Já fomos às ruas dizer que “Quem Ama não Mata”, lutamos pelas “Diretas Já”, pelo “Fora Cunha”, “Fora Temer”, dissemos “Nenhuma a menos”. Bebemos da experiência das Marchas das Margaridas, da Marcha de Mulheres Negras, e, nas últimas eleições, gritamos que “Ele não”!
Agora, voltamos para avisar: “Ele Cai!”
A política do (des)governo Bolsonaro – que mata diariamente cerca de mil brasileiros por Covid-19, amplifica a necropolítica e o genocídio de jovens negros, aumenta a desigualdade e o empobrecimento da população, retira direitos e faz apologia à ditadura e ao fascismo – mobilizou o Levante das Mulheres a produzir este manifesto.
Em 2020, a crise sanitária potencializou as crises econômica, política, ambiental, cultural e social, escancarando as desigualdades de classe, de raça e de gênero no mundo.
O racismo estrutural e as desigualdades impostas às mulheres – especialmente às negras e pobres – jogam sobre todas os impactos dessa realidade. A responsabilidade com a produção e a reprodução da vida nos esgota física e mentalmente.
Bolsonaro, com suas ações negacionistas, misóginas e racistas, amplia o sofrimento da população. O faz quando dificulta o pagamento do auxílio emergencial e nos empurra para a morte, ao dizer que a economia vale mais que a vida, e autoriza os patrões a exigir que continuemos trabalhando sob o risco de contágio.
Os impactos da pandemia não são iguais para todas, todes e todos. Mulheres negras e pobres, trabalhadoras informais, domésticas e as que estão na ponta dos serviços essenciais de saúde têm sua condição agravada, pois muitas vivem em moradias precárias em favelas e comunidades, sem água e esgoto, e sem acesso à saúde pública. Estão nas ruas batalhando pelo sustento da família e enfrentam a lida da casa, os cuidados com as crianças, idosos, doentes e parentes encarcerados. Essas mulheres perdem seus filhos, irmãos e netos para a brutalidade policial, pautada em uma política de segurança pública equivocada.
A realidade é cruel também para as indígenas, mulheres de comunidades e povos tradicionais, que têm suas terras ameaçadas e seu povo trucidado por grileiros, garimpeiros e desmatadores. Para as ribeirinhas que defendem as águas de onde tiram a pesca, o sustento. Para lésbicas e trans dizimadas todos os dias. Para as vítimas de violência doméstica e feminicídio, crimes que aumentaram na pandemia.
Estamos em luta por nós, por elas, por todas!
Assinamos este manifesto inspiradas nas lutas feministas de todo mundo e lembrando que fomos capazes de construir a resistência ao longo da história do Brasil.
Estamos unidas, mais uma vez, em 2020.
Agora, para tirar Bolsonaro do poder. Ele cai!
Somos mulheres negras, brancas, indígenas, lésbicas, bissexuais, trans, travestis, heterossexuais, quilombolas, ciganas, mulheres com deficiência, ativistas e cyberativistas, jovens, idosas, ribeirinhas, da floresta, do campo, estudantes, educadoras, donas de casa, militantes, artistas, desempregadas, profissionais liberais, profissionais do sexo, servidoras públicas, pesquisadoras, pequenas empreendedoras, celetistas, profissionais da saúde, de serviços essenciais, antiproibicionistas, defensoras de direitos humanos e de mais mulheres na política, católicas, evangélicas, judias, de terreiro, muçulmanas, sem religião, mas com fé na força de cada uma de nós.
Lutamos pelo fim da escravidão e do fascismo, contra a ditadura militar e pela democracia. Exigimos resposta sobre Quem Mandou Matar Marielle e vamos derrubar Bolsonaro e Mourão!
Convocamos as instituições da República a cumprirem seus papéis. Já existem na Câmara dos Deputados inúmeros pedidos de Impeachment; no TSE, diversas ações pela cassação da chapa Bolsonaro/Mourão por fraude eleitoral. O STF, enfim, precisa responsabilizar o presidente, que segue descumprindo a Constituição, atentando contra a liberdade e produzindo a morte de brasileiros e brasileiras.
Chamamos todas e todes à insurgência para se somarem ao Levante das Mulheres pelo fim do governo Bolsonaro!
Uma campanha promovida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) pretende incentivar as vítimas de violência doméstica a denunciarem agressões nas farmácias.
Pela campanha Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica, que será lançada nesta quarta-feira (10), basta mostrar um X vermelho na palma da mão para que o atendente ou o farmacêutico entenda tratar-se de uma denúncia e em seguida acione a polícia e encaminhe o acolhimento da vítima.
A ação é voltada para as mulheres que têm dificuldade para prestar queixa de abusos, seja por vergonha ou por medo. “A vítima, muitas vezes, não consegue denunciar as agressões porque está sob constante vigilância. Por isso, é preciso agir com urgência”, disse a presidente da AMB, Renata Gil, de acordo com o material da campanha.
Cerca de 10 mil farmácias de todo o país, filiadas a duas associações do setor, são parceiras na iniciativa. Segundo o material da campanha, atendentes e farmacêuticos seguirão protocolos preestabelecidos para lidar com a situação e não necessariamente serão chamados a testemunhar nos casos.
Entre março e abril deste ano, já em meio à pandemia do novo coronavírus, os casos de feminicídio cresceram 22,2% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com um levantamento feito em 12 estados e divulgado na semana passada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
No mesmo levantamento, o FBSP apontou queda na abertura de boletins de ocorrência ligados à violência doméstica. Para a entidade, os dados do levantamento demonstram que, ao mesmo tempo em que estão mais vulneráveis durante a crise sanitária, as mulheres têm tido mais dificuldade para formalizar queixa contra os agressores.
Matéria originalmente publicado em https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/
Chegou ao fim a batalha judicial de 14 anos entre Maria Luiza da Silva, de 59 anos, e a FAB (Força Aérea Brasileira). O STJ (Superior Tribunal de Justiça) negou recurso da União e reconheceu discriminação na aposentadoria compulsória a qual foi submetida no início dos anos 2000. Ela é a primeira mulher transexual da FAB e foi reformada por ser considerada “incapaz”.
A decisão do dia 23 de maio foi divulgada hoje pelo STJ. Assinada pelo ministro Herman Benjamin, documento diz que Maria Luiza tem o direito de se aposentar no último posto da carreira militar no quadro de Praças, o de subtenente “pois lhe foi tirado o direito de progredir na carreira devido a um ato administrativo ilegal, nulo, baseado em irrefutável discriminação.”
″É legítimo que a agravada receba a aposentadoria integral no posto de subtenente, pois lhe foi tirado o direito de progredir na carreira devido a um ato administrativo ilegal, nulo, baseado em irrefutável discriminação. Não há dúvida, assim, de que a agravante foi prejudicada em sua vida profissional por causa da transexualidade”, afirmou o ministro.
Ficou determinado que a militar deve permanecer no imóvel funcional da FAB que ocupa atualmente, localizado no Cruzeiro Novo, região do Distrito Federal, até que seja implantada a aposentadoria integral determinada em decisão.
Em fevereiro deste ano, o ministro já havia concedido medida cautelar para que a militar permanecesse no imóvel até a decisão final sobre sua aposentadoria. Em razão da notícia de que o Comando da Aeronáutica estaria descumprindo a decisão e exigindo que a militar arcasse com multas por prosseguir no imóvel, o relator também determinou a suspensão dessa cobrança e a devolução integral dos valores já descontados.
Decisão é considerada histórica. Em 2000, quando ainda era era cabo da Aeronáutica, Maria Luiza realizou a cirurgia de redesignação sexual, mas também recebeu o parecer do Alto Comando, que a diagnosticou como “incapaz, definitivamente, para o serviço militar”, mas “não inválido, incapacitado total ou permanentemente para qualquer trabalho”.
