As mães demitidas durante a pandemia: “Tentei conciliar trabalho com meu bebê, mas perdi o emprego”

A pandemia chegou quando a advogada Nádia Silva, de Goiás, estava em seu segundo mês de licença-maternidade. Mãe solo (embora receba pensão do pai da criança), ela pretendia juntar um mês de férias à licença e aproveitar o período para encontrar um berçário para deixar o bebê quando voltasse ao trabalho. O plano não deu certo: os berçários continuam fechados, e a empresa exigiu a volta dela sem conceder as férias.

A analista de contratos tentou equilibrar tudo — cuidados com o bebê, trabalho em tempo integral em home office e cuidados com a casa — , mas a situação ficou insustentável.

“Às vezes eu acordava às 4h da manhã para terminar meu trabalho antes de o bebê acordar. E também fazia todo o trabalho doméstico”, conta à BBC News Brasil. “Dois meses depois, pedi para a empresa um novo arranjo e um aumento, para eu poder pagar uma babá. Acho que eles acharam que eu não valia tudo isso. A generosidade deles foi de me demitir, o que pelo menos me deu uma indenização.”

No momento, Nádia não enxerga formas de voltar ao mercado de trabalho. “Não tenho muito apoio na família para cuidar do bebê, não tenho perspectivas de haver creche e berçário com segurança agora. É difícil, porque eu me esforcei bastante, trabalhava dia e noite, com uma sobrecarga emocional enorme. Você se sente desvalorizada como mulher e como mãe.”

Em Santa Catarina, Taís (os sobrenomes de algumas entrevistadas serão omitidos para proteger sua identidade) está há um mês em seu novo emprego, que aceitou por lhe permitir trabalhar remotamente enquanto cuida dos filhos menores, de 8 e 12 anos. Mas agora a empresa planeja voltar ao trabalho presencial, colocando Taís — que também é mãe solo — em uma sinuca de bico.

“O que eu vou fazer com as crianças? Passei por todo o treinamento no trabalho, mas neste mês não tenho como voltar (para um escritório)”, diz à BBC News Brasil, temendo ser forçada a abrir mão do novo emprego em plena pandemia — e poucos meses depois de ter sido demitida de um cargo anterior em outra empresa. O motivo da demissão: os chefes viram mensagens de texto que ela havia mandado a colegas, questionando a política da empresa de não migrar para o teletrabalho no início da quarentena.

Agora, diz ela, “as minhas dívidas estão crescendo, e o valor da pensão das crianças é baixo. Dá o nervosismo de precisar trabalhar, mas como vou deixar as crianças? Não posso botar a responsabilidade em cima do meu filho mais velho. Óbvio que vou escolher ficar com eles em vez do emprego”.

Marcella, moradora da Grande São Paulo, não tem filhos, mas se comoveu, ainda em março, ao descobrir que uma colega de trabalho estava tendo de deixar os filhos de 5 e 7 anos sozinhos em casa porque a empresa delas, uma multinacional de prestação de serviços, não criou uma política de teletrabalho em um momento em que as escolas já haviam fechado as portas. Mas, quando Marcella discutiu o caso com uma superior, ouviu apenas: “não posso fazer nada”.

“Fiquei desesperada com aquilo. Eu estava em uma situação privilegiada porque não tinha filhos, mas pensei nas mulheres mães. Comecei a ficar muito mal, sem conseguir dormir”, conta.

Ao denunciar o caso ao setor de compliance da empresa e questionar seu chefe a respeito do caso, Marcella diz que foi demitida, sob a justificativa de “corte de gastos na pandemia”.

“Estou procurando emprego remotamente, tentando encontrar um lugar menos pior no mundo corporativo”, afirma.

A colega mãe, Marcella soube mais tarde, continuou trabalhando presencialmente e precisou contratar uma pessoa para cuidar dos filhos.

‘Retrocesso de 30 anos na participação feminina’

Os exemplos acima encontram respaldo nos números: embora a pandemia tenha provocado desemprego em massa e bagunçado arranjos profissionais de modo generalizado, as mulheres — e as mães de crianças pequenas, em especial — estão entre os grupos mais afetados, ao serem colocadas em situações-limite nas empresas ou por simplesmente não encontrarem formas de conciliar o trabalho com o cuidado com os filhos.

No segundo trimestre de 2020, o desemprego medido pela pesquisa Pnad Contínua, do IBGE, foi de 12% entre homens e 14,9% entre mulheres. A mesma pesquisa mostrou, em junho, que 7 milhões de mulheres haviam deixado o mercado de trabalho na última quinzena de março, contra 5 milhões de homens.

E análises mais detalhadas dos dados históricos mostram um retrocesso de três décadas da presença profissional feminina, segundo o pesquisador do Ipea Marcos Hecksher.

Em dados cedidos inicialmente para o G1, ele identificou que, durante a pandemia, a participação das mulheres no mercado de trabalho, que vinha aumentando gradativamente, voltou para o nível observado em 1990.

Só no subgrupo de mulheres com filhos de até dez anos, a participação delas no mercado caiu de 58,3% no segundo trimestre de 2019, para 50,6% no segundo trimestre de 2020. Na prática, só a metade delas, portanto, está no mercado profissional.

“Historicamente, o nível de desemprego é maior e a participação no mercado é menor entre as mulheres, mas vinha ocorrendo uma lenta convergência para o nível dos homens”, explica Hecksher à BBC News Brasil.

“Só que a pandemia os afastou de novo. Os homens foram impactados, mas elas foram ainda mais. Demos um salto de 30 anos para trás na participação feminina. Não levaremos outros 30 anos para recuperar isso, mas tampouco será algo rápido.”

Os custos disso não serão sentidos apenas por elas, mas por toda a economia brasileira, prossegue o pesquisador.

Isso porque a entrada das mulheres no mercado foi crucial para aumentar o PIB (Produto Interno Bruto) — o somatório dos bens e serviços produzidos no país.

Invisibilidade do trabalho não remunerado

E por que elas estão sendo mais afetadas do que os homens?

As diferenças são estruturais e em grande parte ligadas ao trabalho não remunerado de cuidados com os filhos, diz Hecksher. “Temos estudos no Ipea que mostram que, quando a mulher fica grávida, ela muitas vezes para de trabalhar e também de estudar. E com o pai não acontece nada. Quando o filho nasce, as mães em geral voltam aos poucos ao mercado de trabalho, mas ficam mais do que eles na informalidade. Isso é histórico, porque se atribui muito mais os cuidados dos filhos às mulheres.”

É o caso, por exemplo, de Vânia Suster Sampaio, de Santo André (SP), mãe solo de três filhos. Ela já sabe que sua área de trabalho — produção de eventos — será uma das últimas a voltar à normalidade presencial quando a pandemia arrefecer.

Sem renda fixa desde março, ela não conta com pensão alimentícia regular. O fato de uma das filhas estar finalizando o tratamento de câncer (e portanto, ser do grupo de risco) também dificulta que ela saia de casa para procurar outros tipos de emprego.

