso, a probabilidade de haver mais divórcios é muito maior”, disse Débora Guelman, em entrevista à Rádio Nacional.

A advogada afirma que cerca de 70% dos pedidos de divórcio são iniciados pelas mulheres, e a reclamação mais frequente é a tripla jornada. “Essas mulheres trabalham, cuidam dos filhos e cuidam da casa. Então, elas não aguentam relacionamentos machistas”, afirmou.

No Brasil há dois tipos de divórcios. No mais simples, chamado de “extrajudicial”, casais podem se separar de forma mais rápida, pelo cartório, amigavelmente. Já o divórcio judicial ou litigioso é realizado diante de um juiz e envolve questões mais complexas como falta de consenso entre o casal, partilha de bens, pensão e guarda de filhos.

“Se divorciar não é um processo rápido, pelo contrário. É um processo demorado e muito doloroso. Principalmente no aspecto emocional e no aspecto financeiro. Então, essa decisão de se divorciar envolve diversos fatores, que são impedimentos até para pessoa efetivar esse divórcio. Normalmente, a pessoa pensa por um ano e meio, até dois anos, antes de se efetivar o pedido”, explicou Débora Guelman.

APOIO

Em Belo Horizonte, um grupo terapêutico formado por três psicólogas e a advogada Gabriela Sallit foi criado para auxiliar mulheres que estão passando por esse momento. O grupo se reúne por meio de uma plataforma online, com participação de três a seis pessoas.

“O isolamento causado pela pandemia acirrou os conflitos nas relações, mas, por outro lado, dificultou o acesso aos advogados e ao Judiciário; e a recursos essenciais em uma separação, como mudar de casa, por exemplo”, explicou a psicóloga Lívia Guimarães, uma das responsáveis pela condução do grupo.

O grupo reúne mulheres que passam pelo momento pós-divórcio e aquelas que ainda estão se preparando para tomar essa decisão.

“Muitas vezes elas não têm com quem compartilhar suas angústias, suas dores, não tem o conhecimento de outras para aprenderem, não tem o acolhimento de quem passou pelo que elas estão vivendo”, disse a psicóloga.

Segundo Lívia Guimarães, depois do atendimento em grupo, as mulheres passam por uma escuta individual para orientações específicas.

“A posteriori do grupo, ofereceremos um plantão de acolhimento individual para essas mulheres entrarem em contato e para que possamos escutá-las na sua singularidade. Não é um dispositivo terapêutico. Mas um espaço para acolher alguma demanda ou sofrimento que por ventura o grupo possa ter desencadeado”, acrescentou a psicóloga.

Fonte e foto: Agência Brasil

𝗠𝗔𝗡𝗜𝗙𝗘𝗦𝗧𝗢 𝗗𝗢 𝗟𝗘𝗩𝗔𝗡𝗧𝗘 𝗗𝗔𝗦 𝗠𝗨𝗟𝗛𝗘𝗥𝗘𝗦 𝗕𝗥𝗔𝗦𝗜𝗟𝗘𝗜𝗥𝗔𝗦

Já fomos às ruas dizer que “Quem Ama não Mata”, lutamos pelas “Diretas Já”, pelo “Fora Cunha”, “Fora Temer”, dissemos “Nenhuma a menos”. Bebemos da experiência das Marchas das Margaridas, da Marcha de Mulheres Negras, e, nas últimas eleições, gritamos que “Ele não”!

Agora, voltamos para avisar: “Ele Cai!”

A política do (des)governo Bolsonaro – que mata diariamente cerca de mil brasileiros por Covid-19, amplifica a necropolítica e o genocídio de jovens negros, aumenta a desigualdade e o empobrecimento da população, retira direitos e faz apologia à ditadura e ao fascismo – mobilizou o Levante das Mulheres a produzir este manifesto.

Em 2020, a crise sanitária potencializou as crises econômica, política, ambiental, cultural e social, escancarando as desigualdades de classe, de raça e de gênero no mundo.
O racismo estrutural e as desigualdades impostas às mulheres – especialmente às negras e pobres – jogam sobre todas os impactos dessa realidade. A responsabilidade com a produção e a reprodução da vida nos esgota física e mentalmente.

Bolsonaro, com suas ações negacionistas, misóginas e racistas, amplia o sofrimento da população. O faz quando dificulta o pagamento do auxílio emergencial e nos empurra para a morte, ao dizer que a economia vale mais que a vida, e autoriza os patrões a exigir que continuemos trabalhando sob o risco de contágio.