A justificativa teve como base o artigo 108, do Estatuto dos Militares, que estabelece como hipótese de incapacidade definitiva e permanente para os integrantes das Forças Armadas “acidente ou doença, moléstia ou enfermidade sem relação de causa e efeito com o serviço militar.”
Mas Maria Luiza não estava doente ou tinha sofrido algum acidente e sua batalha na Justiça por 20 anos ganhou documentário homônimo do cineasta brasiliense Marcelo Díaz, que estreou em festivais pelo País no ano passado.
“Queria tirar a Maria Luiza de dentro de mim, parar de escondê-la. Tinha a esperança de ser aceita pela FAB, de usar a farda feminina. Então, procurei os médicos da Aeronáutica para comunicar minha decisão. Eles ficaram surpresos. Por dois anos, fui impedida de trabalhar. Sofri ameaças e maus-tratos”, contou
“Eu me senti péssima quando fui obrigada a me afastar. Foi horrível saber que não poderia vestir minha farda nem exercer minhas funções. Quem ama o que faz e é obrigado a parar sofre”, disse.
A TamoJunta, nesta quarta-feira (03), abriu processo seletivo para novas voluntárias em Minas Gerais. Se você é profissional das áreas do Direito, do Serviço Social ou da Psicologia, e pretende atuar no enfrentamento à violência contra a mulher, este é o momento.
A TamoJuntas é organização social que presta assessoria gratuita a mulheres em situação de violência e atua de forma voluntária em todas as regiões do país, na orientação, acompanhamento e acolhimento de mulheres em situação de violência e vulnerabilidade social. Para participar da seleção, você deve enviar um currículo atualizado e uma carta de intenção para tamojuntas.mg@tamojuntas.org.br, onde a Instituição conhecerá um pouco do seu perfil e da sua trajetória.
Neste momento, a seleção é somente para reforçar o time de voluntárias em Minas, mas, posteriormente, contemplará interessadas de outros estados.
SERVIÇO:
O Quê: Processo Seletivo TamoJuntas (Minas Gerais)
A única forma de aborto legal é camisinha e pílula”, diz a atendente da maternidade do Hospital das Clínicas de Botucatu (SP), quando questionada se o hospital oferece o serviço de aborto legal. Antes dela, outra colega havia desligado o telefone ao ouvir a pergunta. Somente após a reportagem explicar sobre os casos previstos em lei é que a ligação foi transferida para uma enfermeira, que informou que o serviço estava funcionando.
No hospital Universitário Ebserh Polydoro Ernani, em Florianópolis (SC), ao ser perguntada sobre a oferta do serviço, uma funcionária respondeu em tom de deboche: “Jamais”. Após insistência da reportagem, ela encaminhou a ligação para a maternidade. A resposta: “Não é aborto legal, meu anjo, não existe isso aqui, depende do protocolo”.
A lei no Brasil garante que a interrupção da gestação é permitida para vítimas de violência sexual, casos de anencefalia do feto e quando há risco à vida da gestante. No entanto, o acesso a esse direito nem sempre é garantido. Por isso, checamos como está o atendimento durante a pandemia.
Os telefonemas fazem parte de um levantamento realizado pela Artigo 19, em parceria com a revista AzMina e a Gênero e Número, para identificar como está o serviço de aborto legal no Sistema Único de Saúde (SUS) durante a pandemia do novo coronavírus. Entre 27 de abril e 4 de maio deste ano, as organizações entraram em contato por telefone com os 76 hospitais que realizavam a interrupção legal de gravidez, identificados em 2019 pelo Mapa do Aborto Legal, da Artigo 19. Pouco mais da metade (55%) mantêm o serviço durante a pandemia de covid-19. E boa parte dos atendimentos evidenciam o desconhecimento de diversos funcionários da saúde sobre os casos de aborto previstos em lei.
O Hospital das Clínicas de Botucatu (SP) é uma das 42 unidades de saúde onde o serviço continua funcionando. Outros 17 hospitais suspenderam o serviço devido à pandemia ou afirmaram que não o realizavam mais. Além disso, três simplesmente não souberam informar se o procedimento estava disponível. Por fim, não foi possível entrar em contato com outras 14 unidades de saúde.
O posicionamento contrário dos profissionais de saúde quanto ao aborto legal também ficou claro em alguns casos. Na Maternidade Dona Evangelina Rosa, em Teresina (PI), após a reportagem repetir três vezes a pergunta sobre o serviço, aos gritos, a atendente disse que “não existia aborto legal no país” e desligou o telefone em seguida.
Na Policlínica e Maternidade Professor Barros Lima, em Recife (PE), o atendente apresentou diferentes justificativas para a falta de informação: primeiro disse que não sabia para onde direcionar as dúvidas sobre o acesso ao serviço, já que trabalhava há pouco tempo no hospital. Depois afirmou que o responsável pelo serviço não se encontrava.
Ano passado, o trabalho da Artigo 19 havia identificado 176 hospitais cadastrados para o serviço ou que fizeram o procedimento nos últimos dez anos. Mas verificou também que apenas 76 prestavam, de fato, o serviço. Estes foram novamente contatados para a realização desta reportagem.
“Sempre foi essa guerra. Um número grande de hospitais diz que oferece o serviço, mas, na verdade, ele não está disponível. Neste momento, a política e o próprio Ministério da Saúde têm deixado de trabalhar essa questão, devido à pressão sobre tudo que envolve interrupção da gestação. Este atendimento às mulheres já vinha piorando antes da pandemia, e agora os serviços estão se utilizando também dessa nova desculpa para dificultar o acesso”, destaca Marcos Augusto Bastos Dias, ginecologista e obstetra do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz).
Segundo Dias, existe despreparo e má vontade de dar visibilidade a um serviço que as maternidades muitas vezes fazem a contragosto: “Se considerarmos que a recepção da gestante vai do segurança, na porta da maternidade, ao diretor, pouca gente sabe efetivamente qual é o fluxo do atendimento e como deve ser o acolhimento da gestante, para que ela não precise contar a história na recepção, na sala de exame e novamente para a enfermeira”.
Para o ginecologista, a diminuição dos serviços de interrupção da gravidez em casos previstos na lei é uma questão grave. “A legislação no Brasil já é super restritiva. As mulheres enfrentam muitas dificuldades para conseguir a interrupção legal. Não é imaginável que, neste momento, os serviços se recusem a realizar os procedimentos de interrupção legal da gestação. O atendimento para realização do aborto legal é um serviço essencial”. Poucos dias após decretar a pandemia causada pelo novo coronavírus, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que o direito à contracepção fosse respeitado, “independentemente da epidemia da covid-19”.
Desertos de atendimento
Em 13 estados brasileiros e no Distrito Federal, não há qualquer serviço disponível de interrupção legal da gestação. No Pará, por exemplo, a usuária do SUS teria que se deslocar para Amazonas ou Tocantins para ser atendida. E nos estados onde há atendimento, ele se concentra majoritariamente nas capitais.
Com o número reduzido, cada hospital deve atender, em média, à demanda de 179 cidades do país. São Paulo é o estado com maior número de hospitais que oferecem o serviço: oito, sendo seis na capital paulista. Já a Região Norte conta com apenas duas unidades de saúde onde há serviço de aborto legal, em Manaus (AM) e Palmas (TO).
Diante deste cenário, dos 17 hospitais que suspenderam ou não realizam mais o serviço, apenas cinco informaram em qual outro hospital seria possível conseguir o procedimento. O Hospital Maternidade de Piabetá, na cidade de Magé (RJ), instruiu a usuária a buscar hospitais na capital.