“Preciso voltar ao ritmo de antes, ao meu valor de salário, ou não sei o que vai ser”, conta Vânia, que tem contado com o auxílio emergencial do governo, com trabalhos freelance e com a ajuda de conhecidos. “Além da tensão de não ter emprego, é o dia inteiro recebendo ligação de cobrança (de pagamentos atrasados).”

‘Situação insustentável e desumana’

O problema não se limita ao Brasil. Um levantamento da Universidade de Cambridge com dados do mercado de trabalho de EUA, Reino Unido e Alemanha durante a pandemia apontou que “mulheres e trabalhadores sem diploma têm chance significativamente maior de ter perdido seu emprego” em relação a outros grupos.

O estudo nota que “entre a população que trabalha de casa, as mulheres passam significativamente mais tempo (ocupando-se) da educação e dos cuidados das crianças”.

A pandemia escancarou um problema que antes era individual: o desequilíbrio nos cuidados com as crianças e a invisibilidade dessas tarefas perante o mercado de trabalho, afirma Maíra Liguori, diretora da Think Eva, organização de defesa dos direitos femininos que presta consultoria a empresas na promoção da igualdade de gênero.

“Existe uma situação insustentável e desumana para as mulheres com crianças, com efeitos duradouros”, diz Liguori, uma vez que a interação de qualidade com adultos é crucial para a formação do cérebro e das habilidades emocionais das crianças, sobretudo as pequenas.

“Muitos dizem ‘ah, não tenho culpa que ela quis engravidar’. Mas imagine como seria um mundo em que as mulheres não cuidassem mais das crianças? A gente esquece da importância desse trabalho de construir o futuro (da sociedade). Se queremos adultos saudáveis, precisamos que essa conversa saia do âmbito individual e vá para o coletivo.”

Para Nádia Silva, a advogada que perdeu o emprego por não conseguir conciliá-lo com o filho pequeno, a sensação é de que “as pessoas não veem o papel social da mãe”.

“Vigora um discurso de que a mulher vale menos”, opina. “A empresa poderia ter negociado comigo. Seria o papel social dela. A gente acha importante não maltratar animal e reciclar lixo, mas não acha importante ajudar uma mãe a criar um filho?”

Mais empregos com menores jornadas?

Ao mesmo tempo, como trazer de volta mais mulheres para o mercado? Hecksher, do Ipea, defende que essa questão seja incluída no debate em torno de quanto imposto os empregadores devem pagar ao contratar funcionários em regime CLT.

Vigora, até o fim deste ano, a desoneração da folha em 17 setores da economia, e a prorrogação desse benefício é motivo de disputa entre o governo federal e o Congresso.

Hecksher é parte de um grupo de estudiosos que propõe que essa desoneração seja estendida para outros setores (no caso de novas contratações, e não de contratos já vigentes), mas aplicada apenas para jornadas de trabalho mais curtas.

“O objetivo é tornar mais barato que um empregador contrate duas pessoas por 20 horas semanais do que um funcionário por 40 horas semanais”, diz ele.

“Com isso, conectamos mais gente ao mercado de trabalho formal. Isso tende a beneficiar mais as mulheres, que com mais frequência do que os homens (aderem) a jornadas parciais. Com isso, também daríamos um benefício às empresas por chamar alguém que está sem trabalho, em vez de concentrar mais trabalho em menos gente.”

 

Reprodução | Matéria originalmente publicada em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54329694

Laina Crisóstomo: “No TamoJuntas conseguimos ver o feminismo na prática”

Projeto criado junto com Aline Nascimento e Carolina Hola atua dando assistência jurídica e multidisciplinar para defender mulheres que sofreram violência. Laina é uma das finalistas na categoria Sociedade Civil do Prêmio Viva 2020

 

Laina Crisóstomo é uma advogada que teve muitas dúvidas sobre seguir ou não a carreira. “Eu nunca via advogados negros e isso me deixava ainda mais em dúvida”, conta. “O tempo passou até que assisti à palestra de um advogado negro e ele falou como sofria racismo na atuação. Foi ali que eu soube o que queria: atuar contra o racismo; ninguém iria me parar”, diz ela.

Mesmo assim, Laina ficou anos a fio tentando entrar nos padrões de aparência e comportamento impostos socialmente – bastante restritivos também no campo do Direito. “Passei anos alisando o cabelo, tendo transtorno alimentar para caber em uma roupa que diziam ser ‘de advogada’. Hoje, estou tranquila de dizer que sou uma mulher preta, gorda, lésbica, do Candomblé, e que vou para a audiência de chinelo de couro. Sei da minha competência e capacidade.

A criação do projeto TamoJuntas, de assistência jurídica às mulheres vítimas de violência, foi mais um elemento de mudança na vida de Laina. Segundo conta, se tornou o momento em que ela começou a vivenciar o feminismo na prática. “Quando mulheres dedicam parte de sua vida, rotina e de seus recursos financeiros para ajudar outras é porque a gente acredita ser possível pensar em um mundo diferente”, afirma a advogada.

Foi o movimento “Mais Amor Entre Nós”, de Salvador, do qual Laina participava em 2016, que deu a ela o insight para criar a TamoJuntas. “Fiz um post no Facebook me disponibilizando a atender uma mulher por mês entre quem estivesse vivenciando uma situação de violência ou com algum processo na vara de família”, diz. O post chacoalhou seu perfil na rede social e, em apenas 10 minutos, chegaram diversos compartilhamentos, comentários e marcações “Foi incrível! Receber essas demandas foi muito forte para mim. Acabei conhecendo a Aline e a Carolina através dessa mensagem e, na semana seguinte, nos encontramos para criar a página TamoJuntas.”

A ideia do nome TamoJuntas reforça a intenção de sororidade, de que uma mulher está pela outra, dentro do projeto. Procura também ser uma assessoria jurídica acessível, popular, empática e, claro, feminista. “Temos muitas demandas no sudeste e, com isso, vimos a necessidade de ampliar nossa atuação, inclusive de forma multidisciplinar. Passamos a atender com assistentes sociais, psicólogas e não só assistência jurídica”, diz Laina. O projeto funciona atendendo via redes sociais e, logo em seguida, encaminha para um atendimento presencial. “O direito burocratiza a gente, mas a advocacia feminista não me permite isso, porque eu preciso conhecer a história dessas mulheres de perto. É o que faz com que eu milite e atue com ela e por ela, de uma forma diferenciada.”

A pandemia, no entanto, mudou bastante o cenário e a ocorrência dos atendimentos. Eles passaram a ser somente online e, para ela, ainda mais necessários: “Não que não fossem antes, mas a busca por ajuda nesse momento fez com que a gente percebesse um aumento de quase 500% nos pedidos. Na prática, os números subiram de três para 20 casos por dia”, conta. Diante disso, a TamoJuntas conseguiu aprovar um fundo para ampliar os números de WhatsApp de atendimento no Brasil, além de viabilizar também a solicitação de medidas protetivas sem necessidade de boletim de ocorrência. “Isso facilitou para as mulheres terem contato com a gente e, mesmo com a pandemia, avançamos muito”, diz.

