NOTA DE SOLIDARIEDADE À PREFEITA ELIANA GONZAGA DE CACHOEIRA

As entidades do movimento negro e do movimento social com histórica atuação na Bahia e no Brasil vêm manifestar seu repúdio e  extrema preocupação com as ameaças cotidianamente recebidas pela Prefeita Eliana Gonzaga eleita na cidade de Cachoeira- Bahia em 2020.
Eliana Gonzaga, primeira mulher negra eleita na cidade histórica de Cachoeira-Bahia, berço da resistência negra e da Independência do Brasil, desde o período da campanha eleitoral vem denunciando ataques racistas, machistas e ameaças de morte, tendo inclusive recebido ligações que simulavam um barulho de uma metralhadora atirando, numa nítida tentativa de intimidação. Recentemente, no último dia 14, em entrevista à rádio local, a Prefeita Eliana informou que continua sendo ameaçada de morte, desta vez em via pública. Segundo ela, no último domingo (11), homens à bordo de uma motocicleta tentaram intimidá-la em uma ação de drive-thru na cidade. Ao perceber a presença de policiais militares que notaram a atitude suspeita, os mesmos empreenderam fuga.
Consideramos um absurdo inaceitável que uma mulher negra democrática e legitimamente eleita, seja mais uma vez alvo da violência de grupos autoritários e violentos que não aceitam a vontade de povo expressa pelo voto. Repudiamos as ameaças de mortes, os ataques racistas e misóginos, conclamamos as autoridades competentes a apurarem e punirem os culpados. Não podemos permitir que o feminicídio político de mulheres negras que vitimou Marielle Franco se torne cotidiano no país.
À Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia, Ministério Público Estadual, Defensoria Pública, poder legislativo estadual e municipal, exigimos engajamento na preservação da vida da Prefeita Eliana, de sua Vice Cristina e em defesa do pleno exercício da vontade democrática do combativo povo cachoeirano expresso nas urnas em 2020.
À prefeita Eliana e ao povo de Cachoeira a nossa integral solidariedade e firme compromisso na defesa de sua vida e legítimo mandato.
Vidas Negras Importam!
Assinam esta nota:
*UNIÃO DE NEGRAS E NEGROS PELA IGUALDADE (UNEGRO)*
*Bloco Afro Ilê  Aiye*
*Instituto de Mulheres Negras Luiza Mahin*
*Rede Sapatá*
*Negritude de Sussuarana*
*Nova Frente Negra Brasileira*
*Movimento Negro Unificado*
*Bancada do Feijão*
*Revista Quilombo*
*Fórum Marielles*
*SPD Sociedade Protetora dos Desvalidos*
*Terreiro  Ilê  Axé Obá Nirê*
*Quilombo Serra da Barriguda*
*União Brasileira de Mulheres (UBM)*
*União dos Estudantes da Bahia (UEB)*
*UNALGBT União Nacional LGBT*
*Cajaverde Organização Ambiental Esportiva e Cultural*
*União da Juventude Socialista Bahia*
*Coletivo LesbiBahia*
*FABS Federação das Associações de Bairros de Salvador*
*Associação Mulheres e Amigos da Ar7e*
*Artivistas*
*Movimento Cultural ARTCULT*
*Conselho de moradores da Fazenda Grande 2 segunda etapa*
*Coletivo de Mulheres do Calafate/AMB Bahia*
*Libertas*
*O Coletivo de Autocuidado entre ativistas de Direitos  Humanos*
*Ong TamoJuntas*
*Movimento de Mulheres Camponesas*
*Marcha Mundial de Mulheres*
*RENFA*
*Secretaria Estadual de Mulheres do PT*
*ACJM – BAHIA*
*CEBRAPAZ – BAHIA*
*Ong Reconvexo, Direitos Humanos, Cidadania e Cultura – Santo Amaro*
*FITMETAL BRASIL – Federação Interestadual dos Trabalhadores e Trabalhadoras Metalúrgicas*
*CTB-Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil*
*FETIM- Federação das Trabalhadoras e Trabalhadores Metalúrgicos e Mineiros da Bahia*
*Associação de Mulheres 8 de março- Cajazeiras*
*Grupo Amuleto*
*Coletivo Negra Oxum*
*Banquetaço /Ba*
*Rede Antirracista Quilombação*
*Convergência Negra da Bahia*
*Secretaria Estadual de Mulheres do PCdoB*
*Secretaria Estadual de Mulheres do PSOL*
*Mulheres de Axé do Brasil*
*Conselho Estadual de Saúde*
 *Movimento das SETE Mulheres de Salvador*
*Centro Cultural e Escola Bando Lero-Lero*
*Campanha Estadual Fora Bolsonaro*
*Frente Brasil Popular Bahia*
*Sindicato dos Feirantes*
*Setorial de Saúde do PT*
*Flemacon- Federação Latino Americana e Caribenha dos trabalhadores e trabalhadoras da construção, Madeira e Materiais de construção*
*Câmara de turismo da baia de todos Santos* *Observatório Baía de todos os Santos*
*Afoxé filhos de Maré*
*Marcha da Juventude Espírita da Bahia MAJEB*
*COORDENAÇÃO NACIONAL DE ENTIDADES NEGRAS CONEN*
*ASSOCIAÇÃO E SINDICATO DOS SOCIÓLOGOS DA BAHIA ASEB/SINSEB*
*CUXI COLETIVO NEGRO EVANGÉLICO*
*Rede de Mulheres Negras da Bahia*
*Afro-Gabinete de Articulação Institucional e Jurídica – AGANJU*
*INSTITUTO REPARAÇÃO*
*Comissão Ecumênica da Terra (Cediter)*
*Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)*
*Coletivo de familiares de vítimas do estado*
*Movimento Social de Mulheres Evangélicas do Brasil (MOSMEB)*
*Federação das Associações de Moradores da Bahia FAMEB*
EVANGÉLICAS PELA IGUALDADE DE GÊNERO ( EIG- BA)
NÚCLEO DE EVANGELICAS E EVANGELICOS DO PT( NEPT- BA)