Gabriela Rondon, pesquisadora do Anis – Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, destaca que a quarentena dificulta ainda mais o acesso ao serviço: “A suspensão do aborto legal é uma grave violação dos direitos das mulheres nesse momento, ainda mais considerando que a capacidade de mobilidade das mulheres está reduzida. Uma gestante não pode atravessar um estado para buscar atendimento”.
Segundo Rondon, o isolamento aumenta os episódios de violência contra a mulher, inclusive sexual, um dos fatores que pode levar as vítimas a buscarem o aborto legal: “Esses dados expressam problemas crônicos que temos no Brasil: baixa oferta desse serviço e dificuldade de acesso a informação sobre sua disponibilidade. Esses problemas são anteriores à pandemia, já que a cobertura da interrupção legal da gravidez já era muito pequena para um país do tamanho do Brasil”.
A violência física e sexual contra mulheres aumentou durante o isolamento social provocado pelo coronavírus. O número de feminicídios cresceu 22% em 12 estados brasileiros nos meses de março e abril, segundo um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em 2018, o país registrou 180 estupros por dia e 81% das vítimas eram mulheres, segundo dados do Anuário Brasileiro da Segurança Pública publicado pelo mesmo Fórum.
Para o ginecologista e obstetra da Fiocruz, essa é uma das maneiras de punir a mulher mais uma vez, em especial as vítimas de violência, que têm que passar pelo constrangimento de relatar a violência sexual em uma delegacia e para a equipe de saúde. “Muitos serviços partem do princípio de que as mulheres buscam o aborto mentindo para os profissionais de saúde. São motivados por preconceito ou por achar que, se os serviços não exigirem o boletim, vão virar clínicas de aborto. O profissional tem que estar atento às demandas da mulher e não ter o papel de polícia. Existe um enorme preconceito contra essa questão e cria-se todo tipo de desculpas para dificultar o acesso” pontua.
O foco do acolhimento para vítimas de violência são os fatos que elas levam ao serviço de acolhimento, explica Sandra Leite, coordenadora do Centro de Atenção à Mulher Vítima de Violência Sony Santos, em Recife (PE): “O B.O. não é uma prerrogativa. Aqui é um serviço de saúde, não de justiça. Nós trabalhamos de acordo com a norma técnica do Ministério da Saúde e ela não pede boletim de ocorrência. O que a mulher traz como história de vida é a verdade. O que a permite entrar no protocolo são as datas dos acontecimentos e os exames; então a equipe avalia se caso se encaixa no protocolo”.
Na pandemia, o centro recifense mantém o atendimento 24 horas, mas a procura por acolhimento de vítimas de violência caiu. Sandra Leite acredita ser um efeito das medidas de isolamento social na cidade. O Centro Sony Santos trabalha em parceria com a Delegacia da Mulher para registrar os casos de violência sexual, se as vítimas desejarem. A lei 12.845/2013 determina que é papel do serviço de saúde estimular o registro das ocorrências.
A maternidade Odete Valadares em Belo Horizonte (MG) e o hospital Universitário Ebserh Polydoro Ernani em Florianópolis (SC) afirmaram não ser permitida a presença de acompanhante durante o procedimento, o que fere o direito das gestantes expresso na Lei Federal nº 11.108/2005. Segundo Dias, no início da pandemia e por medo da contaminação de gestantes saudáveis, maternidades do mundo todo decidiram separar as mulheres, que ficavam sozinhas: “Mas rapidamente as maternidades viram que essa era uma situação inimaginável, de perda de direito, e isso foi revertido. Restringir o direito a um acompanhante não se justifica. Existem maneiras de permitir que a mulher tenha um acompanhante sem trazer mais riscos para outras pessoas”.
Cumprimento da lei e prevenção à covid-19
O levantamento também buscou saber as medidas de prevenção das unidades de saúde sobre o contágio pelo novo coronavírus. A principal recomendação dos hospitais para a proteção da gestante ao acessar o serviço de aborto legal foi o uso de máscara, mencionado por 35 unidades; quatro mencionaram a lavagem de mãos e uma destacou o uso de álcool em gel.
Com um ministro de Saúde interino desde 15 de abril e um número crescente de mortos por covid-19 no país, Marcos Augusto Bastos Dias, do Instituto Fernandes Figueira, afirma que neste momento os direitos sexuais e reprodutivos não devem ser ignorados, mas que dificilmente esse monitoramento vai partir do Ministério.
“Nesse momento, as mulheres que vão ter que se fazer ouvir, porque não vejo nenhuma iniciativa que não venha delas e do terceiro setor. Somente por pressão esta questão será pautada e cobrada das maternidades. As mulheres estão sozinhas, desprotegidas e com acesso restrito a um serviço essencial”, explica o ginecologista e obstetra.
Casos de bom atendimento
O levantamento também mostrou o cumprimento da lei e bom atendimento em alguns casos. Um deles foi o Hospital Júlia Kubitschek, em Belo Horizonte (MG), onde a funcionária perguntou quanto tempo a usuária do serviço tinha de gestação, se vivia sozinha e se tinha alguém que sabia da situação. Em seguida, pediu seu contato e disse que retornaria para agendar. No Hospital Municipal Tide Setubal, em São Paulo (SP), a atendente apenas quis agendar a consulta, sem muitas perguntas.
“As pessoas precisam entender que o acesso ao aborto legal é um cuidado em saúde absolutamente essencial em qualquer momento e ainda mais essencial em uma crise. A maioria das vítimas são meninas, adolescentes e crianças, e não podemos imaginar o que significa para o futuro dessas jovens não ter acesso a esse serviço nesse momento. Não é algo que pode ser adiado ou ignorado”, finaliza a pesquisadora da Anis.
*Vitória Régia é repórter da Gênero e Número e Leticia Ferreira é repórter da Revista AzMina
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso (OAB-MT), Leonardo Campos, de 41 anos, foi preso na noite dessa quarta-feira (27) suspeito de agredir a mulher dele, Luciana Póvoas Lemos, de 42 anos, em Cuiabá. Leonardo negou as agressões (veja a versão dele ao final da matéria) e foi liberado na manhã desta quinta-feira (28).
De acordo com a Polícia Militar, os policiais foram chamados pela mulher de Leonardo, que também é advogada, por volta de 22h no condomínio do casal, localizado no bairro Goiabeiras.
Luciana contou que Leonardo chegou em casa e eles tiveram uma discussão. Ela afirmou que foi empurrada e xingada pelo marido. Também revelou que não foi a primeira vez que isso aconteceu.
No boletim de ocorrência, a mulher detalhou à PM que o marido aparentava ter ingerido bebida alcoólica.
O advogado foi conduzido pela PM à Central de Flagrantes do bairro Verdão, em Cuiabá.
O advogado Rodrigo Marinho, da Associação Brasileira de Advogados Criminalista (Abracrim), acompanhou o caso.
Autuado na Lei Maria da Penha
De acordo com a Polícia Civil, o caso foi registrado como’ injúria real com vias de fato’.
O suspeito foi conduzido pela equipe da Polícia Militar para a delegacia, ouvido pela delegada plantonista e foi autuado em delito flagrante delito pelos crimes previstos no Artigo 140 do Código Penal (injúria pela Lei Maria da Penha), e Art. 140 – § 2º.
O caso será encaminhado para a Delegacia da Mulher de Cuiabá.
Outro lado
Em nota enviada à imprensa no final da manhã desta quinta-feira, o presidente da OAB negou as agressões.
Na nota, o presidente afirma que, na delegacia, Luciana prestou o depoimento assistida pela presidente do Conselho Estadual de Defesa da Mulher e também afirmou – está registrado em Boletim de Ocorrência – que não houve agressão. Tanto que não houve sequer necessidade do exame de corpo de delito.