A advogada baiana de 33 anos considera a TamoJuntas como sua filha mais nova, um sonho que se tornou realidade. “Minha filha de sete anos chama a TamoJuntas de irmã caçula. E é mesmo”, brinca. Atuar dentro da perspectiva de gênero fez com que ela mudasse até a maneira como se coloca no mundo: “Não me apresento mais simplesmente como advogada. Agora me apresento como advogada feminista. Porque não quero e não vou atuar contra mulheres. Quando atuo contra uma mulher, atuo contra mim”, declara a finalista.

Em um cenário político tão complexo como o que estamos vivendo, e com um governo que caminha “no sentindo contrário do que a TamoJuntas busca”, Laina Crisóstomo critica as políticas públicas voltadas para a mulher. “Falta orçamento, mas falta, especialmente, vontade política. Não só a partidária, não apenas a dos políticos. Mas também do próprio judiciário”, diz ela.

Incansável em sua área de atuação, Laina ressalta a necessidade de haver um maior número de mulheres na política, bem como de se ter um olhar mais empático sobre o tema da violência de gênero. “Precisamos de mais sensibilização e escuta nos serviços. De entender que ele precisa ser humanizado para que as mulheres se sintam ouvidas, acolhidas”, diz. “Na TamoJuntas, muitas das mulheres voluntárias, que trabalham com a gente, já sofreram violência e estão ali querendo livrar outras, mostrar que elas também podem se libertar. O projeto é também um espaço de feminismo na prática”, finaliza

 

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Matéria publicada na Marie Claire*

 

Prêmio Viva 2020: pela vida das mulheres, sempre

Em sua terceira edição, a homenagem joga luz sobre as ações emergenciais de defesa aos direitos das mulheres, maiores vítimas de violência e privações econômicas na pandemia e fora dela

 

Solteira há cinco anos, após um casamento de duas décadas em que nunca sofreu violência, a manicure Marta*, 48, começou um novo relacionamento há dez meses. Curtia o começo do namoro com Roberto, 43, quando a Covid-19 alterou a rotina de todos. Não estava nos planos viver sob o mesmo teto que o companheiro, mas, com as regras da quarentena, concordou que ele ficasse em sua casa, no litoral paulista.

Um dia ao chegar da rua, Roberto encontrou Marta na companhia de um primo. O casal discutiu e ela levou uma facada na mão. Separaram-se por alguns dias, mas logo reataram. Solitária e deprimida com a falta de trabalho, Marta aceitou a reconciliação com a condição de que Roberto não pernoitasse em sua residência. Um mês mais tarde, novas agressões. Desta vez, do hospital a manicure partiu para a delegacia. O agressor foi preso em flagrante e ela conseguiu medida protetiva de urgência, além de descobrir mais registros de agressão contra o companheiro no interior de São Paulo.

Desde então, vive com medo. E passou a fazer parte da estatística que aponta: no Brasil, cinco mulheres são espancadas a cada dois minutos. Negra, moradora da periferia, escapou de integrar outros dados ainda mais alarmantes. Entre as mais de 4.500 mulheres assassinadas no país em 2018 – o que indica média de uma mulher morta a cada duas horas –, 68% das vítimas são negras. Assassinatos esses que aconteceram principalmente em casa. Os números foram revelados em agosto deste ano pelo Atlas da Violência 2020, relatório produzido pelo Fórum de Segurança Pública e o Instituto Brasileiro de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base no Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde. E nessa edição evidenciaram os efeitos do racismo estrutural também na pouca ou nula efetividade das políticas de combate à violência. Enquanto o homicídio de mulheres brancas caiu 11,7%, o assassinato de negras cresceu 12,4%.

“Que políticas públicas estamos implementando que protegem uma mulher não negra e não protege uma mulher negra?”, indagou Samira Bueno, diretora do Fórum de Segurança Pública, na ocasião de publicação do Atlas. Em março deste ano, o questionamento ficou mais latente a partir da chegada da Covid-19. A pandemia que atingiu antes outros países trouxe, com a indicação da necessidade de isolamento social como prevenção, outros recados importantes sobre os efeitos colaterais socioeconômicos dessas medidas para as mulheres. Mesmo em lugares considerados mais seguros para viverem, a violência doméstica aumentou. Como na França, país que está entre os 15 melhores para mulheres viverem, os registros de violência cresceram 32%.

No Brasil, os números também foram alarmantes. Na primeira atualização de um relatório produzido a pedido do Banco Mundial, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) destaca que os casos de feminicídio cresceram 22,2%, entre março e abril deste ano, em 12 estados do país, comparativamente ao mesmo período do ano passado.

“Vista inicialmente como uma crise sanitária, a pandemia na realidade é uma crise humanitária”, afirma Juliana de Faria, diretora de impacto do Think Olga, que já em abril publicou um manifesto de alerta sobre os agravantes da desigualdade para mulheres em tempos de crise. “Nos baseamos no ebola para um report emergencial, no qual apontamos as possíveis sequelas imediatas se medidas específicas não fossem tomadas. Entre as quais aumento de estupro e prostituição infantil, gravidez indesejada, abandono dos estudos e entrada de jovens mulheres no mercado de trabalho informal.”

No contexto específico da Covid-19 no Brasil, os fatores que ampliaram a vulnerabilidade feminina foram, além do isolamento, aumento do consumo de drogas e álcool e do poder de controle dos parceiros, explica Valéria Scarance, promotora de Justiça que atua no Ministério Público de São Paulo. “Importante mencionar, contudo, que não são esses os fatores que convertem homens pacíficos em agressivos. Apenas potencializam um padrão de violência já existente”, destaca. Ela lembra ainda que, embora a violência tenha aumentado, os registros diminuíram em razão das dificuldades de acesso aos serviços de denúncias e à vigilância dos agressores.

 

Romper o silêncio, salvar vidas

Novamente, o Instituto Avon Marie Claire se unem para promover o Prêmio Viva, que há três edições homenageia aqueles que estão tentando mudar esses números e essa história. “Nesta edição, buscamos identificar as ações que mais impactaram de forma emergencial as tantas mulheres afetadas severamente por essa crise”, diz Laura Ancona, diretora de redação de Marie Claire. “Dando continuidade ao propósito de sempre, de ampliar vozes, romper as barreiras do silêncio e salvar vidas”, afirma.