A Invisibilidade Social da Mulher Negra

Por *Roseli de Oliveira Barbosa

No Julho das Pretas, mês em que se comemora o dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha é fundamental refletirmos a respeito das nossas lutas e resistência, enquanto mulher negra, frente às estruturas de poder que dificultam a nossa ascensão e ocupação dos espaços essenciais para a transformação social da nossa realidade.

Não podemos falar sobre os desafios contemporâneos enfrentados pelas mulheres negras, dissociados do processo de formação da sociedade brasileira,a qual se deu em um contexto de desumanização e exploração da população negra por meio da mão de obra escrava e mesmo após a suposta “libertação” a partir da assinatura da Lei Áurea, os nossos direitos seguiram sendo negados quando a nós não foi dada nenhuma possibilidade que permitisse construir uma realidade justa e igualitária a partir daquele momento.

A pirâmide social brasileira é em tese formada pelo homem branco, seguido da mulher branca, o homem negro e na base encontra-se a mulher negra. Ao observar essa realidade é perceptível que nós mulheres negras somos o grupo que mais sofre os impactos sociais ocasionados por uma estrutura de poder que é patriarcal, elitista, machista,misógina, racista e que atua na perspectiva de manter em curso as desigualdades sociais, de gênero e principalmente a desigualdade racial.

Ao longo da história as mulheres alcançaram através das suas lutas, importantes conquistas de direitos. Entretanto, vale lembrar que a abrangência desses direitos nem sempre englobaram todas as mulheres de forma unanime, sobretudo, em razão do marcador racial e de classe ainda presente na sociedade. O debate que envolve as demandas referentes às mulheres precisa ocorrer a partir de uma perspectiva interseccional que leve em consideração as especificidades peculiares de cada grupo de mulheres. Isso possibilita, por exemplo, que ao criar políticas públicas de atenção à mulher, sejam levadas em consideração as necessidades relacionadas às mulheres negras, que na maioria das vezes são diferentes das necessidades que envolvem as mulheres não negras.

No Brasil, ainda somos um grupo minoritário ocupando espaços na esfera política, se isso ocorre quem está discutindo as nossas pautas? Quais são os projetos que estão sendo criados a fim de atender as nossas necessidades? Alguém está falando por nós e certamente esse alguém não conhece as nossas dores porque nunca as sentiu. As mulheres negras precisam falar por si, precisamos ter espaços garantidos para romper o silenciamento a qual fomos submetidas historicamente, só assim poderemos relatar as nossas dores, expressar as nossas necessidades e exercer a nossa cidadania. Resistir ainda é a arma principal frente às estruturas promissoras das desigualdades e violações dos direitos das mulheres negras.


* Assistente Social

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