NOTA: Esse artigo mostra conteúdo sexual e descrições de abuso infantil que podem ser perturbadores a alguns leitores. As mensagens, imagens e conversas que apresento aqui são reais.
Estou em um banheiro com a bainha de um moletom azul claro embaixo do meu queixo enquanto faço um curativo áspero ao redor da minha caixa torácica. O espelho serve como guia enquanto envolvo e envolvo repetidamente as ataduras em volta do meu sutiã esportivo, amarrando meus seios. Saio do banheiro e encontro minha equipe esperando.
“Isso parece ok?”
Recebo acenos de cabeça como resposta, como a arte de Avery direciona, então levanto meus braços e inclino a cabeça em direção à câmera. Normalmente, eu não estou em roupas consideradas para garotas adolescentes. Normalmente, eu não tenho unhas pintadas com esmalte brilhante, ou chiquinhas de cabelo neon nos pulsos. Normalmente, estou vestida, eu suponho, como uma mãe média de 37 anos. Com sapatos razoavelmente confortáveis.
Reid tira algumas fotos minhas. Ela vai com Avery para o nosso centro de comando improvisado — uma sala de jantar reaproveitada, agora coberta com quadros de cortiça, mapas, papéis e monitores de computador. As sobrancelhas de Will franzem enquanto ele rapidamente edita as fotos.
Vou para a cozinha para dar espaço para ele. Estamos nos preparando para a parte mais pesada do dia, que sabemos por experiência própria que será acelerada e emocionalmente desgastante.
“Está pronto”, Will diz do centro de comando. Alguns de nós nos reunimos em frente à tela de computador e examinamos.
“Sim, eu compro”, diz Brian. Brian é o CEO da Bark, a companhia que está liderando esse projeto. A Bark usa a Inteligência Artificial para alertar pais e escolas quando crianças estão sofrendo situações como cyberbullying, depressão, ameaças de violência — ou, nesse caso, sendo alvos de predadores sexuais. Atualmente, cobrimos cerca de 4 milhões de crianças, e analisamos ao redor de 20 milhões de atividades por dia. Observo Brian estudando a tela de computador e considero sua avaliação. Eu aceno e suspiro. Também compro.
Com a ajuda do contexto — vestimenta, plano de fundo, estilo de cabelo — e a mágica da manipulação de imagem, não estamos mais encarando uma foto minha, uma mulher adulta com pés de galinha. Estamos vendo uma foto de uma garota de 11 anos fictícia chamada Bailey, e não importa quantas vezes façamos isso, os resultados ainda são enervantes. Não porque estamos criando uma criança do nada, mas porque estamos colocando Bailey deliberadamente em perigo para mostrar exatamente quão difundida é a questão predatória para a geração Z.
A maioria das garotas de 11 anos são pré-puberes. Ainda não tiveram a primeira menstruação, e geralmente elas não usam sutiãs que são categorizados com letras e números para definir tamanhos. Seus hobbies e interesses variam, mas amplamente não estão pensando sobre relações sexuais ou órgão sexuais ou sexo de forma alguma.
Mas seus predadores estão.
“Obrigada, odeio isso”, eu brinco, citando uma frase popular da internet e ganhando uma risada compreensiva. O clima na sala é sempre um pouco sombrio, e as piadas tendem para o macabro. Talvez para alguém de fora elas pareçam grosseiras, mas para qualquer um que trabalhe lado a lado conosco, é necessário um pouco de humor para ajudar-nos no dia de hoje.
Com a foto pronta para ser lançada, todos nos dirigimos para a sala de mídia onde eu conecto um iPhone numa grande tela de TV. Sentamos em sofás e poltronas, e Nathan ajusta uma câmera de vídeo em um tripé apontado para a TV. As evidências são preciosas e mantemos as câmeras rodando para garantir que todas as interações envolvendo atividades criminosas tenham uma trilha digital para nossos contatos na aplicação da lei.
Nathan checa a iluminação e depois o áudio. Josh coloca uma pilha de moletons sobre a mesa de café e eu agradeço.
“Está pronta?”, Josh me pergunta.
“Sim,” eu minto um pouco. Nunca estarei de fato pronta.
Durante o dia, estamos todos no convés. Há chamadas a serem feitas, fotos a serem editadas, evidências a serem catalogadas. Mas à noite, sou só eu no bastão. O trabalho é frequentemente — para ser honesta — solitário. Isolador. Devastador. Essa noite, porém, vamos dividir o fardo, e sou grata pela companhia. Mas ainda sou eu onde pega fogo.
Menos de um ano atrás, Brian e eu organizamos um encontro em que tivemos um embate para encontrar a maneira exata de conversar com pais sobre o aliciamento online. No passado, quando a Bark tinha um time menor, nos deparamos com um caso particularmente angustiante de um predador online abusando de uma garota do ensino fundamental. Ela tinha apenas 12 anos, e esse homem a estava aliciando através do e-mail escolar dela, coagindo-a a enviar vídeos dela mesma performando atos sexuais. Nós sabíamos que pessoas como ele estavam por aí, mas nos surpreendemos ao ver com que rapidez e facilidade ele conseguiu manipular essa criança.
Somente em 2018, a Bark alertou ao FBI sobre 99 predadores sexuais de crianças. Em 2019? Esse número supera 300 — e ainda estamos contando. Cada um desses casos representa uma real experiência infantil que causa verdadeiro dano, e nosso desafio é ajudar pais e escolas a entender essa nova realidade. Mas como contamos histórias sem pedir para as famílias se exporem demais? Como explicarmos o aliciamento infantil a uma geração que não cresceu com esse perigo? Números, apesar de informativos, são abstratos e fáceis de encobrir.
Eu estava frustrada com o problema que estamos enfrentando, batendo minha caneta sobre a mesa da conferência, e pensando em voz alta. “Quando pais pensam sobre predadores”, sugiro a Brian, “eles pensam em alguém jogando seus filhos em um porta-malas de um carro e fugindo. Eles não pensam sobre o abuso escondido sob nossos olhos que acontece online. Num mundo perfeito, compartilharíamos nessa conversa sobre o atual predador, mas isso parece traumatizar a vítima de novo e de novo…”
Eu parei. Tínhamos andando em círculos nesse mesmo conceito.
“E se nós criássemos contas falsas para demonstrarmos aos pais o que pode acontecer online?”, Brian perguntou. Levantei as duas sobrancelhas para essa ideia. Esperei um pouco para ver se ele estava brincando. Não estava.
Isso foi há nove meses atrás. Desde então, criamos um time inteiro focado na reunião improvisada que Brian e eu tivemos naquela sala de conferências. Estabelecemos relações de trabalho contínuas com agências governamentais de aplicação da lei cujos acrônimos têm três letras. Fizemos testes, novas contratações, e inúmeras outras reuniões. Vimos prisões e sentenças. Fornecemos testemunhas para julgamentos e informações valiosas para investigações.
Minha função mudou para liderar esse novo e especial projeto feito em equipe. E para preservar a integridade desse projeto, essa equipe especial trabalha largamente nos bastidores e fora do palco. Nós não aparecemos na composição do website, e nosso perfil no Twitter mostra imagens de objetos inanimados ao invés de nossas faces reais. Brian e eu também somos a ponte entre a equipe e os agentes da lei, com reuniões regulares e atualizações de dados, assegurando que estamos sempre trabalhando não somente sob os parâmetros deles, mas também dos promotores de acusação. Ninguém quer que nosso árduo trabalho seja desperdiçado por causa de falta de evidências ou até por causa de uma dica errônea de aprisionamento.