Para Daniela Grelin, diretora-executiva do Instituto Avon, o Prêmio Viva 2020 carrega responsabilidade adicional ao observar o ciclo de vulnerabilidade para o qual muitas mulheres acabaram voltando como as principais atingidas também pelo desemprego. E, ao indicar quais iniciativas, para além do enfrentamento da violência no contexto da pandemia, nos ajudarão a emergir da crise. “Aperfeiçoamos nosso trabalho envolvendo mais parceiros em diferentes áreas de apoio à mulher, assegurando maior representatividade em todas as regiões do país. E, ainda que em um cenário difícil, tem sido animador detectar que soluções impactantes para o momento já estão em curso”, completa a executiva.

Nas edições anteriores, a premiação apresentou as histórias e ações de 24 finalistas, todos comprometidos de cabeça e coração com o enfrentamento da violência contra meninas e mulheres no Brasil. Em 2020, serão outros 24 escolhidos para concorrer nas categorias Sociedade Civil, Educação, Justiça e Segurança, Legislativo, Autonomia Econômica, Saúde, Eles por Elas e Revendedora Avon.

Neste ano, a missão se amplia ao olhar para ações emergenciais de defesa aos direitos das mulheres, as maiores vítimas de violência e privações econômicas na pandemia do novo coronavírus, e o evento ganha corpo na internet, em apresentação virtual e interativa. Siga nossas redes e site para acompanhar os próximos passos e conhecer de perto a história de cada um dos finalistas listados a seguir.

 

FINALISTAS 2020

Sociedade Civil
Laina Crisóstomo
Indira Xavier
Marciane Pereira dos Santos

Justiça e Segurança
Candida Cristina
Ana Rosa Campos
Maísa Felix Ribeiro de Araújo

Autonomia Econômica
Luciana Azambuja Roca
Maite Schneider
Elizandra Cerqueira e  Juliana da Costa Gomes

Eles por elas
Nadilson Portilho Gomes
Sergio Barbosa
José Miguel Nieto Olivar

Educação
Helena Silvestre
Virginia Rigot-Muller,
Daniela Orofino e Maira Baracho
Luzitânia de Jesus Silva

Legislativo
Maria do Rosário
Jandira Feghali
Sâmia Bomfim

Saúde
Winnie Santos
Bruna Menezes Gomes da Silva
Magna Barboza Damasceno

Revendedora Avon
Prescila Venâncio
Pricilia Vasques
Veronique Alves Ribeiro

Ilustração da matéria: Silvana Martins
Fonte: https://revistamarieclaire.globo.com/Premio-Viva/noticia/2020/10/premio-viva-2020-pela-vida-das-mulheres-sempre.html

A TamoJuntas informa prorrogação da divulgação de textos selecionado para Revista Eletrônica

Hoje (27), a Ong TamoJuntas informa a mudança no calendário do edital Nº 01/2020, prorrogando a da divulgação dos materiais selecionados para o dia 13 de outubro. O edital trata do lançamento da primeira edição da revista eletrônica “Revista TamoJuntas”, com tema “A Cultura do Estupro: violência sexual contra mulheres e meninas e contra população LGBTQIA+” .

A iniciativa contemplou apenas mulheres na escrita das suas experiências e/ou pesquisas ou divulgação das suas produções artísticas que educam, denunciam e expressam as inquietações sobre a temática da ‘Cultura do Estupro’. O projeto é um periódico semestral que reúne artigos, relatos de experiência, resenhas, crônicas, cordel, poesias e entrevistas de autoras brasileiras e estrangeira.

Abaixo segue anexo com reorientação do calendário oficial.

PRORROGAÇÃO DO PRAZO DE DIVULGAÇÃO DOS TEXTOS DO EDITAL N 01.2020“>VER ANEXO

OPAS notifica mais de 60 mil casos confirmados da COVID-19 entre gestantes nas Américas

Desde a notificação dos primeiros casos da COVID-19 nas Américas, 60,4 mil casos confirmados da doença foram notificados entre gestantes, incluindo 458 mortes – ou 1% em 14 países da região -, de acordo com uma nova atualização epidemiológica publicada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

Até 14 de setembro, o México registrou o maior número de óbitos (140 mortes entre 5.574 casos entre gestantes e puérperas), seguido pelo Brasil, com 135 mortes entre 2.256 gestantes que tiveram a COVID-19. Os Estados Unidos notificaram 44 mortes entre 20.798 gestantes, a Colômbia registrou 40 mortes entre 2.726 mulheres grávidas e o Peru teve 35 mortes entre 19.909 gestantes e no pós-parto. O Panamá registrou 8 mortes entre 525 grávidas, apresentando a maior proporção de mortalidade materna de 10,1 dos países que notificam esses dados.

A OPAS pediu aos países das Américas que intensificassem os esforços para garantir o acesso a serviços de atenção pré-natal para gestantes, observando que “os resultados e estudos publicados recentemente com base nos dados de vigilância da COVID-19 indicaram um risco aumentado de apresentar formas graves da doença entre mulheres grávidas e de hospitalização e internação em unidades de terapia intensiva”.

A atualização epidemiológica da OPAS observa que 2,6 milhões de casos a mais da COVID-19, incluindo 74,6 mil mortes, foram notificados na região das Américas, representando um aumento de 21% nos casos e 17% nas mortes desde 26 de agosto.

O maior aumento de casos foi observado na América Central, com aumento de 28% nos casos e de 22% nas mortes, seguida pela América do Sul, com aumento de 26% nos casos e 23% nas mortes. O Caribe e as Ilhas do Oceano Atlântico relataram um aumento de 24% nos casos e um aumento de 34% nas mortes, enquanto a América do Norte, que inclui os EUA, Canadá e México, apresentou um aumento de 16% nos casos e 12% nas mortes, informa o relatório.

Aumento de casos entre populações indígenas

Onze países notificaram 120,5 mil casos confirmados da COVID-19 entre populações indígenas, incluindo 2.639 óbitos desde a atualização epidemiológica anterior (26 de agosto). Observou-se um aumento relativo de casos e óbitos em todos os países com dados disponíveis, com a Colômbia representando o maior aumento de casos e Equador representando o maior aumento relativo de mortes entre populações indígenas, mostra o relatório. Dezesseis países também notificaram casos de síndrome inflamatória multissistêmica entre crianças e adolescentes, com 1.503 casos temporariamente relacionados à COVID-19, incluindo 43 mortes.

Fonte: ONU Brasil

Casos de feminicídio crescem na Bahia no primeiro semestre de 2020

O número de casos de feminicídio no estado aumentou no primeiro semestre de 2020 em comparação com os primeiros seis meses do ano passado. Os números do Monitor da Violência divulgados nesta terça-feira (15), mostram 57 casos este ano contra 48 em 2019.
Os números colocam a Bahia em terceiro lugar no ranking de estados com mais casos de feminicídio em 2020, ficando atrás apenas de São Paulo (88) e Minas Gerais (61).

Em abril a ferramenta já tinha divulgado que o estado tinha registrado a maior quantidade de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) nos dois primeiros meses de 2020.São considerados CVLI os homicídios, feminicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte.