Os impactos da pandemia não são iguais para todas, todes e todos. Mulheres negras e pobres, trabalhadoras informais, domésticas e as que estão na ponta dos serviços essenciais de saúde têm sua condição agravada, pois muitas vivem em moradias precárias em favelas e comunidades, sem água e esgoto, e sem acesso à saúde pública. Estão nas ruas batalhando pelo sustento da família e enfrentam a lida da casa, os cuidados com as crianças, idosos, doentes e parentes encarcerados. Essas mulheres perdem seus filhos, irmãos e netos para a brutalidade policial, pautada em uma política de segurança pública equivocada.

A realidade é cruel também para as indígenas, mulheres de comunidades e povos tradicionais, que têm suas terras ameaçadas e seu povo trucidado por grileiros, garimpeiros e desmatadores. Para as ribeirinhas que defendem as águas de onde tiram a pesca, o sustento. Para lésbicas e trans dizimadas todos os dias. Para as vítimas de violência doméstica e feminicídio, crimes que aumentaram na pandemia.

Estamos em luta por nós, por elas, por todas!

Assinamos este manifesto inspiradas nas lutas feministas de todo mundo e lembrando que fomos capazes de construir a resistência ao longo da história do Brasil.

Estamos unidas, mais uma vez, em 2020.

Agora, para tirar Bolsonaro do poder. Ele cai!

Somos mulheres negras, brancas, indígenas, lésbicas, bissexuais, trans, travestis, heterossexuais, quilombolas, ciganas, mulheres com deficiência, ativistas e cyberativistas, jovens, idosas, ribeirinhas, da floresta, do campo, estudantes, educadoras, donas de casa, militantes, artistas, desempregadas, profissionais liberais, profissionais do sexo, servidoras públicas, pesquisadoras, pequenas empreendedoras, celetistas, profissionais da saúde, de serviços essenciais, antiproibicionistas, defensoras de direitos humanos e de mais mulheres na política, católicas, evangélicas, judias, de terreiro, muçulmanas, sem religião, mas com fé na força de cada uma de nós.

Lutamos pelo fim da escravidão e do fascismo, contra a ditadura militar e pela democracia. Exigimos resposta sobre Quem Mandou Matar Marielle e vamos derrubar Bolsonaro e Mourão!

Convocamos as instituições da República a cumprirem seus papéis. Já existem na Câmara dos Deputados inúmeros pedidos de Impeachment; no TSE, diversas ações pela cassação da chapa Bolsonaro/Mourão por fraude eleitoral. O STF, enfim, precisa responsabilizar o presidente, que segue descumprindo a Constituição, atentando contra a liberdade e produzindo a morte de brasileiros e brasileiras.

Chamamos todas e todes à insurgência para se somarem ao Levante das Mulheres pelo fim do governo Bolsonaro!

Irmanadas. Diversas, mas não dispersas.

Não temos dúvida do nosso poder.

ASSINE AQUI: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScy4S3ofcagrZ-2tWNSxwR6S4ZDCIqBjxik4H0pb9drYsZ2uA/viewform

Vítimas de violência doméstica poderão fazer denúncia em farmácias

Uma campanha promovida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) pretende incentivar as vítimas de violência doméstica a denunciarem agressões nas farmácias.

Pela campanha Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica, que será lançada nesta quarta-feira (10), basta mostrar um X vermelho na palma da mão para que o atendente ou o farmacêutico entenda tratar-se de uma denúncia e em seguida acione a polícia e encaminhe o acolhimento da vítima.

A ação é voltada para as mulheres que têm dificuldade para prestar queixa de abusos, seja por vergonha ou por medo. “A vítima, muitas vezes, não consegue denunciar as agressões porque está sob constante vigilância. Por isso, é preciso agir com urgência”, disse a presidente da AMB, Renata Gil, de acordo com o material da campanha.

Cerca de 10 mil farmácias de todo o país, filiadas a duas associações do setor, são parceiras na iniciativa. Segundo o material da campanha, atendentes e farmacêuticos seguirão protocolos preestabelecidos para lidar com a situação e não necessariamente serão chamados a testemunhar nos casos.

Entre março e abril deste ano, já em meio à pandemia do novo coronavírus, os casos de feminicídio cresceram 22,2% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com um levantamento feito em 12 estados e divulgado na semana passada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

No mesmo levantamento, o FBSP apontou queda na abertura de boletins de ocorrência ligados à violência doméstica. Para a entidade, os dados do levantamento demonstram que, ao mesmo tempo em que estão mais vulneráveis durante a crise sanitária, as mulheres têm tido mais dificuldade para formalizar queixa contra os agressores.