Aqui, agora, nessa sala de reunião, não é nosso primeiro rodeio. Não é nem nosso segundo ou terceiro. Durante esses últimos nove meses, eu fui a Libby de 15 anos, a Kate de 16 e a Ava de 14. Tenho sido uma estudante do segundo ano de franjas, e uma jogadora de lacrosse criada pela tia, e uma animadora de torcida júnior ansiosa pelo baile de formatura.
Na atualidade, somos veteranos experientes — mas essa é a primeira vez que usamos uma garota tão jovem. Hoje à noite, meu peito está friamente preso e minha linguagem parece significativamente menos madura.
Hoje à noite, tenho 11 anos, e sou Bailey.
“E aqui vamos nós”, eu pronuncio no cômodo.
“Você consegue fazer isso, Sloane”, Reid diz para mim, batendo levemente no meu ombro, mas ainda seguramente. O queixo de Reid é severo e ele está para frente fixamente. Sendo uma advogada criminalista, Reid se mudou para o setor privado e se juntou à Bark assim que lançamos esse projeto. Com conhecimento em direito e experiência em crimes cruéis, Reid é uma adição bem-vinda à equipe. Para quem está de fora, um tapinha no ombro pode parecer algo rígido, mas, de Reid, parece um cuidado e apoio genuínos.
Pete — militar reformado e hoje segurança privado — que tem literalmente três vezes meu tamanho, se senta em frente a sala de estar. Essa noite certamente tem pouco risco, mas nos dias em que nos sentimos significantemente assustados, ele nos proporciona um pouco de paz de espírito.
Eu posto a foto no Instagram — um selfie genérico e inócuo de Bailey com um sorriso de orelha a orelha — e coloco uma legenda:
“entusiasmada para ver meus amigos na festa da carly nesse fim de semana! Ilsm!!” (abreviação em inglês de ‘eu te amo muito’) seguido por uma série de emojis e a hashtag #friends
A foto é postada pelo Instagram e esperamos de maneira silenciosa até que algo nesse cenário mude.
Essa parte nunca demora. Sempre é enervantemente rápido.
No início da semana, já na primeira noite como Bailey, duas novas mensagens chegaram dentro de um minuto após a publicação. Ficamos boquiabertos enquanto os números ecoavam na tela — 2, 3, 7, 15 mensagens de homens adultos ao longo de duas horas. Metade deles podem ser acusados de transferir conteúdo obsceno para menores. Naquela noite, respirei fundo e sentei-me com a cabeça apoiada nas mãos.
Nove meses nisso, e ainda nos sentimos atordoados pela amplitude da crueldade e perversão com as quais nos deparamos. Eu imagino que a tendência é esse atordoamento continuar essa noite.
“Está vindo”, diz Avery, e então todos nós olhamos para a TV. As notificações do Instagram mostram que Bailey tem três novos pedidos de conversa.
“Oi! Estava apenas me perguntando: há quanto tempo você é modelo?”
“Rsrsrs. Não sou modelo”, digito apressadamente, apertando enviar.
“Não!”, ele responde, cheio de falsa incredulidade. “Você está mentindo! Se não é, você deveria ser uma modelo! Você é tão BONITA!”
@ XXXastrolifer aparenta estar nos 40 e poucos, mas ele diz a Bailey que tem 19. Quando ela diz que tem apenas 11 anos, ele não vacila.
A próxima mensagem é de outro homem que cumprimenta Bailey de maneira inofensiva.
“Olá! Como você está essa noite?”
“Oi, estou bem e você?”
“Eu vou bem, obrigado. Você é uma garota muito bela.”
Eu ouço Josh murmurar ao meu lado: “Como um relógio.”
“Uau! Obrigada!”
“É a verdade. Eu amo suas fotos aqui. Sua mãe e seu pai já deixam você ter um namorado?”
Bailey diz que não, mas também diz que isso não é algo sobre o qual eles conversam muito. Pergunto aos pais que estão comigo no cômodo. Eles concordam. Ter um namorado não é algo que passe na cabeça de uma menina de 11 anos de idade.
“Talvez eu possa ser seu namorado de Instagram se você quiser. A decisão é sua.”
Faço uma pausa para responder @ XXXastrolifer . A conversa termina como a maioria delas acaba — dentro de cinco minutos ele envia a Bailey um vídeo dele mesmo se masturbando.
“Você gosta disso? Já viu um desses antes?”
Volto minha atenção novamente para @ XXXthisguy66, aquele que seria o namorado de Instagram. Em questão de minutos a conversa foi de “Um namorado de Instagram significa que podemos conversar, mandar selfies um para o outro, e apenas estarmos lá um para o outro” para “Já que estamos juntos, você está pronta para trocar selfies sexy?”
Ela tem 11 anos, e não entende muito bem o que ele quer dizer. Ele envia uma foto de seu pênis ereto, pede uma foto dela sem camisa, e assegura a ela que ele sabe ensiná-la como proceder.
“Bem, muitos namorados gostam quando suas namoradas fazem um boquete neles. Você sabe o que isso significa?”
“Não, não sei.”
“Isso significa que você pega o pau com suas mãos e depois o coloca na sua boca e então você o chupa como se estivesse chupando seu dedão da mão.”
“Não entendo isso”, Bailey responde.
“Você pega meu pau. O coloca na sua boca, e então você o chupa.”
“Deus!”, Reid interjeita, e eu olho para ela. “A primeira conversa de uma criança sobre sexo não deveria ser com um homem que quer estupra-la.”
Retorno à tela a minha frente.
“Mas, por que? ”
“Algumas garotas gostam, mas é bem gostoso para o garoto. É apenas algo que garotos gostam. Mas o que um garoto e uma garota realmente gostam de fazer juntos é se eu colocar meu pau entre suas pernas e enfiá-lo em você. O nome disso é sexo. Ou foder.”
“Oh. Eu aprendi sobre sexo.”
“Assim que tiver uma chance, me envie uma foto sua sem camisa, ou me envie uma foto do que existe entre suas pernas. Eu realmente gostaria disso.”
“Que tipo de foto? Entre minhas pernas?”
“Você conhece sua vagina? Algumas pessoas a chamam de perereca. Eu gostaria de vê-la. Porque é aí que meu pau entra. Mas eu gostaria de ver seu peito também.”
“Eu realmente não tenho seios ainda”, Bailey responde. Ela não tem. Ela usa um sutiã para o ritual e camaradagem do treinamento, mas na verdade ela não precisa de um. Não ainda.
“Tudo bem. Tenho certeza de que você parece ótima da mesma forma. Eu chuparia seus mamilos de qualquer jeito.”
“Eu não sou boa nesse negócio de tirar fotos de corpo.”
“Tudo bem. Você poderia enviar uma foto de você chupando seu dedo? Dessa forma posso imaginar você me fazendo um boquete como conversamos antes. Eu te enviarei outra foto do meu pau.”
Ele envia.
Eu saio da conversação com @ XXXastrolifer e vejo outros nove pedidos pendentes. Meu telefone toca alto através das caixas de som da TV, surpreendendo a todos nós. É uma vídeo chamada do Instagram de um novo predador.
Eu tomo a rápida decisão de pegá-lo, largo o telefone, troco minha camiseta por um capuz. A equipe na sala sabe o que estou fazendo.
“Fiquem quietos, todos”, Nathan atesta o desnecessário. Com o capuz levantado e a sala mal iluminada, inclino a cabeça para obscurecer meu rosto e atender à chamada. Dominique, à minha esquerda, permanece alerta. Ex-figurinista, suas habilidades com peruca e maquiagem de palco são incomparáveis. As fotos das minhas personagens lado a lado nem parecem estar relacionadas. Eu sou latina. Sou parte asiática. Sou loira. Sou ruiva.