Outros números divulgados pela ferramenta mostram que Bahia teve uma pequena redução en alguns desses delitos. Cairam os números de homicídios dolosos (incluindo os feminicídios), lesão corporal dolosa em decorrência de violência doméstica, estupro consumado e estupro de vulnerável consumado.
Nos primeiros seis meses de 2020, a Bahia registrou 4.738 casos de lesão corporal dolosa em decorrência de violência doméstica. No mesmo período, em, 2019 foram 5.312.

No caso do estupro consumado, a Bahia foi o 12° estado que mais registrou ocorrências entre janeiro e junho de 2020. Foram 201 casos, contra 274 mesmo periodo do ano anterior.

O Monitor da Violência é uma parceria do Portal G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Fonte: correio24hora

Mulheres negras são as principais vítimas de homicídios; já as brancas compõem quase metade dos casos de lesão corporal e estupro

Mais de um terço dos estados do país não divulga a raça das mulheres vítimas de violência. E, mesmo entre os que divulgam, os dados apresentam falhas, já que, em boa parte, o campo aparece como “não informada”.

Considerando apenas os dados disponibilizados de forma completa, os números apontam que cerca de 75% das mulheres assassinadas no primeiro semestre deste ano no Brasil são negras. O percentual diminui para quase 50%, no entanto, do total de vítimas de agressões cometidas por companheiros em casa e estupros.

Os dados, inéditos, fazem parte de um levantamento feito pelo G1 com base nos dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal.

O G1 solicitou as informações de raça de todas as mulheres que foram vítimas de homicídio doloso (incluindo feminicídio), lesão corporal em contexto de violência doméstica, estupro e estupro de vulnerável no primeiro semestre de 2020.

MAIS DADOS: Assassinatos de mulheres sobem no 1º semestre no Brasil, mas agressões e estupros caem; especialistas apontam subnotificação durante pandemia
ANÁLISE DO FBSP: As vidas das mulheres negras importam
ANÁLISE DO NEV: Os efeitos colaterais da pandemia sobre a vida das mulheres
METODOLOGIA: Monitor da Violência
O levantamento faz parte do Monitor da Violência, uma parceria do G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Os dados revelam que:

10 estados não divulgam os dados de forma completa (sete não apresentam nenhuma informação sobre raça e três têm apenas números parciais)
em mais da metade dos casos de quatro dos cinco crimes pesquisados não consta a raça (seja porque ela não foi divulgada, seja porque o campo aparece como ‘não informada’)
dos 889 homicídios com a raça informada, 650 (73%) foram cometidos contra mulheres negras
no caso dos feminicídios, as mulheres negras representam 60% do total (198 dos 333 crimes em que a raça está disponível)
já nos casos de lesão corporal, as negras compõem 51% das vítimas em que a raça é informada
o percentual das mulheres negras vítimas de estupro é de 52% (1.814 de 3.472 registros)
Por que ter dados de raça?
Segundo as especialistas consultadas pelo G1, é importante ter dados sobre as raças das vítimas de violência para entender como os crimes acontecem na prática entre os diferentes grupos populacionais e para pensar em políticas públicas para grupos mais ou menos vulneráveis.

“Desde 1996, nós temos o quesito de raça/cor nos documentos de saúde pública. A gente tem que poder cruzar isso com as outras variáveis, com as condições de vida que a mulher estava inserida quando houve a mortalidade para conseguir entender os contextos”, diz Jackeline Romio, pesquisadora da Universidade de São Paulo.

A socióloga e consultora Ana Paula Portella também afirma que entender os perfis raciais é essencial.

“O Brasil é um país de maioria negra, com 56% da população preta ou parda. E a gente tem um impacto imensamente desproporcional da violência, assim como a gente tem de outras vulnerabilidades, sobre essa população negra”, diz Portella.
“Então é essencial que, em qualquer análise que se faça, a gente procure verificar como o problema se apresenta para a população branca e para a população negra.”

Os contextos de violência entre mulheres brancas e negras é diferente, segundo as especialistas, por causa do racismo institucional e estrutural da sociedade.

“A gente termina formulando políticas pretensamente universais, que iriam atender a todas as mulheres, mas, na verdade, a gente termina atendendo só as mulheres brancas. Isso segue reforçando e reproduzindo a vulnerabilidade das mulheres negras, porque não há políticas específicas voltadas para as necessidades delas e seus riscos específicos”, diz Portella.

Por isso, a transparência e a divulgação destas informações raciais são tão importantes. “Se você não tem evidências, não comprova, não diagnostica e não pode exigir políticas de correção para essas barreiras”, diz Romio.

Isabela Sobral e Juliana Martins, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, concordam. “A ausência dessa informação sugere uma cegueira institucional por parte das secretarias de Segurança Pública. Se não conseguimos ver qual o problema, não conseguimos enfrentá-lo”, dizem. “Que políticas públicas são essas que protegem apenas parte das vidas que devem ser preservadas?”

Falta de padronização
As dificuldades, porém, não são poucas. Além da não divulgação dos dados, a falta de padronização chama a atenção. Há casos em que “albino” foi considerado uma raça, por exemplo, sendo que o albinismo é uma doença, e não uma categoria racial.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística trabalha com as seguintes opções: branca, preta, parda, indígena ou amarela.

A maioria dos estados que não divulgaram os dados afirma que, ou os dados não são preenchidos nos boletins de ocorrência, ou os sistemas que coletam as informações consolidados não têm parâmetros para selecionar os dados específicos de raça.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, por exemplo, afirma que, para chegar às informações de raça, “é necessário checar os dados brutos de boletins de ocorrências”. Segundo a pasta, porém, a base “apresenta duplicatas e campos em branco e, mesmo eliminados esses problemas, os números são diferentes dos dados consolidados pela SSP”.

Já o Ceará diz que o campo de raça não é preenchido para alguns crimes “em razão da subjetividade da informação, o que gera uma inconsistência nos dados, impossibilitando a geração de uma estatística fiel ao cenário”.

Vale destacar que as falhas de preenchimento e a falta de transparência não acontecem apenas para os casos de crimes cometidos contra mulheres. Um levantamento do Monitor da Violência sobre letalidade policial aponta que quase metade dos estados do país também não divulga dados de raças das pessoas mortas por policiais.

Por isso, Romio defende a existência de políticas públicas que regulamentem o preenchimento dos campos de raça/cor no setor de segurança pública. “Precisa de vontade política de fazer as normas técnicas para que documentos sejam sistematizados de forma tão perfeita quanto para outras variáveis, como idade e sexo. Por exemplo, caso a pessoa não preencha o campo de raça, o formulário não pode avançar.”

Mulheres negras e subnotificação
Mesmo com falhas, os dados disponíveis de raça mostram um lado já conhecido dos indicadores de violência no país: a maior parte das mulheres mortas é negra.

