Por *Roseli de Oliveira Barbosa
No Julho das Pretas, mês em que se comemora o dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha é fundamental refletirmos a respeito das nossas lutas e resistência, enquanto mulher negra, frente às estruturas de poder que dificultam a nossa ascensão e ocupação dos espaços essenciais para a transformação social da nossa realidade.
Não podemos falar sobre os desafios contemporâneos enfrentados pelas mulheres negras, dissociados do processo de formação da sociedade brasileira,a qual se deu em um contexto de desumanização e exploração da população negra por meio da mão de obra escrava e mesmo após a suposta “libertação” a partir da assinatura da Lei Áurea, os nossos direitos seguiram sendo negados quando a nós não foi dada nenhuma possibilidade que permitisse construir uma realidade justa e igualitária a partir daquele momento.
A pirâmide social brasileira é em tese formada pelo homem branco, seguido da mulher branca, o homem negro e na base encontra-se a mulher negra. Ao observar essa realidade é perceptível que nós mulheres negras somos o grupo que mais sofre os impactos sociais ocasionados por uma estrutura de poder que é patriarcal, elitista, machista,misógina, racista e que atua na perspectiva de manter em curso as desigualdades sociais, de gênero e principalmente a desigualdade racial.
Ao longo da história as mulheres alcançaram através das suas lutas, importantes conquistas de direitos. Entretanto, vale lembrar que a abrangência desses direitos nem sempre englobaram todas as mulheres de forma unanime, sobretudo, em razão do marcador racial e de classe ainda presente na sociedade. O debate que envolve as demandas referentes às mulheres precisa ocorrer a partir de uma perspectiva interseccional que leve em consideração as especificidades peculiares de cada grupo de mulheres. Isso possibilita, por exemplo, que ao criar políticas públicas de atenção à mulher, sejam levadas em consideração as necessidades relacionadas às mulheres negras, que na maioria das vezes são diferentes das necessidades que envolvem as mulheres não negras.
No Brasil, ainda somos um grupo minoritário ocupando espaços na esfera política, se isso ocorre quem está discutindo as nossas pautas? Quais são os projetos que estão sendo criados a fim de atender as nossas necessidades? Alguém está falando por nós e certamente esse alguém não conhece as nossas dores porque nunca as sentiu. As mulheres negras precisam falar por si, precisamos ter espaços garantidos para romper o silenciamento a qual fomos submetidas historicamente, só assim poderemos relatar as nossas dores, expressar as nossas necessidades e exercer a nossa cidadania. Resistir ainda é a arma principal frente às estruturas promissoras das desigualdades e violações dos direitos das mulheres negras.
* Assistente Social