“Hey. Como você está? Quero te ver.” Ele inclina o telefone, e está deitado na cama e sem camisa. Eu elevo minha voz uma oitava.
“Ummmmmmm. Sou tímida.”
“Não, bebê, não. Não seja tímida.” , ele canta. Sua voz suave e persuasiva.
“Eu não aguento essa porra!”, diz Will, e ele sai da sala, balançando a cabeça.
A regra na Bark é que podemos fazer uma pausa sempre que quisermos. Podemos dar um passo para fora em qualquer momento que sentirmos necessidade. Podemos pegar fôlego, podemos marcar uma sessão de terapia. Podemos até sair da equipe.
Isso me inclui, e eu sou o rosto (manipulado) das nossas personagens.
Ao final de duas horas e meia, eu tive sete chamadas de vídeo, ignorei cerca de uma dúzia de outras, conversei por texto com 17 homens (alguns já haviam me enviado mensagens antes, se atendo à esperança de ter mais interações), e vi a genitália de 11 deles. Também recebi (e subsequentemente neguei) vários pedidos de nudez acima da cintura (apesar de deixar claro que os seios de Bailey ainda não se desenvolveram) e pedidos de nudez abaixo da cintura.
Os roteiros que vemos são largamente os mesmos.
Você é tão bonita.
Você deveria ser modelo.
Sou mais velho do que você.
O que você faria se estivesse aqui, bebê?
Você tocaria meu pau se estivesse aqui?
Você já viu um pau antes?
Bebê, você é tão linda.
Converse comigo, bebê.
Eu quero colocar meu pau na sua boca, bebê.
Apenas atenda minha vídeo chamada, bebê.
Não seja tímida, bebê.
Bailey é uma criança. Assim como Libby, Kait, Ava, Alessia, Lena, Isabella. Todas as minhas personagens são crianças — legalmente, emocionalmente, fisicamente, intelectualmente. Elas não têm agência, nem capacidade para consentir. Talvez a sociedade ame apontar dedos e culpar as vítimas (O que ela estava vestindo?), mas a resposta continua sendo a mesma. Elas são todas crianças. E em qualquer caso de abuso, a culpa nunca é da criança.
Agora é por volta de meia noite. Eu parei de aceitar vídeo chamadas há uma hora atrás, mas meus dedos estão digitando febrilmente. Meu cabelo está preso atrás da cabeça em um rabo de cavalo e eu estou bebendo água como se tivesse corrido meia maratona. “O corpo mantém a pontuação”, como diz o ditado, e meu corpo está pedindo trégua. A parte de trás da minha camiseta está úmida, meus olhos estão turvos, meu pescoço dói e meu coração está um pouco enjoado.
Durante uma semana, 52 homens alcançaram uma garota de 11 anos de idade. Constatamos essa estatística enquanto desligávamos a TV e a câmera de vídeo com sobriedade.
O trabalho — enquanto não necessariamente físico — cobra emocionalmente. A maioria de nós têm filhos jovens, alguns de nós com filhos das idades das personagens criadas. Chega muito perto de casa, mas você não precisa ser pai ou mãe para se sentir devastado pela predação dos mais vulneráveis da sociedade.
É fim de noite, mas cada conversa e foto precisam ser classificadas, organizadas e empacotadas para serem enviadas aos nossos contatos na polícia. Qualquer instância de material de abuso sexual infantil é enviado ao NCMEC, o Centro Nacional de Crianças Desaparecidas e Exploradas.
Eu envio uma mensagem para o agente da lei com quem trabalho e com o qual tenho mais afinidade e dou a ele uma atualização. Todos nos arrumamos para irmos para casa, e, francamente, todos parecemos um pouco machucados. Não consigo escrever essa linha sem parecer completamente auto engrandecedor, mas a dolorosa verdade é que esse trabalho é difícil e angustiante, e, literalmente, nos mantém acordados de noite. Nós poderíamos simplesmente parar. Apertar os freios. Desviar nossa atenção para o dia a dia da empresa.
Mas a simples verdade é que nós sabemos o que está em risco. A vitória mais óbvia — estamos ajudando a identificar predadores sexuais não apenas para as autoridades levarem-nos à justiça, mas para prevenir que mais crianças sejam abusadas. Nós também estamos educando pais e escolas a respeito da inacreditável realidade que existe no espaço virtual. E de um ponto de vista técnico, essas conversações que tanto reviram o estômago, estão treinando a Inteligência Artificial da Bark, para se tornar cada vez melhor em monitorar sinais de aliciamento.
Eu penso a respeito dos meus filhos. A respeito dos filhos do meu colega de trabalho. A respeito de mim mesma décadas atrás como uma jovem, incerta, e impressionável tween (criança entre 9 e 12 anos) e depois adolescente. Eu penso como me sentiria se eu fosse a Bailey. Como eu manteria os abusos para mim mesma, por medo de me julgarem culpada e me fazerem sentir envergonhada. Como eu teria sofrido secretamente e quietamente. Como eu seria uma vítima silenciosa. Como eu não desejo isso para nenhuma outra criança — minhas próprias ou de outros.
Conhecer como se dá o aliciamento na internet não é um fardo. Não mesmo. É um presente. Um que nos ajuda a virar a mesa contra os predadores. Nosso trabalho já teve como resultado a prisão de pessoas que se demonstraram propensas e desejosas de ferir crianças. A tecnologia mudou e junto com ela também mudou a forma e os métodos dos quais predadores se dispõem para encontrar, se comunicar, e machucar crianças. Se eles podem usar tecnologia para abusar crianças, nós podemos usar a mesma tecnologia para impedirmos seus crimes.
Em casa, eu não sou Bailey. Eu sou uma mãe de 37 anos em meias de lã, enchendo a máquina de lavar louças e ajudando meus filhos no dever de casa. Um dos meus filhos está aprendendo sobre ditados, provérbios e sotaques. Ela os lê em voz alta, de seu notebook. Aguente o tranco. Em bons e maus momentos. Mate dois coelhos com uma cajadada só.
“Mãe”, ela olha para mim, com o lápis posicionado no ar. “Você concorda que ignorância é uma ‘benção’?” Lavo minhas mãos e as seco em um pano de prato. Eu olho para ela, que está fazendo anotações. Eu sou uma mãe suspeita para dizer isso, mas ela é uma maravilha. Cheia de alegria e inteligência e curiosidade, assim como imagino que Bailey seria.
“Não, querida. Eu não concordo com isso”, eu digo resolutamente, puxando uma cadeira para me sentar perto dela na mesa da cozinha. Apoio-me nos cotovelos e espio o dever de casa. “O conhecimento é uma dádiva”.
Repito isso para mim mesma enquanto me levanto e limpo o balcão. Eu acredito nisso. E mesmo nos piores dias, levo isso a sério.
Isenção de responsabilidade: com muita cautela e devido a investigações criminais pendentes, nomes — incluindo o do autor — e detalhes irrelevantes foram editados por questões de privacidade e clareza.
Texto de Sloane Ryan, 14/12/2019, original pode ser lido aqui.
Faltam mãos, dedos e memória para contar quantas mulheres se destacariam no mundo do conhecimento e, mais recentemente, no mundo científico. Seria isso maior ainda, e pontuado de forma justa, se não tivessem sido apagadas e negadas dentro de suas descobertas pelo privilegiamento histórico do sexo masculino, estabelecido como o grande referencial. Muitas mulheres, ao longo da ciência moderna, foram desrespeitadas e usurpadas da divulgação e aplicação de suas pesquisas. Vemos que a história foi escrita em detrimento daquelas que construíram, como sujeitos ativos, a sociedade presente.