Dos 889 casos de homicídios dolosos que apresentam, de fato, informações sobre raça, 650 (73%) envolvem mulheres pardas ou pretas. Segundo classificação do IBGE, juntos, pretos e pardos constituem os negros.

Esse percentual, porém, cai bastante nos casos dos crimes não letais coletados pelo G1. Em cerca de metade dos registros de lesão corporal em decorrência de violência doméstica, estupro e estupro de vulnerável as vítimas são mulheres negras.

Segundo a pesquisadora Jackeline Romio, isso não significa que há, de fato, menos mulheres negras sendo agredidas ou estupradas, mas que as mulheres negras estão denunciando menos que as brancas.

“A gente deve levar em consideração que o dado de mortalidade é o mais robusto de todos. Ele é a ponta do iceberg, pois, até chegar na morte, outros fatos violentos aconteceram antes”, diz Romio. “Então, se o dado da morte aponta mais mulher negra, a gente desconfia do subregistro dos outros crimes, que apontam menos. A mulher negra tem mais dificuldade em notificar.”
A pesquisadora lembra que o crime de homicídio tem o registro obrigatório e “duplo”, já que é contabilizado nas delegacias e nos sistemas de segurança pública através do boletim de ocorrência e nos hospitais e nos dados de saúde através do atestado de óbito.

Já os casos de agressões e estupros dependem das denúncias das próprias vítimas. Por isso, sofrem mais com os efeitos da subnotificação.

“As mulheres negras são mais pobres, moram em áreas mais precárias, mais distantes da rede de atendimento. Têm menos recursos financeiros para procurar ajuda, para conseguir um carro, um transporte, e têm redes de apoio menores”, diz Portella.
“Quando chegam a esses serviços, elas enfrentam um racismo institucional. Ou seja, nem sempre são ouvidas, nem sempre são respeitadas, nem sempre a sua queixa é levada a sério. Isso termina desestimulando essas mulheres a fazerem uma denúncia e procurar ajuda na rede institucional.”

Além disso, o atual contexto do país colabora com a falta de denúncias, segundo as especialistas.

“A gente está em um contexto de pandemia e fechamento parcial dos serviços públicos que resultam em uma barreira institucional para que a mulher consiga fazer essas queixas e denúncias. Tem a ver também com transporte, com o funcionamento das instituições e dos próprios fóruns e da Justiça”, afirma Romio.

“As instituições fecharam, mas as ocorrências continuam. Isso causa subnotificação e gera esse ‘delay’ entre o número oficial e a realidade vivida pelas mulheres”, diz Jackeline Romio, pesquisadora da USP.

Vidas negras importam
Vale lembrar que discussões sobre racismo e raça ganharam destaque neste ano em todo o mundo, capitaneadas principalmente pela onda de protestos que tomou os Estados Unidos após a morte do ex-segurança negro George Floyd por um policial em Minneapolis, em 25 de maio.

O americano morreu asfixiado após ter o pescoço prensado pelo joelho do policial Derek Chauvin por 8 minutos e 46 segundos. Um vídeo que mostra o momento da sua morte circulou pela internet, aumentando a visibilidade do caso e gerando indignação.

Nos dias seguintes, diversas cidades do país registraram protestos por conta da violência policial cometida contra a população negra.

Chauvin foi expulso da polícia e foi acusado de homicídio em segundo grau (assassinato intencional não premeditado, quando o autor tem intenção de causar danos corporais à vítima). Os protestos, porém, continuaram ganhando força, ampliando suas reivindicações para reformas dos sistemas de segurança e vigilância vigentes nas cidades americanas.

Assim como diversos outros países do mundo, o Brasil também registrou protestos antirracistas nos últimos meses, destacando não apenas o assassinato de Floyd, mas casos de violência policial cometidas no próprio país.

Um deles resultou na morte do adolescente João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, durante uma operação conjunta das polícias Federal e Civil no Complexo do Salgueiro, no Rio de Janeiro, em 18 de maio.

De acordo com relatos de parentes de João Pedro, a polícia invadiu a casa do adolescente e “saiu atirando”. Um dos presentes gritou que só havia crianças na residência, deitadas no chão e com as mãos para cima.

Outros casos também levantaram discussões sobre o racismo existente no Brasil nos últimos meses, como o do menino Miguel da Silva, de 5 anos. A criança morreu ao cair do 9º andar de um edifício de luxo no Recife, após a mãe, que trabalhava como empregada no local, descer para passear com o cachorro da família e deixar o menino aos cuidados da patroa, Sari Côrte Real.

Em um dos protestos realizados para cobrar justiça pelo caso, manifestantes seguravam cartazes com frases como “vidas negras importam” e “cinco unhas valem mais do que cinco anos de um preto”.

A última frase é uma alusão ao fato de que Sari Real estava com uma manicure em seu apartamento quando deixou Miguel entrar no elevador para procurar a mãe.

Veja a situação dos estados que não têm os dados ou os dados são incompletos:
Acre: Segundo o governo, a ferramenta de Registro de Ocorrências da Rede SINESP (Sistema Nacional de Informação de Segurança Pública), utilizada pela Polícia Civil do Acre, não gera relatórios por raça/cor.

Alagoas: A Secretaria de Segurança Pública diz que só dispõe de dados estruturados de crimes violentos letais e intencionais (homicídio, feminicídio, lesão corporal seguida de morte, latrocínio, morte em decorrência de intervenção policial) e crimes violentos contra o patrimônio (roubos). “Para os demais tipos de crime, infelizmente, este setor não dispõe base de dados estruturada, o que impossibilita a produção de estatística, e consequentemente atender a demanda solicitada.”

Amazonas: O governo informa que os dados não estão disponíveis.

Ceará: A Secretaria da Segurança Pública diz que a estatística do critério de raça no Sistema de Informação Policial (SIP) é feita a partir de informações repassadas por parentes, para casos de crimes contra a vida. Em outros casos, há uma inconsistência nos dados, o que impossibilita a geração de uma estatística fiel ao cenário. Ainda assim, a pasta enviou dados de raça para homicídios e estupros, mas não informa as raças das vítimas de feminicídio e lesão corporal.

Maranhão: De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do estado, “os dados por raça/cor não são alimentados em nosso sistema de Boletins de Ocorrências”.

Pará: O governo afirma que “não foi possível a identificação de raça ou cor na base de dados pelo fato dos campos com tais informações não serem preenchidos no momento da confecção da ocorrência em suas devidas unidades de origem”.

Paraíba: O governo diz que “não é possível a desagregação por raça/cor em razão da impossibilidade na captação dessa informação”.

Rondônia: O governo diz que as informações necessárias para elaboração dos relatórios deste núcleo são extraídas diretamente do banco de dados dos sistemas que armazenam os registros de ocorrências e que, “ao registrar as ocorrências, os campos raça/cor não são preenchidos em sua totalidade, o que dificulta a contabilização desses dados”. “Essas solicitações de ocorrências separadas por raça e cor, tem sido rotineiras, e este núcleo fica impossibilitado de atender tais demandas. Face ao exposto, no momento este núcleo fica impossibilitado de responder a contento as informações solicitadas. Diante disso, estamos verificando com o responsável pelo sistema a possibilidade de tais campos raça/cor se tornarem campos de preenchimento obrigatório.”