Matéria originalmente publicado em https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/

STJ concede direito à aposentadoria de primeira militar transexual do Brasil

Chegou ao fim a batalha judicial de 14 anos entre Maria Luiza da Silva, de 59 anos, e a FAB (Força Aérea Brasileira). O STJ (Superior Tribunal de Justiça) negou recurso da União e reconheceu discriminação na aposentadoria compulsória a qual foi submetida no início dos anos 2000. Ela é a primeira mulher transexual da FAB e foi reformada por ser considerada “incapaz”.

A decisão do dia 23 de maio foi divulgada hoje pelo STJ. Assinada pelo ministro Herman Benjamin, documento diz que Maria Luiza tem o direito de se aposentar no último posto da carreira militar no quadro de Praças, o de subtenente “pois lhe foi tirado o direito de progredir na carreira devido a um ato administrativo ilegal, nulo, baseado em irrefutável discriminação.”

″É legítimo que a agravada receba a aposentadoria integral no posto de subtenente, pois lhe foi tirado o direito de progredir na carreira devido a um ato administrativo ilegal, nulo, baseado em irrefutável discriminação. Não há dúvida, assim, de que a agravante foi prejudicada em sua vida profissional por causa da transexualidade”, afirmou o ministro.

Ficou determinado que a militar deve permanecer no imóvel funcional da FAB que ocupa atualmente, localizado no Cruzeiro Novo, região do Distrito Federal, até que seja implantada a aposentadoria integral determinada em decisão.

Em fevereiro deste ano, o ministro já havia concedido medida cautelar para que a militar permanecesse no imóvel até a decisão final sobre sua aposentadoria. Em razão da notícia de que o Comando da Aeronáutica estaria descumprindo a decisão e exigindo que a militar arcasse com multas por prosseguir no imóvel, o relator também determinou a suspensão dessa cobrança e a devolução integral dos valores já descontados.

Decisão é considerada histórica. Em 2000, quando ainda era era cabo da Aeronáutica, Maria Luiza realizou a cirurgia de redesignação sexual, mas também recebeu o parecer do Alto Comando, que a diagnosticou como “incapaz, definitivamente, para o serviço militar”, mas “não inválido, incapacitado total ou permanentemente para qualquer trabalho”.

A justificativa teve como base o artigo 108, do Estatuto dos Militares, que estabelece como hipótese de incapacidade definitiva e permanente para os integrantes das Forças Armadas “acidente ou doença, moléstia ou enfermidade sem relação de causa e efeito com o serviço militar.”

Mas Maria Luiza não estava doente ou tinha sofrido algum acidente e sua batalha na Justiça por 20 anos ganhou documentário homônimo do cineasta brasiliense Marcelo Díaz, que estreou em festivais pelo País no ano passado.

“Queria tirar a Maria Luiza de dentro de mim, parar de escondê-la. Tinha a esperança de ser aceita pela FAB, de usar a farda feminina. Então, procurei os médicos da Aeronáutica para comunicar minha decisão. Eles ficaram surpresos. Por dois anos, fui impedida de trabalhar. Sofri ameaças e maus-tratos”, contou

“Eu me senti péssima quando fui obrigada a me afastar. Foi horrível saber que não poderia vestir minha farda nem exercer minhas funções. Quem ama o que faz e é obrigado a parar sofre”, disse.

matéria originalmente publicado em huffpostbrasil

TMJ abre seleção de voluntárias em Minas Gerais

A TamoJunta, nesta quarta-feira (03), abriu processo seletivo para novas voluntárias em Minas Gerais. Se você é profissional das áreas do Direito, do Serviço Social ou da Psicologia, e pretende atuar no enfrentamento à violência contra a mulher, este é o momento.

A TamoJuntas é organização social que presta assessoria gratuita a mulheres em situação de violência e atua de forma voluntária em todas as regiões do país, na orientação, acompanhamento e acolhimento de mulheres em situação de violência e vulnerabilidade social. Para participar da seleção, você deve enviar um currículo atualizado e uma carta de intenção para tamojuntas.mg@tamojuntas.org.br, onde a Instituição conhecerá um pouco do seu perfil e da sua trajetória.

Neste momento, a seleção é somente para reforçar o time de voluntárias em Minas, mas, posteriormente, contemplará interessadas de outros estados.

 

SERVIÇO:

O Quê: Processo Seletivo TamoJuntas (Minas Gerais)

Quando: de 03 a 30 de junho

Inscrições: tamojuntas.mg@tamojuntas.org.br

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