A desigualdade de gênero pontua, a cada leitura realizada nos quadros da memória humana, a exclusão como parte significativa dessas que, em sua condição feminina, e de diferentes formas, estavam nas contingências de sua existência, fazendo o mundo. A ciência tem, nas mãos escondidas das mulheres, um grande legado de análises científicas dos fenômenos sociais e naturais, que reinventaram e inventaram novas formas de compreensão, de agir e de transformações desses fenômenos para o bem de todos. Apesar da ciência ter sido propalada sob a luz e ótica de somente um signo, as mulheres, mesmo com todos os preconceitos de época e todas as impossibilidades dadas a elas, por meio de suas lutas conseguiram se destacar e se colocaram ativas no campo da descoberta.
À fogueira foram jogadas aquelas que se aventuraram ao protagonismo do conhecimento dos fenômenos naturais, sob a pecha de bruxas, antes que a ciência se formasse como o emblema de um novo tempo. Aos asilos e manicômios foram conduzidas àquelas que corromperam o silêncio, mostrando além da indignação, a capacidade intelectual, crítica e artísticas desenvolvidas. Muitas consideradas como loucas, histéricas e doentes “sumiram” em suas personalidades, por não atenderem aos ditames do patriarcado erguido como pedestal de honra, qualidade e fortaleza. Infelizmente, e digo, muito infelizmente ainda, esse caso se repete em novas doses de violência contra as mulheres. Perpetua-se em formas de silenciamento e apagamento de muitas mulheres no século XXI.
Em que pese toda essa situação, muitas resistiram numa ação intensa e participativa e, mesmo dentro dos mecanismos de anulação e eliminação de suas personalidades, observações e análises, mostraram suas convicções e talentos, contribuindo em todas as áreas da ciência com seus olhares, inteligências, emoções e teorias.
Mulheres e ciência no século XX
As mulheres começam a incidir na ciência, ainda que culturalmente e socialmente, a carreira fosse considerada imprópria para esse gênero. Entretanto, muitas tiveram lugar de destaque, a exemplo do prêmio Nobel de Física em 1903 e de Química em 1911 dado a Marie Curie. A despeito disso, a exclusão e a invisibilidade das mulheres cientistas e pesquisadoras é permeada por pensamentos extremamente conservadores e patriarcais.
Ganha corpo no conceito de gênero um contradiscurso que ativa os feminismos críticos, questionando o forte viés sexista que se interpõe na ciência. A ampliação da participação feminina nas atividades científicas gera ganhos substantivos para a sociedade nos seus desenhos democráticos que ultrapassam fronteiras e, trazem para a discussão, fatores do corpo, da vida, da política e do convívio social. Mas, mesmo assim, as desigualdades acontecem nessa dimensão que tem, no trabalho, menores remunerações e pesos diferentes no reconhecimento entre os gêneros.
A cada dia, a mobilização das mulheres derruba os muros nas áreas “tradicionalmente” tidas como masculinas, expondo a existência das lacunas e descabidos éticos e sociais relacionados à participação delas no mundo.
As conquistas feministas, ainda que apresente uma longa história de lutas, são recentes. As décadas de 1930, 1960, 1970 e 1980 foram emblemáticas. Primeiro com o direito ao voto feminino (CF, 1934); depois com o Estatuto da Mulher Casada (Lei nº 4.121/62); logo após o Código Eleitoral (Lei nº 6.515/77); a aprovação da lei do divórcio, bem como a Constituição de 1988. Esses fatos consagram lutas de maior liberdade e autonomia à ação feminina. A objetividade, a racionalidade e a universalidade foram ampliadas nesse campo de domínio.
A posse do corpo na decisão da procriação com o advento da pílula anticoncepcional, na década de 1970, incorporou uma nova visão de mundo para os sujeitos femininos que entraram na carreira científica de forma mais emancipadas. Devido a esses ganhos, são donas do tempo de sua maternidade (ou não maternidade). Porém, em que pese esses ganhos, a disputa continuou desigual, por uma série de desvantagens legitimadas por leis e pelas relações impregnadas de estigmas à mulher.
Ao final do século XX, após lutas históricas, governos, organizações nacionais e internacionais, associações científicas, institutos de ciência, entre outros, apoiaram as iniciativas de igualdade entre os gêneros no campo da ciência. A inclusão feminina no mundo acadêmico começa a crescer e se reconhece, nas pioneiras, a coragem, a luta, a determinação e a enorme capacidade de realização de trabalho que desafiou e desafia os cânones da misoginia.
Idos medievais em que “Hipátias” foram mortas pelas mãos dos que, no alto d domínio de gênero e à bem de suas falsas e perversas “verdades”, buscaram aniquilar a paixão pelo saber que mulheres, como ela, tinham pela busca de respostas ao desconhecido. Essa cena marca a presença das mulheres na história, naquilo que desejamos não mais ocorrer. O pensamento contemporâneo nos mobiliza a expurgar uma ciência androcêntrica, colonizadora, estigmatizadora e branca. Esse debate passa a se configurar, mais fortemente, no século XXI.
Mulheres da ciência no século XXI
O século XXI demarca um novo momento, em que as lutas dos movimentos feministas colocam em cena a importância da isonomia no trabalho e a pauta da mulher pesquisadora/cientista não fica de fora desse assunto. Há um aumento considerável do número de mulheres em cursos superiores antes considerados masculinos, como as engenharias e os cursos agrários, entre outros. Importantes avanços se tornam concretos à participação no campo científico e muitas mulheres conquistam seu protagonismo. Sua presença como liderança nos centros de pesquisas e nas universidades é crescente; e o aumento das teses nas prateleiras das bibliotecas se concretiza como resultado de tantas lutas. Embora sejam concretos esses grandes avanços, a participação feminina ainda está aquém da masculina.
Novas formas de inserções compõem um mosaico de capacidade constitutiva no processo ativo e investigativo de agir com a ciência, atuando e pensando gêneros, etnias, pobrezas, meio ambiente, educação, culturas e territórios. Tais formas repercutem nos tempos atuais, com um número pequeno e desigual de pesquisadoras mundiais.
A pesquisa e a ciência ainda são caminhos difíceis a trilhar, sobretudo, para as mulheres que acumulam hoje as tarefas de serem mães, trabalhadoras, e ainda terem que provar a sua competência, mesmo em situações de desigualdade nas oportunidades. Além disso, são elas as que mais sofrem com assédios, cobranças, violências de todas as ordens, seja física ou emocional, e são vítimas de acusações, gerando um complexo de culpas, que não só diminuem sua autoestima, como a fragilizam no medo.
Sendo assim, a luta pela igualdade de direitos sociais entre os gêneros aponta para as lacunas que são direcionadas ao feminino, centrando nos aspectos políticos e econômicos, que negam a igualdade entre os salários e a importância desse, independente de qual gênero o faz e quais os resultados na sociedade.
O investimento na produção de conhecimento é redesenhado nas pautas reivindicatórias, ganhando contornos de profundas mudanças no mundo científico e acadêmico. Vimos, na crise da Covid-19, um grande número de mulheres pesquisadoras e cientistas sendo convocadas para descoberta de vacinas, remédios e procedimentos, apontando que nesse momento de quarentena, a participação em igualdade de gênero é fundamental.
Nos países em que as mulheres ocupam os lugares de chefe de Estado, respeitando a ciência, foram conduzidas políticas corretas e adequadas de contenção à pandemia, logrando os melhores resultados entre as nações afetados pela doença. Nesse âmbito entendemos que, como a política, a ciência não é “neutra” e nunca foi em relação ao gênero e, também, por não ser estática, as bandeiras levantadas há séculos buscaram superar o local de isolamento dissimulado dado às mulheres.