Roraima: Em nota, o governo diz que “não tem a mensuração de mulheres vítimas de lesão corporal dolosa em decorrência de violência doméstica em Roraima por raça ou cor pelo fato de o boletim não fazer essa diferenciação”.

São Paulo: Os dados consolidados não mostram os números desagregados por raça/cor. Para verificar a raça/cor, é necessário checar os dados brutos de boletins de ocorrências, mas essa base apresenta duplicatas e campos em branco e, mesmo eliminados esses problemas, os números são diferentes dos dados consolidados pela SSP.

Fonte: https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2020/09/16/mulheres-negras-sao-as-principais-vitimas-de-homicidios-ja-as-brancas-compoem-quase-metade-dos-casos-de-lesao-corporal-e-estupro.ghtml

Na mesma profissão, homem branco chega a ganhar mais que o dobro que mulher negra, diz estudo

O diploma de ensino superior ainda não é capaz de garantir uma inserção justa das mulheres negras no mercado de trabalho do Brasil. Um levantamento realizado pelo Insper mostra que, a depender da profissão, um homem branco chega a ganhar mais que o dobro do que elas recebem para executar o mesmo trabalho.

O levantamento do Insper apurou o salário por raça e gênero no país e também fez o detalhamento para cinco profissões: engenheiros e arquiteturos, médicos, professores, administradores e cientistas sociais. Em todas, as mulheres negras recebem menos do que homens – tanto brancos como negros – e do que mulheres brancas.

O trabalho foi conduzido pelos pesquisadores do Insper Beatriz Ribeiro, Bruno Komatsu e Naercio Menezes Filho, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2016 e 2018.

Negros na liderança: debates sobre desigualdade racial crescem, mas falta de referências ainda é barreira para profissionais
Mulheres na Liderança: as barreiras que ainda prejudicam a ascensão feminina no mercado de trabalho
Um dos abismos mais evidentes apurado pela pesquisa foi observado na medicina. Entre os formados em universidade pública, as mulheres negras têm um salário médio de R$ 6.370,30, enquanto os homens brancos ganham R$ 15.055,84. No grupo de médicos que cursou medicina em instituições privadas, a remuneração é de R$ 3.723,49 e R$ 8.638,68, respectivamente.

Na área de ciências sociais, uma outra diferença gritante: um homem branco formado em universidade pública tem um salário de R$ 8.814,05. A mulher negra recebe R$ 4.141,69.

“Mesmo entre os que estão na mesma profissão, sempre há um diferencial alto de salário em função da cor ou do sexo, em que os homens brancos estão sempre ganhando mais”, diz o coordenador da Cátedra Ruth Cardoso no Insper, Naercio Menezes Filho. “Isso aponta para a existência de discriminação no mercado de trabalho.”

De forma geral, levando-se em conta todas as profissões, a pesquisa revela que o salário médio de uma mulher negra com diploma universitário de instituição pública é de R$ 3.047,51, enquanto as que cursaram universidades privadas têm uma remuneração média de R$ 2.902,55.

No topo da remuneração, os homens brancos formados em universidades públicas têm um salário médio de R$ 7.891,78, e os que possuem ensino superior privado alcançam um ganho médio de R$ 6.626,84. Portanto, uma diferença em relação às mulheres negras de 159% e 128%, respectivamente.

“A mulher negra, em todos os índices, seja na área de educação, trabalho, saúde, é sempre a base”, afirma a diretora executiva do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), Cida Bento. “E isso tem a ver com essa combinação, essa intersecção, de gênero e raça, que complica mais a situação. A discriminação que já incide sobre as mulheres de forma geral, incide mais fortemente sobre a mulher negra.”

‘Tive que demonstrar o que os outros não precisam’
Formada em administração de empresas, Viviane Moreira sempre conviveu com as diferenças salariais. Na área dela, por exemplo, o estudo do Insper mostra que homens brancos ganham quase o dobro das mulheres negras. Hoje, Viviane trabalha como gerente sênior de uma multinacional no setor de seguro saúde.

“Eu já trabalhei com pessoas não negras que executavam funções muitas vezes inferiores a minha e que recebiam um salário maior”, afirma Viviane. “Todos os dias tenho consciência de que sim, ser negra na posição que eu estou hoje não só representa um marco, mas o resultado de superação que eu tive que ter em demonstrar resultados que outras pessoas não precisam demonstrar pra chegar onde eu cheguei.”

Nascida na Vila Talarico, Zona Leste de São Paulo, Viviane diz que uma mulher negra vinda da sua região teria como destino mais provável “trabalhar no mercado da vila ou ser mãe solteira, com muita sorte talvez empregada doméstica.”

“Eu tive a sorte de ter uma educação de base de qualidade, eu era bolsista num colégio particular. E eu não tenho dúvida de que a educação me proporcionou uma segunda etapa de condição, que são as oportunidades na carreira profissional”, afirma.

Empreendedorismo por necessidade

Com salários tão baixos e a dificuldade de inserção no mercado de trabalho, muitas mulheres negras acabam partindo para o empreendedorismo pela necessidade de ter um aumento na renda.

“Muitas mulheres negras empreendem pela lógica da necessidade. E parte ainda tem um alto grau de escolaridade”, diz a fundadora da Feira Preta, Adriana Barbosa. “Até as mulheres negras com doutorado não conseguem entrar no mercado de trabalho formal e aí elas empreendem, na lógica do vender hoje para comer amanhã.”
Recessão gerada pela pandemia impacta mais mulheres e negros no mercado de trabalho
Numa análise mais ampla, a dificuldade do Brasil em absorver e dar oportunidade para mulheres negras qualificadas no mercado de trabalho tem um custo bastante elevado para o crescimento da economia brasileira. Nos Estados Unidos, por exemplo, de acordo com Naercio, a inserção de negros em atividades qualificadas ajuda a explicar boa parte do desempenho econômico dos últimos anos.

“A mesma coisa pode acontecer aqui no Brasil. É muito raro encontrar um médico, dentista ou advogado negro, tanto homem como mulher. Talentos estão sendo desperdiçados na sociedade brasileira”, diz Naercio. “É importante incorporar esses talentos para que a gente tenha um crescimento no futuro porque a produtividade brasileira está estagnada nos últimos 40 anos.”

Mudança da realidade

Entre os especialistas, há consenso de que uma mudança do quadro atual, da desigualdade do mercado de trabalho, só será alterada se negros e brancos tiverem as mesmas oportunidades desde a infância
“É preciso igualar as oportunidades na vida. Desde o nascimento, mulheres e homens negros têm que ter as mesmas oportunidades para realizar os seus sonhos do que mulheres e homens brancos”, diz Naercio.