Por fim, a decolonização como ponto de discussão no século XXI, leva a pensar, historicamente, que no mínimo, metade da população foi proibida de fazer ciência, pelo único motivo de ser mulher. Essa matriz opressora, no sentido dos gêneros, aponta as dicotomias e separações que excluem, silenciam e matam, levando ao flagelo o pronome “nós” e pondo em relevo o pronome “ele”.
As mulheres cientistas
O novo estar das mulheres no mundo da ciência garante uma posição mais ativa e independente no campo da pesquisa. O apoio nas possibilidades do domínio do seu próprio tempo; da posse do corpo em determinar as suas escolhas; a liberdade do fazer e querer e a razão de garantias no aspecto legislativo, por via não mais da submissão feminina, demarcam novas frentes de participação e diálogos.
O debate sobre a mulher na ciência aponta, de forma crítica, o viés sexista nas universidades e centros de pesquisa, bem como a sua sub-representação nesse cenário, ou mesmo, em outros contextos específicos, em instituições científicas. Vemos o poder e a agência de si serem pontos assumidos pelas cientistas, principalmente, quando se propõem a uma ciência que considere a maternidade, a casa e a condição de ser, ao mesmo tempo, mulher e cientista nas suas múltiplas jornadas.
Nesse percurso, as atividades desenvolvidas no campo da ciência, por elas, devem ser cumpridas, sem que haja conflitos geradores de dor e culpas por terem que executar uma tarefa em detrimento da outra. As reivindicações das mulheres fortalecem a visão dialogal, democrática, participativa, polifônica, inclusiva, equitativa e simétrica, não somente do ponto de vista de gênero, mas também aos fatores que se ligam aos liames das irresoluções do quadro sociopolítico vivido em sociedade. Nesse bojo há de se considerar fatores sociais como composição das famílias, etnia, maternidade e trabalho.
Essas questões requerem medidas às diferentes representações de trabalho, para que se reconheça as especificidades envolvidas das mães cientistas/pesquisadoras, no seu labor. A essas deve ser garantida a participação em eventos, reuniões constantes e profundas, entre outros. Assim, reforçar a importância da representatividade das mães no mundo acadêmico e científico é fato de luta que tem aportado na igualdade de gênero. Qualquer situação que diminua ou impeça a representatividade das mulheres na Ciência há de ser superada.
Dentro do pressuposto acima, habita sempre outras questões que são perpassadas por motivos teóricos e metodológicos voltados, do mesmo modo, à baixa participação de cientistas pobres, negras, mães e gays nesse cenário. A complexidade dessa realidade traz a produção e o fazer científico nas assimetrias herdadas que evocam, no tempo vivido, a equidade dos gêneros, bem como o colapso patriarcal e o fim da submissão ancestral.
Uma homenagem
Homenagear é sempre uma ação que remete ao reconhecimento de algo ou alguma coisa feita por um alguém. E a homenagem aqui vai para as mulheres pesquisadoras/cientistas como emblema de um caminho de possibilidade. A história nos presenteia com a existência de mulheres que conseguiram conquistar seu lugar na ciência.
O cerzir social dos movimentos feministas tem em vários nomes e rostos, nacionais e internacionais, as incontáveis mãos femininas colocadas em pelejas e em olhos vertidos na resposta e concretização de suas hipóteses. Herdamos delas os caminhos colocados na práxis do saber e do prazer da descoberta.
Cabe destacar que com todos os obstáculos postos às mulheres na ciência, as mulheres negras tiveram que superar, além do preconceito de gênero, o racismo estrutural, a necropolítica e limitações impostas por essas ideias.
Anastácias escravizadas povoaram esse universo de mulheres amantes do conhecimento e conhecedoras das ervas e das curas. Num mundo entre iguais ela teria a possibilidade de manejar o microscópio e de hoje ser lembrada como a “Cientista Anastácia”.
Homenageio a todas as mulheres amantes do conhecimento, as mulheres cientistas que assinam cada vez mais as pesquisas, dando novos contornos ao mundo.
E agora…
Iniciei o texto dizendo que faltariam mãos, dedos e memória para contar essas mulheres. Nessa homenagem milhões ficaram de fora. Isso porque tantas e tantas outras estão a comandar equipes de pesquisas, estão em seus laboratórios, bibliotecas e escritórios, criando projeto mundo afora. Em sua maioria são mães cientistas, professoras e pesquisadoras, que apesar das dificuldades no meio acadêmico e científico, continuam, perseveram, organizando seus saberes, numa tentativa de naturalizar a maternidade e sua condição de mulher na academia e centros de ciência.
Ao fim e ao cabo, e não por final, me cabe homenagear as mulheres médicas, enfermeiras, nutricionistas, laboratoristas, pesquisadoras, por esse momento tão singular de uma Covid-19.
Cabe homenagear aquelas que não estando diretamente na ciência, viabilizam as que estão, tornando concreto e existente esse trabalho que é de todas para todas e todos. Obrigada a todas as mulheres que se almejam numa força única: a de ser dona de suas decisões, seus corpos, vontades presentes e futuros, prazeres, sonhos, desejos, conhecimentos, descobertas e de sua Ciência! Da Ciência que é, enfim, na gramática dita, o substantivo feminino.
Maylta dos Anjos é professora e pesquisadora da UNIRIO e do IFRJ na área de educação ambiental, ensino de ciências e sociedade.
Na noite de quarta-feira (20), uma mulher identificada como Marlene Silva Santos, de 28 anos, foi assassinada a facadas no município de Caracol, a 600 km de Teresina, na região Sul do Piauí. O marido dela foi preso e confessou o crime, afirmando que os dois haviam discutido porque ela não queria dividir com ele o dinheiro do auxílio emergencial do Governo Federal. Um amigo do companheiro da vítima, também foi preso pela PM suspeito de participar do crime.
De acordo com os policias que atenderam a ocorrência, a vítima chegou a ser antedida por profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas não resistiu aos ferimentos e morreu a caminho do hospital. Marlene deixa três filhos pequenos.
O companheiro da vítima, identificado apenas como Leonardo, de 24 anos, se apresentou a Polícia Militar depois de ficar escondido em um matagal por duas horas. O outro suspeito preso, amigo de Leonardo, teria participado do crime. O caso será investigado pela Polícia Civil, que deve determinar qual foi a participação de cada um.
Segundo as primeiras informações, o casal estava bebendo em casa quando começaram a discutir. Em depoimento, Leonardo afirmou que a companheira não queria dividir com ele o dinheiro do auxílio emergencial. Durante a discussão, o suspeito disse que a vítima o tentou agredir com a faca, mas ele teria conseguido desarmá-la e em seguida, usou a faca para golpeá-la no pescoço. Em seguida, fugiu do local.
Leonardo foi preso ainda com a arma utilizada no crime. Os presos foram encaminhados para a Delegacia de São Raimundo Nonato.
A campanha “Cuide de Quem te Cuida” foi lançada. Vamos LOTAR A CAIXA DE E-MAIL do procurador geral do Ministério Público do Trabalho e exigir uma resposta para que os direitos das trabalhadoras domésticas sejam assegurados!
Em meio à pandemia, que no Brasil já acumula mais de 14 mil mortes, estados e municípios publicam decretos incluindo o trabalho doméstico como atividade essencial, em equivalência a bancos e mercados. *Precisamos impedir esse absurdo!*
“Sempre lutamos por valorização e a sociedade nunca quis reconhecer a importância do serviço doméstico. Aí neste momento de pandemia, a casa grande que está em quarentena, não quer se dar ao trabalho de fazer as próprias tarefas domésticas. Colocar o serviço doméstico como essencial de forma generalizada é uma crueldade. As trabalhadoras domésticas também têm famílias”
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