Uma eventual igualdade de oportunidades, no entanto, só deve se traduzir num cenário melhor no longo prazo. No curto, os analistas apontam que as empresas têm de adotar políticas afirmativas que garantam igualdade entre brancos e negros e mulheres e homens.

“É preciso trazer uma reflexão para toda a empresa. Dentro das instituições, todos sabem que a discriminação é crime, mas o que faz uma pessoa entender que a mulher negra pode sempre ficar no mais baixo patamar de determinado cargo e o homem no mais alto”?, questiona Cida.

Fonte: https://g1.globo.com/economia/concursos-e-emprego/noticia/2020/09/15/na-mesma-profissao-homem-branco-chega-a-ganhar-mais-que-o-dobro-da-mulher-negra-diz-estudo.ghtml

Com creches fechadas na pandemia, participação de mulheres no mercado de trabalho é a menor desde 1990

A auxiliar administrativa Ana Beatriz Rodrigues, 32 anos, tinha acabado de completar quatro anos em um escritório advocatício paulista em maio quando teve de pedir demissão para cuidar da filha Isabella, de 11 meses. Ela faz parte de um grupo de milhares de mães brasileiras que precisam trabalhar, mas não têm com quem deixar os filhos por conta do fechamento de creches e escolas infantis pela pandemia do novo coronavírus.

“Meu chefe queria que eu trabalhasse das 9h30 às 18h30 porque queria me ver no escritório. Sugeri trabalhar quatro horas por dia presencialmente e o restante em casa para poder deixar minha filha com a minha mãe, mas ele não aceitou”, disse ela, que é diabética e hipertensa.

Sem o salário de R$ 1.200, Ana Beatriz vai investir o seguro-desemprego em cursos de tranças para cabelo e papelaria personalizada para trabalhar como autônoma. “Com as creches fechadas, não adianta eu procurar emprego. Ninguém vai entender que eu tenho que cuidar da minha filha. Só vou colocar a Isabella de volta na creche quando tiver a vacina”, contou ela ao G1.

A pesquisa “Mercado de Trabalho e Pandemia da Covid-19: Ampliação de Desigualdades já Existentes?” realizada em julho pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e atualizada a pedido do G1 aponta que a taxa de participação de mulheres com filhos de até 10 anos no mercado de trabalho caiu de 58,3% no segundo trimestre de 2019 para 50,6% no mesmo período deste ano.

A participação média de mulheres no mercado de trabalho, por sua vez, ficou em 46,3% entre abril e junho de 2020. Essa taxa representa o percentual de mulheres que estão trabalhando ou procurando emprego, dividido pela participação total de profissionais no mercado com 14 anos ou mais.

“Foi um salto para trás na história do mercado de trabalho. O último resultado abaixo de 50% foi registrado em 1990”, calculou Marcos Hecksher, pesquisador do instituto.
Com uma força produtiva menor, o especialista afirma que a capacidade produtiva do país também deve cair. “É uma situação inédita. Muitas dessas mulheres terão dificuldade para voltar ao mercado de trabalho porque o cenário será geração de postos mais lenta do que busca por vagas”, analisou.

A taxa de desemprego divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (28) corrobora a afirmação de Hecksher. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, o percentual de desemprego registrado no segundo trimestre deste ano foi de 12% para os homens e de 14,9% para as mulheres.

Novos arranjos familiares
Na avaliação de Cristina Vieceli, técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), os arranjos familiares mudaram muito ao longo dos anos, o que externalizou os problemas decorrentes da dupla jornada da mulher — que trabalha e cuida sozinha da casa.

“Muitas delas são chefes de família, não têm marido e, tampouco, ajuda para criar os filhos. O risco é que, pela necessidade, elas acabem deixando as crianças sob perigo”, analisou a técnica.
Em meio a uma pandemia, Cristina acredita que a responsabilidade com os profissionais e seus filhos seja tanto da iniciativa privada quanto do governo. “O Estado precisa criar uma política de escola infantil e de criação de empregos para as mulheres, enquanto as empresa devem ter um olhar mais humano em relação às famílias com filhos. As mães estão desistindo do trabalho formal”, afirmou.

Jornada reduzida
Sem poder levar o filho Heitor, de dois anos e meio, à creche, a doméstica Damiana Rodrigues da Silva, de 44, ficou dois meses sem trabalhar e, ao voltar, teve de reduzir sua jornada para conciliar os cuidados da criança com a agenda da babá, que cobra R$ 50 por dia.

“Quando a escolinha estava aberta, eu não precisava pagar. Ganho por volta de R$ 120 por dia e gasto quase metade para alguém para cuidar do meu filho”, disse ela, que trabalha registrada na casa de duas famílias.

Com a possível reabertura das escolas infantis e creches em setembro, Damiana afirma que não terá outra escolha a não ser levar Heitor de volta às aulas — mesmo sem a descoberta da vacina. “Vou ter medo da pandemia, mas colocarei ele de volta na escola. Meu marido é ajudante de pedreiro e também ficou parado por causa da pandemia. Damos graças a Deus quando conseguimos um bico.”

Fonte: https://g1.globo.com/

Bolsonaro ataca ONGs na Amazônia: “Não consigo matar esse câncer”

Criticado pela política ambiental de sua gestão, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chamou as Organizações não Governamentais (ONGs) que atuam na área de “câncer”. “Você sabe que as ONGs, em grande parte, não têm vez comigo. Eu boto para quebrar em cima desse pessoal lá, não consigo matar esse câncer, em grande parte, chamado ONG”, disse o presidente durante transmissão semanal nas redes sociais.

Na live, Bolsonaro ironizou os questionamentos sobre os aumentos recordes das queimadas na região da Amazônia e no Pantanal desde o ano passado.

“O pessoal acha que está pegando fogo não sei onde e é só chegar lá e apagar, com um abafador, dar uma cuspida em cima da fogueira”, disse. Ele também minimizou o monitoramento feito por satélite dos focos de incêndio e afirmou que até “fogueira de São João” é contabilizada.

O presidente reclamou que recebe “pancada o tempo todo” em cima do governo sobre a questão ambiental e disse que “canalhas” estão fazem campanha como se ele estivesse “colocando fogo na Amazônia”.
Bolsonaro também rejeitou a possibilidade de ampliar a demarcação de terras indígenas para chegar a 20% do território “Já imaginou? O país não aguenta. A gente acaba com o agronegócio nosso”, declarou sobre o assunto.

Ele voltou a dizer que quer desenvolver economicamente a Amazônia e repetiu que está disposto a receber capital externo para concretizar o plano, mas frisou que, enquanto for presidente, é ele quem vai decidir quais países iriam injetar recursos. “Nós estamos fazendo o possível para integrar a Amazônia, mas não é fácil”, afirmou.

Fonte: https://www.metropoles.com/

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